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quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

PARADOXOS DA CONDIÇÃO HUMANA

Monografia apresentada em 2010 na "UNI-CV" Universidade Pública de Cabo Verde, para a obtenção do grau de Licenciado em Filosofia para a docência

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

ANIQUILAMENTO


A ideia do nada.

A ideia do nada é um dos três termos de um esquema importante no pensamento de Blaise Pascal. Ele difere o nada pelas suas dimensões, sua irresistência e sua imobilidade o distinguem da matéria.

Segundo Pascal “a conversão verdadeira consiste em se aniquilar-se...”, ou seja, tornar-se um “nada”. O que é então, esse nada? A palavra “nada” tem muitos significados. É empregado para traduzir ex nihilo quando se fala da criação: “O homem foi criado do nada”. A palavra designa um termo da alternativa: ser ou não ser, existir ou não existir, o “nada” antes do nascimento, o “nada” que consiste na morte no pensamento dos ímpios: “só sei que ao sair deste mundo, caio para sempre no nada, ou nas mãos de um deus irritado”.

A ideia do “nada” também tem uma função de negação, “um nada de número”, “um nada de movimento”, “um nada de tempo”, “um nada de extensão”. O geômetra pensa o “nada” como uma espécie de passagem ao limite considerando os infinitamente pequenos, “... algum movimento, algum número, algum espaço, algum tempo que seja, disso há sempre um maior e um menor. Eles se sustêm entre o nada e o infinito, estando infinitamente distantes desses extremos.  

Em Do Espirito Geométrico, a ideia do nada pode ser representada pelo numero zero “... zero não é do mesmo gênero dos números, porque sendo multiplicado não pode ultrapassa-los...”; logo é um verdadeiro indivisível de número, como o indivisível é um verdadeiro zero de extensão. A palavra “nada” é convocada pelo problema da divisibilidade ao infinito e “o conhecimento do nada”, obtido pela passagem ao limite. “Por pequeno que seja o número... pode-se ainda conceber-lhe um menos, e sempre ao infinito, sem chegar ao zero”.

Em Física, a palavras “nada” foi ligada ao problema do vácuo. Pascal escreve que, não há nada tão contrário ao ser quanto o nada. É preciso chega ao conhecimento do nada, conhecer uma inteira privação de todos os tipos de qualidades e de efeitos.

Quando se trata da vida espiritual, a palavras “nada” em um contexto que significa valores que vão impor um dever de aniquilamento. Para saber o que as palavras “nada” e “aniquilamento” significam na linguagem da espiritualidade, o melhor é tomar como guia Bérulle, que explica que o homem é três vezes nada.

Primeiro, é nada como criatura tirada do nada e que lhe conserve a marca na dependência do Criador. O ser verdadeiro é aquele que existe por si, segundo, o ser é nada como pecador, o pecado que o separa do criador rejeitou-o ao nada; terceiro, o ser é nada como reparação, poie o que a graça dá se não o poder de aniquilar-se diante de deus, de tornar-se um nada nas mãos de Deus. Os dois primeiros casos designam condições: a de criatura e a de pecador. O terceiro faz intervir uma operação: há nada lá onde há aniquilamento, nesse caso, tudo está no verbo “aniquilar-se”.

Os dois primeiros nadas definidos por Bérulle, aparecem nos textos de Pascal. O primeiro nada é a finitude própria à natureza de ser criado. Ele sugere com o esquema entre-dois na sua versão antropológica no fim do opúsculo Do Espirito geométrico e desdobrado minunciosamente no fragmento sob o título “Desproporção do homem”. Para se conhecer, o homem deve começar por situar num mundo que é “uma esfera infinita cujo centro está em toda a parte, a circunferência em parte alguma”. Entre dois abismos do infinito e do nada estremecerá à vista dessas maravilhas...

Segundo a definição do homem entre-dois, Pascal define o homem como sendo: um nada em relação ao finito, e um tudo e relação ao nada, um meio entre o nada e o tudo... Nesse contexto a palavras “nada” tem dois sentidos. O sentido ex nihilo que afirma um “nada absoluto” e um “tudo em relação ao nada”, não havendo contradição nesse e noutro trecho quando Pascal afirma que “nós somos algo e não somos tudo”...

No vocabulário da espiritualidade, o homem é nada relativo,mas no interior de uma relação com o ser incriado. Se usássemos a definição de Descartes, diríamos: no primeiro caso, o homem é nada em relação ao universo indefinido e, no segundo, o é em relação a Deus infinito.

