Monografia apresentada em 2010 na "UNI-CV" Universidade Pública de Cabo Verde, para a obtenção do grau de Licenciado em Filosofia para a docência
" O homem não passa de um caniço, o mais fraco da natureza. Mas é um caniço pensante. Não é preciso que o universo inteiro se arme para esmagá-lo: um vapor, uma gota, de água, bastam para matá-lo. Mas, mesmo que o universo o esmagasse, o homem seria mais nobre do que quem o mata, porque sabe que morre e a vantagem que o universo tem sobre ele; o universo desconhece tudo isso"
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quinta-feira, 13 de dezembro de 2012
quarta-feira, 12 de dezembro de 2012
ANIQUILAMENTO
A ideia do nada.
A
ideia do nada é um dos três termos de um esquema importante no pensamento de
Blaise Pascal. Ele difere o nada pelas suas dimensões, sua irresistência e sua
imobilidade o distinguem da matéria.
Segundo
Pascal “a conversão verdadeira consiste em se aniquilar-se...”, ou seja,
tornar-se um “nada”. O que é então, esse nada? A
palavra “nada” tem muitos significados. É empregado para traduzir ex nihilo quando se fala da criação: “O
homem foi criado do nada”. A palavra designa um termo da alternativa: ser ou não
ser, existir ou não existir, o “nada” antes do nascimento, o “nada” que
consiste na morte no pensamento dos ímpios: “só sei que ao sair deste mundo,
caio para sempre no nada, ou nas mãos de um deus irritado”.
A
ideia do “nada” também tem uma função de negação, “um nada de número”, “um nada
de movimento”, “um nada de tempo”, “um nada de extensão”. O geômetra pensa o
“nada” como uma espécie de passagem ao limite considerando os infinitamente
pequenos, “... algum movimento, algum número, algum espaço, algum tempo que
seja, disso há sempre um maior e um menor. Eles se sustêm entre o nada e o
infinito, estando infinitamente distantes desses extremos.
Em
Do Espirito Geométrico, a ideia do
nada pode ser representada pelo numero zero “... zero não é do mesmo gênero dos
números, porque sendo multiplicado não pode ultrapassa-los...”; logo é um
verdadeiro indivisível de número, como o indivisível é um verdadeiro zero de
extensão. A palavra “nada” é convocada pelo problema da divisibilidade ao
infinito e “o conhecimento do nada”, obtido pela passagem ao limite. “Por
pequeno que seja o número... pode-se ainda conceber-lhe um menos, e sempre ao
infinito, sem chegar ao zero”.
Em
Física, a palavras “nada” foi ligada ao problema do vácuo. Pascal escreve que,
não há nada tão contrário ao ser quanto o nada. É preciso chega ao conhecimento
do nada, conhecer uma inteira privação de todos os tipos de qualidades e de
efeitos.
Quando
se trata da vida espiritual, a palavras “nada” em um contexto que significa
valores que vão impor um dever de aniquilamento. Para saber o que as palavras
“nada” e “aniquilamento” significam na linguagem da espiritualidade, o melhor é
tomar como guia Bérulle, que explica que o homem é três vezes nada.
Primeiro,
é nada como criatura tirada do nada e que lhe conserve a marca na dependência
do Criador. O ser verdadeiro é aquele que existe por si, segundo, o ser é nada
como pecador, o pecado que o separa do criador rejeitou-o ao nada; terceiro, o
ser é nada como reparação, poie o que a graça dá se não o poder de aniquilar-se
diante de deus, de tornar-se um nada nas mãos de Deus. Os
dois primeiros casos designam condições: a de criatura e a de pecador. O
terceiro faz intervir uma operação: há nada lá onde há aniquilamento, nesse
caso, tudo está no verbo “aniquilar-se”.