GOUHIER, Henri – Blaise Pascal – “Conversão e apologética”.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

PASCAL " O homem está dividido dentro de si mesmo"


Diz o Eclesiastes que "o coração dos homens está cheio de maldade e de loucura durante toda a vida" (Ec 9.3). Pascal sabia muito bem disso! Quem não se conhece cheio de soberba, de ambição, de concupiscência, de fraqueza e de injustiça é bastante cego. Precisamos baixar os olhos para a terra para nos vermos como míseros vermes, e olhar para as feras das quais somos companheiros.

Hoje o homem se tornou semelhante aos animais, num tal afastamento de Deus que apenas lhe resta uma luz confusa de seu Criador. A encarnação de Jesus mostra ao homem a grandeza de sua miséria pela grandeza do remédio que ele precisa.

Existe uma guerra interior no homem, entre a razão e as paixões. Sem a razão haveria só paixão. Mas existem uma e outra e elas não podem existir sem guerra. O homem está dividido dentro de si mesmo.

Os inimigos dos homens não são as drogas, o álcool, mas as suas paixões. Poucos falam humildemente sobre humildade. Somos mentirosos, temos duas caras e vivemos sob disfarces na tentativa de ocultar dos outros o que realmente somos.

Como o coração do homem é oco e cheio de baixeza! Se o homem se eleva, eu o rebaixo; se ele se abaixa, eu o levanto e o contradigo sempre até que ele se compenetre de que é um monstro incompreensível. Sem a graça de Deus o homem não é senão um sujeito cheio de erros inapagáveis.

Nós não somos senão mentiras, duplicidades, contrariedades. Nós nos escondemos e nos destruímos a nós mesmos. Somos tão presunçosos que gostaríamos de ser conhecidos em toda a Terra e também daqueles que virão quando não estivermos mais aqui. Somos tão vaidosos que a estima que nos rodeia nos ilude e nos deixa contentes.

Nascemos injustos e depravados. Estamos cheios de concupiscências; portanto, cheios de mal. Assim, deveríamos odiar a nós mesmos e a tudo o que nos excita a outro vínculo que não seja somente Deus.
Perdemo-nos nos vícios e não vemos mais a virtude.

http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/330/pascal-o-homem-esta-dividido-dentro-de-si-mesmo

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

A IMPORTÂNCIA DO ACREDITAR




A perda da Fé é uma das coisas mais comum hoje em dia. E quando digo perda de Fé não falo apenas de deixar de acreditar em Deus, mas em deixar de acreditar, seja no que for. Desde acreditar que um amigo ou amiga vai cumprir o que promete, a acreditar que alguém vai conseguir sobreviver a uma doença.

A sociedade de hoje é cética em relação a tudo (hoje em dia também existe mais mentira). Vivemos no mundo da tecnologia e da ciência. "A razão explica tudo...", de maneira que ter Fé é lago que considerado pelas pessoas do nosso tempo é digno de um analfabeto.

Enquanto muitos abandonam o cristianismo, perdem a fé, o matemático, filosofo e teólogo Blaise Pascal, fez o caminho inverso e tornou-se um dos pensadores da modernidade mais apaixonados pelo cristianismo.

O cristianismo esteve muitas vezes na iminência de ser destruído. Em todas as vezes que corria esse perigo, Deus o levantava com o seu poder e com a ajuda e a militância dos que acreditam e buscam na fé um refúgio seguro, para todos os seus males e para todos os males da humanidade em crescente desmoronamento, pela perda de valores e da fé em Deus.

O cristianismo ordena ao homem que reconheça o quanto é vil e abominável e, ao mesmo tempo, gera nele o desejo de ser semelhante a Deus. Salvo o cristianismo, nenhuma religião ensina que o homem nasce em pecado. Nenhuma escola filosófica o afirma. Nenhuma, pois, diz a verdade.

O cristianismo consiste propriamente no mistério do Redentor, que reuniu em si as duas naturezas, a divina e a humana, e tirou os homens da corrupção dos pecados para reconciliá-los com Deus em sua pessoa divina.

Com a perda da Fé, ou melhor, do ato de não acreditar, vem a perda da esperança. E isto de perder a esperança não é algo que se deva encarar com animo leve, pois ela é o motor de muitas das nossas decisões.

A antiga expressão “a esperança é ultima a morrer." está a entrar em desuso. Num mundo em que cada vez existem mais cépticos tudo o que não tem provas deixa de ser plausível, dando origem à falta de valores.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

DESCARTES E PASCAL

Dois racionalistas, duas vertentes diferentes.

Frans Hals - Portret van René Descartes.jpg
Descartes é um filósofo de grande importância na formação do pensamento Moderno e na formação da própria Ciência Moderna. Começa por duvidar de tudo, dos sentidos, que são enganadores, formulando o racionalismo. 
O método proposto, consistia da filtragem de todas as suas ideias, eliminando aquelas que não se afigurassem como verdadeiras e fossem dúbias, e apenas retendo as ideias que não suscitavam qualquer tipo de dúvida.

Segundo Descartes, devemos duvidar de tudo,  e por duvidar de tudo (Dúvida metódica), instrumento metodológico para chegar à verdades absolutas,  acaba por formular o princípio “Cogito, ergo sum” Porque duvidando de tudo acaba por não poder duvidar de que estava duvidando e estando duvidando ele sabia que estava pensando e assim formula o famoso “Penso, logo existo.” Para Descartes, essa seria uma verdade absolutamente firme, certa e segura, que, por isso mesmo, deveria ser adotada como princípio básico de toda sua filosofia. Era sua base, seu novo centro, seu ponto fixo.

Descartes, desenvolve todo um método dividido em quatro passos: intuição, análise, síntese e enumeração completa. Primeira regra é a evidência: “só aceitar aquilo que aparecer como evidente e tão somente aquilo que é evidente”. A segunda é a regra da análise: "dividir cada uma das dificuldades em tantas parcelas quantas forem possíveis". Na prática da nossa vida esta regra pode ser também observada ao analisar os elementos de uma determinada situação a ser resolvida. A terceira é a regra da síntese: "concluir por ordem meus pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer para, aos poucos, ascender, como que por meio de degraus, aos mais complexos". Sempre partindo do mais fácil para o mais difícil para poder numa ordem poder ir indo progressivamente em direção a uma realidade mais complexa. A última é a dos "desmembramentos tão complexos... a ponto de estar certo de nada ter omitido". Ou seja, revisar todos os elementos para não restar nenhuma dúvida.

Já Blaise Pascal é um filósofo da modernidade que procurou estabelecer uma defesa da existência de Deus argumentando na aposta. Não podemos provar se Deus existe, mas mesmo assim devemos apostar na sua existência.

Pascal diz que nada perderemos se apostar na existência de Deus, se Ele existir teremos ganhado tudo; caso não exista teremos vivido bem. Pascal também é o filósofo que afirma que “o coração tem razões que a própria razão desconhece”, desse modo podemos afirmar a importância não apenas da racionalidade, mas também da dimensão da educação na dimensão afetiva.

Portanto, se para Descartes o pensamento surge como fundamento da própria existência humana em Pascal é feita uma crítica ao pensamento cartesiano tido como “geométrico”. Pascal propõe o espírito de finura, defendendo a dimensão afetiva do ser humano. Quando olhamos a atualidade e a prática da vida podemos nos perguntar se nas nossas decisões seguimos o coração ou a razão? Ou se dois são contraditórios, sendo contraditórios eles serão ou não complementares? O coração símbolo das nossas emoções deve ser tomado em consideração ou devemos ser frios nas nossas decisões?

Parece-nos oportuno integrar o coração e a razão a fim de estarmos realizando a nossa vida de maneira efetiva para nos realizarmos como pessoas humanas.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

A MISÉRIA DO DIVERTIMENTO



Se o homem fosse feliz, sê-lo-ia tanto mais quanto menos divertido, como os Santos e Deus. - Sim; mas não sendo feliz pode animar-se pelo divertimento? - Não; porque vem doutro sítio e de fora; e assim é dependente e, portanto, sujeito a ser perturbado por mil acidentes que tornam as aflições inevitáveis. 
(...) A única coisa que nos consola das nossas misérias é o divertimento, e contudo é a maior das nossas misérias. Porque é isto que nos impede principalmente de pensar em nós, e que nos faz perder insensivelmente. Sem isso, estaríamos no tédio, e este tédio levava-nos a procurar um meio mais sólido de sair dele. Mas o divertimento distrai-nos e faz-nos chegar insensivelmente à morte. 
Blaise Pascal, in "Pensamentos"

terça-feira, 23 de outubro de 2012

PASCAL E KIERKEGAARD


Dois filósofos bastante curiosos são Pascal e Kierkegaard, o primeiro viveu no século XVII e o segundo viveu no século XIX. Ambos eram religiosos e mesclaram em suas obras razão e fé.

Embora tenham vivido em épocas diferentes há traços bem semelhantes entre os dois. Pascal, inicialmente como físico e matemático estava acostumado a olhar o mundo sob as lentes da razão, no entanto, em algum momento viu que a razão não dava conta da complexidade da vida e do mundo. Assim, a razão em Pascal perde seu posto de supremacia e este passa a estudar teologia, vendo na fé o elemento para o homem “sentir” o mundo e a vida. Nesse sentido, Pascal sacrifica a Matemática e a Física em nome de Deus.