Os
dois primeiros nadas definidos por Bérulle, aparecem nos textos de Pascal. O
primeiro nada é a finitude própria à natureza de ser criado. Ele sugere com o
esquema entre-dois na sua versão antropológica no fim do opúsculo Do Espirito geométrico e desdobrado
minunciosamente no fragmento sob o título “Desproporção do homem”. Para se
conhecer, o homem deve começar por situar num mundo que é “uma esfera infinita
cujo centro está em toda a parte, a circunferência em parte alguma”. Entre dois
abismos do infinito e do nada estremecerá à vista dessas maravilhas...
Segundo
a definição do homem entre-dois, Pascal define o homem como sendo: um nada em
relação ao finito, e um tudo e relação ao nada, um meio entre o nada e o
tudo... Nesse contexto a palavras “nada” tem dois sentidos. O sentido ex nihilo que afirma um “nada absoluto”
e um “tudo em relação ao nada”, não havendo contradição nesse e noutro trecho
quando Pascal afirma que “nós somos algo e não somos tudo”...
No
vocabulário da espiritualidade, o homem é nada relativo,mas no interior de uma
relação com o ser incriado. Se usássemos a definição de Descartes, diríamos: no
primeiro caso, o homem é nada em relação ao universo indefinido e, no segundo,
o é em relação a Deus infinito.
GOUHIER,
Henri – Blaise Pascal – “Conversão e apologética”.
quinta-feira, 15 de novembro de 2012
PASCAL " O homem está dividido dentro de si mesmo"
Diz o Eclesiastes que
"o coração dos homens está cheio de maldade e de loucura durante toda a
vida" (Ec 9.3). Pascal sabia muito bem disso! Quem não se conhece cheio de
soberba, de ambição, de concupiscência, de fraqueza e de injustiça é bastante
cego. Precisamos baixar os olhos para a terra para nos vermos como míseros
vermes, e olhar para as feras das quais somos companheiros.
Hoje o homem se tornou
semelhante aos animais, num tal afastamento de Deus que apenas lhe resta uma
luz confusa de seu Criador. A encarnação de Jesus mostra ao homem a grandeza de
sua miséria pela grandeza do remédio que ele precisa.
Existe uma guerra interior
no homem, entre a razão e as paixões. Sem a razão haveria só paixão. Mas
existem uma e outra e elas não podem existir sem guerra. O homem está dividido
dentro de si mesmo.
Os inimigos dos homens
não são as drogas, o álcool, mas as suas paixões. Poucos falam humildemente
sobre humildade. Somos mentirosos, temos duas caras e vivemos sob disfarces na
tentativa de ocultar dos outros o que realmente somos.
Como o coração do homem
é oco e cheio de baixeza! Se o homem se eleva, eu o rebaixo; se ele se abaixa,
eu o levanto e o contradigo sempre até que ele se compenetre de que é um
monstro incompreensível. Sem a graça de Deus o homem não é senão um sujeito
cheio de erros inapagáveis.
Nós não somos senão
mentiras, duplicidades, contrariedades. Nós nos escondemos e nos destruímos a
nós mesmos. Somos tão presunçosos que gostaríamos de ser conhecidos em toda a
Terra e também daqueles que virão quando não estivermos mais aqui. Somos tão
vaidosos que a estima que nos rodeia nos ilude e nos deixa contentes.
Nascemos injustos e
depravados. Estamos cheios de concupiscências; portanto, cheios de mal. Assim,
deveríamos odiar a nós mesmos e a tudo o que nos excita a outro vínculo que não
seja somente Deus.
Perdemo-nos nos vícios
e não vemos mais a virtude.
http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/330/pascal-o-homem-esta-dividido-dentro-de-si-mesmo
quinta-feira, 8 de novembro de 2012
A IMPORTÂNCIA DO ACREDITAR
A perda da Fé é uma das
coisas mais comum hoje em dia. E quando digo perda de Fé não falo apenas de
deixar de acreditar em Deus, mas em deixar de acreditar, seja no que for. Desde
acreditar que um amigo ou amiga vai cumprir o que promete, a acreditar que alguém
vai conseguir sobreviver a uma doença.
A sociedade de hoje é cética em relação a tudo (hoje em dia também existe mais mentira). Vivemos no mundo da tecnologia e da ciência. "A razão explica tudo...", de maneira que ter Fé é lago que considerado pelas pessoas do nosso tempo é digno de um analfabeto.
Enquanto muitos
abandonam o cristianismo, perdem a fé, o matemático, filosofo e teólogo Blaise Pascal, fez o caminho inverso e tornou-se um dos pensadores da modernidade mais
apaixonados pelo cristianismo.
O cristianismo esteve muitas vezes na iminência de ser destruído. Em todas as vezes que corria esse perigo, Deus o levantava com o seu poder e com a ajuda e a militância dos que acreditam e buscam na fé um refúgio seguro, para todos os seus males e para todos os males da humanidade em crescente desmoronamento, pela perda de valores e da fé em Deus.
O cristianismo ordena
ao homem que reconheça o quanto é vil e abominável e, ao mesmo tempo, gera nele
o desejo de ser semelhante a Deus. Salvo o cristianismo, nenhuma religião
ensina que o homem nasce em pecado. Nenhuma escola filosófica o afirma.
Nenhuma, pois, diz a verdade.
O cristianismo consiste
propriamente no mistério do Redentor, que reuniu em si as duas naturezas, a
divina e a humana, e tirou os homens da corrupção dos pecados para
reconciliá-los com Deus em sua pessoa divina.
Com a perda da Fé, ou
melhor, do ato de não acreditar, vem a perda da esperança. E isto de perder a esperança não é algo que se deva encarar com animo leve,
pois ela é o motor de muitas das nossas decisões.
A antiga expressão “a esperança é ultima a morrer." está a entrar em desuso. Num mundo em que cada vez existem mais cépticos tudo o que não tem provas deixa de ser plausível, dando origem à falta de valores.
sexta-feira, 2 de novembro de 2012
DESCARTES E PASCAL
Dois racionalistas, duas vertentes diferentes.
Descartes é um filósofo
de grande importância na formação do pensamento Moderno e na formação da própria Ciência Moderna. Começa por duvidar de tudo, dos sentidos, que são enganadores,
formulando o racionalismo.
O método proposto, consistia da filtragem de todas as suas
ideias, eliminando aquelas que não se afigurassem como verdadeiras e fossem
dúbias, e apenas retendo as ideias que não suscitavam qualquer tipo de dúvida.
Segundo Descartes, devemos duvidar de tudo, e por duvidar de tudo (Dúvida metódica), instrumento metodológico para chegar à verdades absolutas, acaba por formular o
princípio “Cogito, ergo sum” Porque
duvidando de tudo acaba por não poder duvidar de que estava duvidando e estando duvidando
ele sabia que estava pensando e assim formula o famoso “Penso, logo existo.” Para Descartes, essa seria uma verdade absolutamente firme, certa e segura,
que, por isso mesmo, deveria ser adotada como princípio básico de
toda sua filosofia. Era sua base, seu novo centro, seu ponto fixo.
Descartes, desenvolve todo um
método dividido em quatro passos: intuição, análise, síntese e enumeração completa. Primeira regra é a evidência: “só aceitar aquilo que aparecer como evidente e tão somente aquilo que é
evidente”. A segunda é a regra da análise:
"dividir cada uma das dificuldades
em tantas parcelas quantas forem possíveis". Na prática da nossa vida
esta regra pode ser também observada ao analisar os elementos de uma
determinada situação a ser resolvida. A terceira é a regra da síntese: "concluir por ordem meus pensamentos, começando pelos objetos mais
simples e mais fáceis de conhecer para, aos poucos, ascender, como que por meio
de degraus, aos mais complexos". Sempre partindo do mais fácil para o
mais difícil para poder numa ordem poder ir indo progressivamente em direção a
uma realidade mais complexa. A última é a dos "desmembramentos tão
complexos... a ponto de estar certo de nada ter omitido". Ou seja, revisar
todos os elementos para não restar nenhuma dúvida.