Já Kierkegaard, considerado o “pai do Existencialismo”, admite a razão, no entanto, para o filósofo o mundo só é conhecido ao sujeito, isto é, o mundo é subjetivo – daí sua frase “Sinto, logo sou”, que carrega ainda uma certa ironia ao cartesianismo. Assim, dois sujeitos vêem a vida e o mundo de diferentes pontos de vista e nenhum dos dois têm “razão” para dizer que o mundo do outro é “errado”, pois este só se revela à subjetividade. Kierkegaard, assim como Pascal, também vê a razão como incapaz de dar conta de explicar o mundo e a vida, para ele o homem existente era um ser de angústia, e que esta era um “sinal” de que sua identidade só se completaria se obtivesse uma ligação com o transcendente: Deus.

Vale citar que tanto Pascal como Kierkegaard não negam a razão, reconhecem sua importância para o homem, no entanto , vão ao contra aquele sentido socrático – e depois ganha força com o Iluminismo – que a racionalidade  assume como elemento supremo e infalível para o homem desvendar o mundo e sua existência. Essa razão coloca os instintos e o “sentir” do homem como falhos e incapazes de revelar a “verdade”, de tal forma que o homem, assim mutilado, vive em função de sua própria criação – o mundo racional -, tornando-se prisioneiro de si mesmo.

Tanto Pascal como Kierkegaard reconheciam a existência de Deus e Jesus Cristo, no entanto, nenhum dos dois era adepto de uma religião sistematizada em uma instituição. Pelo contrário, ambos faziam fortes críticas à religião enquanto instituição, na medida em que o viam como sistemas onde a razão e a hipocrisia dominavam deturpando os verdadeiros valores de Cristo. Nesse sentido, para ambos, a religião era antes uma questão de relação de fé pessoal com Deus.

domingo, 21 de outubro de 2012

Blaise Pascal e Friedrich Nietzsche



A figura de Blaise Pascal (1623-1662), matemático, filósofo moralista e teólogo francês, importante representante moderno do cristianismo, sempre provocou em Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844-1900), influente filósofo alemão do século XIX, uma dupla reação. Abundam na obra de Nietzsche referências respeitosas ao “gênio” de Pascal enquanto filósofo, porém, Nietzsche não hesita em criticar Pascal, quando o assunto gira em torno da moral e da religião cristã.

Pascal viveu numa época em que a fé cristã tinha como pano de fundo o racionalismo e o ceticismo, o que representava para Nietzsche o expoente religioso da negação metafísica do mundo.  Na obra Aurora (1881), Nietzsche critica explicitamente a moral cristã, e Pascal aparece como um exemplo mórbido de como um intelecto brilhante se deixou seduzir pela visão cristã do mundo. Tal lamento nietzschiano encontra a sua expressão mais clara na passagem de Além do Bem e do Mal (1886), em que descreve a “fé de Pascal” como um “contínuo suicídio da razão” e um “sacrifício do intelecto”.

Paradoxalmente, em Ecce Homo (1888), Nietzsche reúne na mesma afirmação admiração e crítica, ao declarar “amar” Pascal como “a mais instrutiva vítima do cristianismo, lentamente assassinado”. Como se vê, Pascal é encarado por Nietzsche de uma forma ambivalente.

Tanto Pascal quanto Nietzsche são mestres da expressão concentrada e fragmentária. Pascal o declara na célebre passagem dos Pensées, 373 intitulada Pirronismo: “Escreverei aqui meus pensamentos sem ordem, não em uma confusão sem objetivo: esta é a verdadeira ordem...” Nietzsche, é o grande mestre alemão do aforismo. Ambos  possuem em comum várias posições filosóficas, como:
1) o combate ao otimismo superficial e ao racionalismo de sua época.
2) uma certa concepção – diferente mas às vezes coincidente – do ceticismo.
3) a eleição do “perspectivismo” como forma necessária do conhecimento humano
e da formação de valores.

Pascal e Nietzsche compartilham uma insatisfação essencial com relação à condição humana atual. Porém, ambos buscam um ideal de perfeição superior à existência meramente biológica. Então o cristianismo trágico de Pascal e a filosofia trágica e anticristã de Nietzsche mantêm algo mais do que uma mera relação de exclusão recíproca.

É interessante observar que, tanto um com outro ganham importância, para a filosofia moderna e contemporânea, quando confrontados com a questão da moderna da crise religiosa: o “pessimismo” do “eu odioso” pascaliano e a “crítica” do “niilismo” em Nietzsche se encontram na visão de um homem “estranho a si mesmo” presente nas interrogações contemporâneas sobre a essência do homem.