Já Blaise Pascal é um
filósofo da modernidade que procurou estabelecer uma defesa da existência de
Deus argumentando na aposta. Não podemos provar se Deus existe, mas mesmo assim
devemos apostar na sua existência.
Pascal diz que nada
perderemos se apostar na existência de Deus, se Ele existir teremos ganhado
tudo; caso não exista teremos vivido bem. Pascal também é o filósofo que afirma
que “o
coração tem razões que a própria razão desconhece”, desse modo podemos
afirmar a importância não apenas da racionalidade, mas também da dimensão da
educação na dimensão afetiva.
Portanto, se para
Descartes o pensamento surge como fundamento da própria existência humana em
Pascal é feita uma crítica ao pensamento cartesiano tido como “geométrico”.
Pascal propõe o espírito de finura, defendendo a dimensão afetiva do ser humano.
Quando olhamos a atualidade e a prática da vida podemos nos perguntar se nas
nossas decisões seguimos o coração ou a razão? Ou se dois são contraditórios,
sendo contraditórios eles serão ou não complementares? O coração símbolo das
nossas emoções deve ser tomado em consideração ou devemos ser frios nas nossas
decisões?
Parece-nos oportuno
integrar o coração e a razão a fim de estarmos realizando a nossa vida de
maneira efetiva para nos realizarmos como pessoas humanas.
quinta-feira, 1 de novembro de 2012
A MISÉRIA DO DIVERTIMENTO
Se o homem fosse feliz,
sê-lo-ia tanto mais quanto menos divertido, como os Santos e Deus. - Sim; mas
não sendo feliz pode animar-se pelo divertimento? - Não; porque vem doutro
sítio e de fora; e assim é dependente e, portanto, sujeito a ser perturbado por
mil acidentes que tornam as aflições inevitáveis.
(...) A única coisa que
nos consola das nossas misérias é o divertimento, e contudo é a maior das
nossas misérias. Porque é isto que nos impede principalmente de pensar em nós,
e que nos faz perder insensivelmente. Sem isso, estaríamos no tédio, e este tédio
levava-nos a procurar um meio mais sólido de sair dele. Mas o divertimento
distrai-nos e faz-nos chegar insensivelmente à morte.
Blaise Pascal, in
"Pensamentos"
terça-feira, 23 de outubro de 2012
PASCAL E KIERKEGAARD
Dois filósofos bastante
curiosos são Pascal e Kierkegaard, o primeiro viveu no século
XVII e o segundo viveu no século XIX. Ambos eram religiosos e mesclaram em suas obras razão e fé.
Embora tenham vivido em
épocas diferentes há traços bem semelhantes entre os dois. Pascal, inicialmente
como físico e matemático estava acostumado a olhar o mundo sob as lentes da
razão, no entanto, em algum momento viu que a razão não dava conta da
complexidade da vida e
do mundo. Assim, a razão em Pascal perde seu posto de supremacia e este passa a
estudar teologia, vendo na fé o elemento para o homem “sentir” o mundo e a
vida. Nesse sentido, Pascal sacrifica a Matemática e a Física em nome de Deus.
Já Kierkegaard,
considerado o “pai do Existencialismo”, admite a razão, no entanto, para o
filósofo o mundo só é conhecido ao sujeito, isto é, o mundo é subjetivo – daí
sua frase “Sinto, logo sou”, que carrega ainda uma certa ironia ao
cartesianismo. Assim, dois sujeitos vêem a vida e o mundo de diferentes pontos
de vista e nenhum dos dois têm “razão” para dizer que o mundo do outro é
“errado”, pois este só se revela à subjetividade. Kierkegaard, assim como
Pascal, também vê a razão como incapaz de dar conta de explicar o mundo e a
vida, para ele o homem existente era um ser de angústia, e
que esta era um “sinal” de que sua identidade só se completaria se
obtivesse uma ligação com o transcendente: Deus.
Vale citar que tanto
Pascal como Kierkegaard não negam a razão, reconhecem sua importância para o
homem, no entanto , vão ao contra aquele sentido socrático – e depois ganha
força com o Iluminismo – que a racionalidade
assume como elemento supremo e infalível para o homem desvendar o mundo
e sua existência. Essa razão coloca os instintos e o “sentir” do homem como
falhos e incapazes de revelar a “verdade”, de tal forma que o homem, assim
mutilado, vive em função de sua própria criação – o mundo racional -,
tornando-se prisioneiro de si mesmo.
Tanto Pascal como Kierkegaard
reconheciam a existência de Deus e Jesus Cristo, no entanto, nenhum dos dois
era adepto de uma religião sistematizada em uma instituição. Pelo contrário,
ambos faziam fortes críticas à religião enquanto instituição, na medida em que
o viam como sistemas onde a razão e a hipocrisia dominavam deturpando os
verdadeiros valores de Cristo. Nesse sentido, para ambos, a religião era antes
uma questão de relação de fé pessoal com Deus.
domingo, 21 de outubro de 2012
Blaise Pascal e Friedrich Nietzsche
A
figura de Blaise Pascal (1623-1662), matemático, filósofo moralista e teólogo francês,
importante representante moderno do cristianismo, sempre provocou em Friedrich
Wilhelm Nietzsche (1844-1900), influente filósofo alemão do século
XIX, uma dupla reação. Abundam na obra de Nietzsche referências respeitosas ao
“gênio” de Pascal enquanto filósofo, porém, Nietzsche não hesita em criticar Pascal,
quando o assunto gira em torno da moral e da religião cristã.
Pascal
viveu numa época em que a fé cristã tinha como pano de fundo o racionalismo e o
ceticismo, o que representava para Nietzsche o expoente religioso da negação metafísica
do mundo. Na obra Aurora (1881), Nietzsche
critica explicitamente a moral cristã, e Pascal aparece como um exemplo mórbido
de como um intelecto brilhante se deixou seduzir pela visão cristã do mundo. Tal
lamento nietzschiano encontra a sua expressão mais clara na passagem de Além do
Bem e do Mal (1886), em que descreve a “fé de Pascal” como um “contínuo
suicídio da razão” e um “sacrifício do intelecto”.
Paradoxalmente,
em Ecce Homo (1888), Nietzsche reúne na mesma afirmação admiração e crítica, ao
declarar “amar” Pascal como “a mais instrutiva vítima do cristianismo, lentamente
assassinado”. Como se vê, Pascal é encarado por Nietzsche de uma forma ambivalente.
Tanto
Pascal quanto Nietzsche são mestres da expressão concentrada e fragmentária.
Pascal o declara na célebre passagem dos Pensées, 373 intitulada Pirronismo:
“Escreverei aqui meus pensamentos sem ordem, não em uma confusão sem objetivo:
esta é a verdadeira ordem...” Nietzsche, é o grande mestre alemão do aforismo. Ambos
possuem em comum várias posições
filosóficas, como:
1)
o combate ao otimismo superficial e ao racionalismo de sua época.
2)
uma certa concepção – diferente mas às vezes coincidente – do ceticismo.
3)
a eleição do “perspectivismo” como forma necessária do conhecimento humano
e
da formação de valores.
Pascal
e Nietzsche compartilham uma insatisfação essencial com relação à condição
humana atual. Porém, ambos buscam um ideal de perfeição superior à existência
meramente biológica. Então o cristianismo trágico de Pascal e a filosofia trágica
e anticristã de Nietzsche mantêm algo mais do que uma mera relação de exclusão
recíproca.
É
interessante observar que, tanto um com outro ganham importância, para a
filosofia moderna e contemporânea, quando confrontados com a questão da moderna
da crise religiosa: o “pessimismo” do “eu odioso” pascaliano e a “crítica” do “niilismo”
em Nietzsche se encontram na visão de um homem “estranho a si mesmo” presente
nas interrogações contemporâneas sobre a essência do homem.
Estudar
Pascal e Nietzsche é muito mais do que apresentar um conflito entre ateísmo e
cristianismo, é talvez, tentar mostrar que o ateísmo de Nietzsche pode incluir
uma relação ambivalente com aquele que foi criticado por Voltaire.