Estudar Pascal e Nietzsche é muito mais do que apresentar um conflito entre ateísmo e cristianismo, é talvez, tentar mostrar que o ateísmo de Nietzsche pode incluir uma relação ambivalente com aquele que foi criticado por Voltaire.

A partir do artigo de  José Thomaz Brum  professor do Curso de Especialização em História da Arte da  (PUC-RIO).  http://www.fflch.usp.br/df/gen/pdf/cn_08_02.pdf


sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Fé e Razão (fragmentos)


“A fé e a razão são como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade (…)” (João Paulo II).

A última tentativa da razão [é descobrir] que há uma infinidade de coisas que a ultrapassam. Revelar-se-á fraca se não reconhecer isto. É preciso saber duvidar aonde é preciso, afirmar aonde é preciso. Quem não faz assim não entende a força da razão (PASCAL, 1999, p. 55).

(…) Humilha-vos, razão impotente, calai-vos, natureza imbecil; aprendei que o homem ultrapassa infinitamente o homem, e ouvi do senhor a vossa condição verdadeira, que ignorais. Escutai a Deus (PASCAL, 1999, p.60).

O último passo da razão é reconhecer a existência de uma infinidade de coisas que a ultrapassam. (Blaise Pascal)


O poder dos reis funda-se na razão e na loucura do povo; muito mais, porém, na loucura. (Blaise Pascal)

"O temor saudável provem da fé - o temor errôneo provem da dúvida."

(Blaise Pascal)

domingo, 2 de setembro de 2012

O HOMEM INSUFICIENTE

"Nenhum raciocínio no mundo conseguiria provocar a verdadeira tristeza - aquela da alma - ou vencê-la, uma vez que ela tenha entrado em nós, Deus sabe por qual brecha do ser. O que dizer? Ela não entrou, ela estava em nós. Cada vez mais eu creio que isso a que nós chamamos tristeza, angústia, desespero, como para nos persuadir de que se trata de certos movimentos da alma, é esta a alma mesma, que, desde a queda, a condição do homem é tal que ele não seria capaz de perceber mais nada nele nem fora dele senão sob a forma de angústia. Não fosse pela vigilante piedade de Deus, parece-me que, à primeira consciência que tivesse de si mesmo, o homem se desmancharia em poeira."

Fragmento retirado da pré-intrudução do livro O Homem Insuficiente, de Luiz Felipe Pondé.

domingo, 29 de julho de 2012

BLAISE PASCAL - O FILME



SINOPSE RAROS: Blaise Pascal foi um pensador francês do Século XVII que contribuiu bastante com a ciência de sua época. Fez a primeira máquina de calcular mecânica (La Pascaline) e ajudou a criar a Teoria das Probabilidades. Seu famoso Teorema de Pascal foi criado quando tinha 16 anos. Sua educação esteve inicialmente aos cuidados de seu pai, o matemático Etienne Pascal; mais tarde teve algumas controvérsias com aristotélicos tradicionais e escreveu muitas obras de teor religioso, durante um período (+ ou - 1650) que se recolheu aos estudos. Este filme de Robero Rossellini faz parte da série de filmes sobre grandes filósofos feitos pelo italiano na década de 1970 (Sócrates , Santo Agostinho  e Descartes ) e acompanha a vida de Pascal dos seus 17 anos até a sua morte.  Imperdível!

quarta-feira, 27 de junho de 2012

A CONDIÇÃO DO HOMEM

(...) A condião do homem, é ser um meio entre o infinitamente pequeno e o infinitamente grande e um meio entre a grandeza e a miséria. Está situado entre dois extremos que ele não pode ver a si próprio, é um meio entre a miséria dos animais e a grandeza dos anjos.
A tomada da consciência da instabilidade do homem e da insuficiência de seus conhecimentos não leva a decretar como vãos os esforços despendidos para melhorá-lo. (...)
                                                                                                                    Pascal

quarta-feira, 2 de maio de 2012

PASCAL E A LIBERDADE INTERIOR


O Filósofo francês Blaise Pascal diz que, independentemente de quem somos ou possuímos, todos temos uma "Guerra Interior" entre nossos defeitos e virtudes. Por isso, é preciso compreender antes de tudo, que sempre é tempo de recomeçar, e que pontos positivos e negativos são constituintes de nosso ser e devem ser encarados em parte como obstáculos a serem vencidos. Afinal de contas, "errar é humano" e acertar também é...

Pascal chega a dizer que “o pensamento faz a grandeza do homem” e que “ toda a dignidade do homem está no pensamento". E realmente o pensamento nos faz realmente "grandes", ou seja, melhores. O interessante é que esta melhoria deve estar sempre em constante aperfeiçoamento. Daí é que é preciso nos elevarmos...