A partir do artigo de José
Thomaz Brum professor do Curso de Especialização em História da Arte da (PUC-RIO). http://www.fflch.usp.br/df/gen/pdf/cn_08_02.pdf
sexta-feira, 19 de outubro de 2012
Fé e Razão (fragmentos)
“A fé e a razão são como que as duas asas pelas
quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade (…)” (João
Paulo II).
A última tentativa da razão [é descobrir] que há uma
infinidade de coisas que a ultrapassam. Revelar-se-á fraca se não reconhecer
isto. É preciso saber duvidar aonde é preciso, afirmar aonde é preciso. Quem
não faz assim não entende a força da razão (PASCAL, 1999, p. 55).
(…) Humilha-vos, razão impotente, calai-vos,
natureza imbecil; aprendei que o homem ultrapassa infinitamente o homem, e ouvi
do senhor a vossa condição verdadeira, que ignorais. Escutai a Deus (PASCAL,
1999, p.60).
O último passo da razão é reconhecer a existência de
uma infinidade de coisas que a ultrapassam. (Blaise Pascal)
O poder dos reis funda-se na razão e na loucura do povo; muito mais, porém, na
loucura. (Blaise Pascal)
"O temor saudável provem da fé - o temor
errôneo provem da dúvida."
(Blaise Pascal)
domingo, 2 de setembro de 2012
O HOMEM INSUFICIENTE
"Nenhum
raciocínio no mundo conseguiria provocar a verdadeira tristeza - aquela da alma
- ou vencê-la, uma vez que ela tenha entrado em nós, Deus sabe por qual brecha
do ser. O que dizer? Ela não entrou, ela estava em nós. Cada vez mais eu creio
que isso a que nós chamamos tristeza, angústia, desespero, como para nos
persuadir de que se trata de certos movimentos da alma, é esta a alma mesma,
que, desde a queda, a condição do homem é tal que ele não seria capaz de
perceber mais nada nele nem fora dele senão sob a forma de angústia. Não fosse
pela vigilante piedade de Deus, parece-me que, à primeira consciência que
tivesse de si mesmo, o homem se desmancharia em poeira."
Fragmento retirado da pré-intrudução do livro O Homem Insuficiente, de Luiz Felipe
Pondé.
domingo, 29 de julho de 2012
BLAISE PASCAL - O FILME
SINOPSE RAROS: Blaise Pascal foi um pensador
francês do Século XVII que contribuiu bastante com a ciência de sua época.
Fez a primeira máquina de calcular mecânica (La Pascaline) e ajudou a criar a
Teoria das Probabilidades. Seu famoso Teorema de Pascal foi criado quando tinha
16 anos. Sua educação esteve inicialmente aos cuidados de seu pai, o
matemático Etienne Pascal; mais tarde teve algumas controvérsias com
aristotélicos tradicionais e escreveu muitas obras de teor religioso, durante
um período (+ ou - 1650) que se recolheu aos estudos. Este filme de Robero
Rossellini faz parte da série de filmes sobre grandes filósofos feitos pelo
italiano na década de 1970 (Sócrates , Santo
Agostinho e Descartes )
e acompanha a vida de Pascal dos seus 17 anos até a sua morte. Imperdível!
quarta-feira, 27 de junho de 2012
A CONDIÇÃO DO HOMEM
(...) A condião do homem, é ser um meio entre o infinitamente pequeno e o infinitamente grande e um meio entre a grandeza e a miséria. Está situado entre dois extremos que ele não pode ver a si próprio, é um meio entre a miséria dos animais e a grandeza dos anjos.
A tomada da consciência da instabilidade do homem e da insuficiência de seus conhecimentos não leva a decretar como vãos os esforços despendidos para melhorá-lo. (...)
Pascal
A tomada da consciência da instabilidade do homem e da insuficiência de seus conhecimentos não leva a decretar como vãos os esforços despendidos para melhorá-lo. (...)