O bem pensar e o reto agir são formas de se sobressair diante da multidão que se acomoda e acha obviamente natural que as coisas são como elas são. O desafio está em nadar contra esta correnteza para ser diferente. A diversidade de pensamento é o que torna uma sociedade mais justa e melhor para se viver.

Na contemporaneidade existe uma tendência de sufocamento dos nossos defeitos. Percebemos isso nas empresas, no desporto, no dia-a-dia etc. Esse abafamento está sempre camuflado com a suposta "intenção" de superar-se a si próprio.

Segundo Pascal "reconhecer-se miserável é tornar-se sábio". Em primeiro lugar porque é um gesto de humildade, se notar limitado, imperfeito. E depois, a partir do momento que torno consciência das minhas "misérias", também sentimos impelidos à solidariedade aos outros e suas imperfeições.

Possuir defeitos não deve se vista como algo estritamente ruim, pelo contrário, é sinal de que algo precisa ainda ser mudado. É sinal de que a Criação ou a evolução ainda não terminou e precisa ainda se fazer melhor. Porém desta vez depende de nós. É de fato enchermo-nos de consciência de quem realmente somos e isto é ser sábio para Pascal.

Enfim, Pascal nos ensina o caminho para a liberdade interior. Conscientes de si mesmos e aceitando tudo o que em nós há de bom ou ruim e principalmente procurando "amadurecer" é que estaremos mais à vontade no meio social sem medo de errar e ser feliz. 

http://pt.wikipedia.org/wiki/Blaise_Pascal

segunda-feira, 30 de abril de 2012

MISÉRIA E CEGUEIRA DO HOMEM


Vendo a cegueira e a miséria do homem (e essas contrariedades espantosas que se descobrem em sua natureza), observando todo o universo mudo, e o homem sem luz, abandonado a si mesmo, e como que perdido neste recanto do universo, sem saber quem o pôs aqui, o que veio aqui fazer, o que se tornará ao morrer, incapaz de qualquer conhecimento, eu princípio a ter medo como um homem que tivesse sido levado dormindo para uma ilha deserta e medonha e que despertasse sem saber onde está e sem meios de escapar. E, sobre isso, admiro como não se entra em desespero por tão miserável estado. Vejo outras pessoas perto de mim com semelhante natureza: pergunto-lhes se são mais instruídas do que eu e me dizem que não: e, sobre isso, esses miseráveis perdidos, tendo olhado ao redor e visto alguns objetos agradáveis, a eles se entregaram e se ligaram. Quanto a mim, não pude entregar-me nem ligar-me e, considerando quanta aparência há de que existe outra coisa além do que vejo, tratei de descobrir se esse Deus não teria deixado algum sinal de si.

terça-feira, 24 de abril de 2012

A APOSTA DE BLAISE PASCAL


criada por Blaise Pascal, e apresentada no livro "Penseés", não é um argumento direto da existência de Deus. É um argumento que poderá ser considerado calculista, a favor de um comportamento humano de acordo com a existência de Deus, seguindo a "razão do coração". Este argumento tem mais ou menos o conteúdo que se segue:

Se você acredita em Deus e nas Escrituras e estiver certo, será beneficiado com a ida ao paraíso.
Se você acredita em Deus e nas Escrituras e estiver errado, não terá perdido nada.
Se você não acredita em Deus e nas Escrituras e estiver certo, não terá perdido nada.
Se você não acredita em Deus e nas Escrituras e estiver errado, você irá para o fogo eterno(...)

segunda-feira, 23 de abril de 2012

sábado, 10 de março de 2012

A BUSCA DA GLÓRIA



A maior baixeza do homem é a busca da glória, mas é também o mais seguro sinal da sua excelência; pois, por mais bens que possua na terra, por melhor saúde e comodidades que tenha, não está satisfeito se não for estimado pelos outros homens. Dá tal valor à razão do homem que, por mais regalias que tenha no mundo, se não estiver favoravelmente colocado na opinião dos homens, não estará contente. É esse o mais belo lugar do mundo; nada pode desviá-lo desse desejo, e é a qualidade mais indelével do coração do homem.
Blaise Pascal, in "Pensamentos"

domingo, 4 de março de 2012

O MEDO DA NOSSA CONDIÇÃO HUMANA



    Quando me ponho às vezes a considerar as diversas agitações dos homens, e os perigos e trabalhos a que eles se expõem, na corte, na guerra, donde nascem tantas querelas, paixões, cometimentos ousados e muitas vezes nocivos, etc., descubro que toda a miséria dos homens vem duma só coisa, que é não saberem permanecer em repouso, num quarto. Um homem que tenha o bastante para viver, se fosse capaz de ficar em sua casa com prazer não sairia para ir viajar por mar ou pôr cerco a uma praça-forte. Ninguém compraria tão caro um posto no exército se não achasse insuportável deixar-se estar quieto na cidade; e quem procura a convivência e a diversão dos jogos é porque é incapaz de ficar, em casa, com prazer. 