Pascal
quarta-feira, 20 de junho de 2012
sexta-feira, 4 de maio de 2012
quarta-feira, 2 de maio de 2012
PASCAL E A LIBERDADE INTERIOR
O Filósofo francês Blaise Pascal diz que, independentemente
de quem somos ou possuímos, todos temos uma "Guerra Interior" entre
nossos defeitos e virtudes. Por isso, é preciso compreender antes de tudo, que sempre
é tempo de recomeçar, e que pontos positivos e negativos são constituintes de
nosso ser e devem ser encarados em parte como obstáculos a serem vencidos.
Afinal de contas, "errar é humano" e acertar também é...
Pascal chega a dizer que “o pensamento faz a
grandeza do homem” e que “ toda a dignidade do homem está no pensamento".
E realmente o pensamento nos faz realmente "grandes", ou seja,
melhores. O interessante é que esta melhoria deve estar sempre em constante
aperfeiçoamento. Daí é que é preciso nos elevarmos...
O bem pensar e o reto agir são formas de se
sobressair diante da multidão que se acomoda e acha obviamente natural que as
coisas são como elas são. O desafio está em nadar contra esta correnteza para
ser diferente. A diversidade de pensamento é o que torna uma sociedade mais
justa e melhor para se viver.
Na contemporaneidade existe uma tendência de
sufocamento dos nossos defeitos. Percebemos isso nas empresas, no desporto, no
dia-a-dia etc. Esse abafamento está sempre camuflado com a suposta
"intenção" de superar-se a si próprio.
Segundo Pascal "reconhecer-se miserável
é tornar-se sábio". Em primeiro lugar porque é um gesto de humildade, se
notar limitado, imperfeito. E depois, a partir do momento que torno consciência
das minhas "misérias", também sentimos impelidos à solidariedade aos
outros e suas imperfeições.
Possuir defeitos não deve se vista como algo
estritamente ruim, pelo contrário, é sinal de que algo precisa ainda ser
mudado. É sinal de que a Criação ou a evolução ainda não terminou e precisa
ainda se fazer melhor. Porém desta vez depende de nós. É de fato enchermo-nos
de consciência de quem realmente somos e isto é ser sábio para Pascal.
Enfim, Pascal nos ensina o caminho para a
liberdade interior. Conscientes de si mesmos e aceitando tudo o que em nós há
de bom ou ruim e principalmente procurando "amadurecer" é que
estaremos mais à vontade no meio social sem medo de errar e ser feliz.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Blaise_Pascal
segunda-feira, 30 de abril de 2012
MISÉRIA E CEGUEIRA DO HOMEM
Vendo a cegueira e a
miséria do homem (e essas contrariedades espantosas que se descobrem em sua
natureza), observando todo o universo mudo, e o homem sem luz, abandonado a si
mesmo, e como que perdido neste recanto do universo, sem saber quem o pôs aqui,
o que veio aqui fazer, o que se tornará ao morrer, incapaz de qualquer
conhecimento, eu princípio a ter medo como um homem que tivesse sido levado
dormindo para uma ilha deserta e medonha e que despertasse sem saber onde está
e sem meios de escapar. E, sobre isso, admiro como não se entra em desespero
por tão miserável estado. Vejo outras pessoas perto de mim com semelhante
natureza: pergunto-lhes se são mais instruídas do que eu e me dizem que não: e,
sobre isso, esses miseráveis perdidos, tendo olhado ao redor e visto alguns
objetos agradáveis, a eles se entregaram e se ligaram. Quanto a mim, não pude
entregar-me nem ligar-me e, considerando quanta aparência há de que existe
outra coisa além do que vejo, tratei de descobrir se esse Deus não teria
deixado algum sinal de si.
terça-feira, 24 de abril de 2012
A APOSTA DE BLAISE PASCAL
criada por Blaise
Pascal, e apresentada no livro "Penseés", não é um argumento
direto da existência de Deus. É um argumento que poderá ser considerado
calculista, a favor de um comportamento humano de acordo com a
existência de Deus, seguindo a "razão do coração". Este argumento tem
mais ou menos o conteúdo que se segue:
Se você acredita em Deus e nas Escrituras e estiver
certo, será beneficiado com a ida ao paraíso.