     Mas quando pensei melhor, e que, depois de ter encontrado a causa de todos os nossos males, quis descobrir a razão desta, achei que há um bem efectivo, que consiste na natural infelicidade da nossa condição frágil e mortal, e tão miserável que nada nos pode consolar quando nela pensamos a fundo. 
Blaise Pascal, in "Pensamentos"

sábado, 25 de fevereiro de 2012

REFLEXÕES PASCALINAS


Quanto mais inteligente um homem é mais originalidade encontra nos outros. Os medíocres acham toda a gente igual. (Blaise Pascal)

Duas coisas instruem o homem, qualquer que seja a sua natureza: o instinto e a experiência. (Blaise Pascal)

A maior fraqueza do homem é poder tão pouco por aqueles que ama. (Blaise Pascal)

A consciência é o melhor livro de moral e o que menos se consulta. (Blaise Pascal)

É o coração que sente Deus e não a razão. (Blaise Pascal)

Uma indiferença pacífica é a mais sábia das virtudes. (Blaise Pascal)


Leia mais: http://kifrases.blogspot.com/2010/08/frases-de-blaise-pascal.html#ixzz1nPJovJwb

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

O TEMPO NA VIDA DO HOMEM



Que cada qual examine os seus pensamentos, e os achará sempre ocupados com o passado e com o futuro. Quase não pensamos no presente; e, quando pensamos é apenas para tomar-lhe a luz a fim de iluminar o futuro. O presente não é nunca o nosso fim; o passado e o presente são os nossos meios; só o futuro é o nosso fim. Assim, nunca vivemos, mas esperamos viver, e, dispondo-nos sempre a ser felizes, é inevitável que nunca o sejamos.


Blaise Pascal

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

O MONSTRO INCOMPREENSÍVEL

É perigoso mostrar ao homem até que ponto se assemelha aos animais sem lhe mostrar a sua grandeza. Também é perigoso mostrar-lhe muito a grandeza sem a baixeza. É ainda mais perigoso deixá-lo ignorar uma e outra. Mas é muito vantajoso representar-lhe as duas. O homem não é anjo nem besta, e por desgraça quem quer ser anjo acaba por ser besta. Se se exalta, humilho-o; se ele se humilha, exalto-o: e contradigo-o sempre, até que ele compreenda que é um monstro incompreensível. 

Condeno igualmente os que tomam o partido de louvar o homem, e os que tomam de condená-lo, e os que tomam o de se divertir; e não posso aprovar senão aqueles que buscam gemendo. 

Blaise Pascal, in "Pensamentos"

sábado, 18 de fevereiro de 2012

O que é o homem na natureza?



Um nada em relação ao infinito, um tudo em relação ao nada, um ponto a meio entre nada e tudo.

A primeira coisa que se oferece ao homem ao contemplar-se a si próprio, é seu corpo, isto é, certa parcela de matéria que lhe é peculiar. Mas, para compreender o que ela representa a fixá-la dentro de seus justos limites, precisa compará-la a tudo o que se encontra acima ou abaixo dela. Não se atenha, pois, a olhar para os objetos que o cercam, simplesmente, mas contemple a natureza inteira na sua alta e plena majestosidade.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

SUBMISSÃO E USO DA RAZÃO


1.   A última tentativa da razão é reconhecer que há uma infinidade de coisas que a ultrapassam. Revelar-se-á fraca se não chegar a conhecer isso. É preciso saber duvidar onde é preciso, afirmar onde é preciso, e submeter-se onde é preciso. Quem não faz assim não entende a força da razão. Há os que pecam contra esses três princípios, ou afirmando tudo como demonstrativo, não precisando ser conhecido por demonstrações; ou duvidando de tudo, não precisando saber onde é necessário, submeter-se; ou submetendo-se a tudo, não precisando saber onde é necessário julgar.

2.   Se se submete tudo à razão, a nossa religião nada terá de misterioso nem de sobrenatural. Se se contrariam os princípios da razão, a nossa religião será absurda e ridícula. A razão, diz Santo Agostinho, nunca se submeteria, se não julgasse que há ocasiões em que deve submeter-se. É, pois, justo que se submeta quando julga que deve submeter-se.

3.   A piedade é diferente da superstição. Sustentar a piedade até à superstição é destruí-la. Os hereges nos acusam dessa submissão supersticiosa. É fazer aquilo de que nos acusam (exigir essa submissão nas coisas que não são matéria de submissão).

4.   Não há nada tão conforme à razão como a retratação da razão (nas coisas que são de fé e nada tão contrário à razão como a retratação da razão nas coisas, que não são de fé). Dois excessos: excluir a razão, só admitir a razão.

5.   Diz bem a fé o que não dizem os sentidos, mas não o contrário do que vêem estes. Ela está acima e não em oposição.

6.   Se eu tivesse visto um milagre, dizem eles, converter-me-ia. Como afirmam que fariam o que ignoram? Supõem que essa conversão consista numa adoração que se faz de Deus como um comércio e uma conversão tal como a imaginam. A conversão verdadeira consiste em aniquilar-se diante desse Ser universal que tantas vezes tem sido irritado e que pode perder-vos legitimamente a todo momento; em reconhecer que não se pode nada sem ele, e que nada se mereceu dele senão a perda de sua graça. Consiste em conhecer que há uma oposição invencível entre Deus e nós, e que, sem um mediador, não pode haver comércio.
7.   Não vos admireis de ver pessoas simples crer sem raciocínio. Deus lhes dá o amor a ele e o ódio a si mesmo. Inclina-lhes o coração a crer.

8.   Nunca se crerá com uma crença útil e de fé se Deus não inclina a isso o coração; crer-se-á desde que ele o incline. É o que bem conhecia Davi quando dizia: inclina cor meum, Deus, in testimonia tua(9) (Salmo CXIX, 36).

9.   Os que crêem sem ter lido os Testamentos é porque têm uma disposição interior tão santa que o que ouvem dizer da nossa religião lhe é conforme. Sentem que um Deus os fez. Só querem amar a Deus, só querem odiar a si mesmos. Sentem que não têm por si mesmos a força para isso, que são incapazes de ir a Deus e que, se Deus não vem a eles, não podem ter nenhuma comunicação com ele. E ouvem dizer, em nossa religião, que é preciso amar somente a Deus e odiar somente a si mesmo; mas, sendo todos corrompidos e incapazes de Deus, Deus se fez homem para unir-se a nós. Não é preciso mais para persuadir homens que têm essa disposição no coração e que têm esse conhecimento do seu dever e de sua incapacidade.

10.       Os que vemos tornarem-se cristãos sem o conhecimento das profecias e das provas não deixam de julgá-las tão bem quanto os que têm esse conhecimento. Julgam-nas pelo coração, como os outros as julgam pelo espírito. É o próprio Deus que os inclina a crer, e assim estão eles muito eficazmente persuadidos.

11.       Confesso que um desses cristãos que crêem sem provas não terá, talvez, com que convencer um infiel que lhe alegar tal coisa. Mas, os que conhecem as provas da religião provarão sem dificuldade que esse fiel é verdadeiramente inspirado por Deus, embora não possa prová-lo ele próprio.
FONTE www.ebooksbrasil.com

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

A EXISTÊNCIA HUMANA


A existência humana nesta terra, para Pascal, é paradoxal, uma vez que muda de condição e de qualidade se é colocada em dois extremos opostos. Existe um dualismo presente em todas as coisas. 
Nos pensamentos de Pascal a condição humana é colocada em relação: ele tanto pode ser como não ser. O tema de dois extremos opostos aparece em várias passagens dos Pensamentos. Analisando a desproporção do Homem Pascal diz:
" O homem é nada em relação ao infinito, tudo em relação ao nada."
Para Pascal, o Homem é um ponto intermediário entre o tudo e o nada -, ponto este não linear, mas pertencente à estrutura interna, psicológica do Homem. Para Pascal, é impossível ao Homem conhecer a verdade, pois esta exige o conhecimento dos dois extremos.
Para Pascal, somente em Deus os dois extremos se unem, convergem, como num círculo. Porém para conhecer Deus, o Homem deve primeiro saber-se nada. Sabendo-se nada, tornam-se tudo. È este o segredo que o fino moralismo de Pascal guarda, o de que, ao livrar-se da sua máscara que a arrogância, o amor e o ódio ao eu produzem, o Homem consegue achar a solução para a tensão entre os dois contrários. Mas Deus não é conhecido pela razão. O espírito geométrico não ocupa a totalidade do espírito, o sentimento, com efeito, é mais presente do que o raciocínio.
O coração, diz Pascal, tem razões que a própria razão desconhece, e é ele quem permite perceber a conciliação enter os dois infinitos.
Pascal aponta a debilidade da razão: mesmo na geometria, o axioma é uma verdade intuitiva e indemonstrável, ou seja, tão clara que é o coração que a conhece.
(Pascal, pensamento 383)