Se você acredita em Deus e nas Escrituras e estiver
errado, não terá perdido nada.
Se você não acredita em Deus e nas Escrituras e
estiver certo, não terá perdido nada.
Se você não acredita em Deus e nas Escrituras e
estiver errado, você irá para o fogo eterno(...)
segunda-feira, 23 de abril de 2012
AMIZADE!
Poucas amizades subsistiriam se cada um soubesse aquilo que
o amigo diz de si nas suas costas.
sábado, 10 de março de 2012
A BUSCA DA GLÓRIA
A maior
baixeza do homem é a busca da glória, mas é também o mais seguro sinal da sua excelência;
pois, por mais bens que possua na terra, por melhor saúde e comodidades que
tenha, não está satisfeito se não for estimado pelos outros homens. Dá tal
valor à razão do homem que, por mais regalias que tenha no mundo, se não
estiver favoravelmente colocado na opinião dos homens, não estará contente. É
esse o mais belo lugar do mundo; nada pode desviá-lo desse desejo, e é a
qualidade mais indelével do coração do homem.
Blaise Pascal, in "Pensamentos"
domingo, 4 de março de 2012
O MEDO DA NOSSA CONDIÇÃO HUMANA
Quando me ponho às
vezes a considerar as diversas agitações dos homens, e os perigos e trabalhos a
que eles se expõem, na corte, na guerra, donde nascem tantas querelas, paixões,
cometimentos ousados e muitas vezes nocivos, etc., descubro que toda a miséria
dos homens vem duma só coisa, que é não saberem permanecer em repouso, num
quarto. Um homem que tenha o bastante para viver, se fosse capaz de ficar em
sua casa com prazer não sairia para ir viajar por mar ou pôr cerco a uma
praça-forte. Ninguém compraria tão caro um posto no exército se não achasse
insuportável deixar-se estar quieto na cidade; e quem procura a convivência e a
diversão dos jogos é porque é incapaz de ficar, em casa, com prazer.
Mas quando pensei melhor, e que, depois de ter encontrado a causa de todos os nossos males, quis descobrir a razão desta, achei que há um bem efectivo, que consiste na natural infelicidade da nossa condição frágil e mortal, e tão miserável que nada nos pode consolar quando nela pensamos a fundo.
Blaise Pascal, in "Pensamentos"
sábado, 25 de fevereiro de 2012
REFLEXÕES PASCALINAS
Quanto mais inteligente um homem é mais
originalidade encontra nos outros. Os medíocres acham toda a gente igual.
(Blaise Pascal)
Duas coisas instruem o homem, qualquer que seja a sua natureza: o instinto e a experiência. (Blaise Pascal)
A maior fraqueza do homem é poder tão pouco por aqueles que ama. (Blaise Pascal)
A consciência é o melhor livro de moral e o que menos se consulta. (Blaise Pascal)
É o coração que sente Deus e não a razão. (Blaise Pascal)
Uma indiferença pacífica é a mais sábia das virtudes. (Blaise Pascal)
Leia mais: http://kifrases.blogspot.com/2010/08/frases-de-blaise-pascal.html#ixzz1nPJovJwb
quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012
O TEMPO NA VIDA DO HOMEM
Que
cada qual examine os seus pensamentos, e os achará sempre ocupados com o
passado e com o futuro. Quase não pensamos no presente; e, quando pensamos é
apenas para tomar-lhe a luz a fim de iluminar o futuro. O presente não é nunca
o nosso fim; o passado e o presente são os nossos meios; só o futuro é o nosso
fim. Assim, nunca vivemos, mas esperamos viver, e, dispondo-nos sempre a ser
felizes, é inevitável que nunca o sejamos.
Blaise Pascal
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012
O MONSTRO INCOMPREENSÍVEL
É
perigoso mostrar ao homem até que ponto se assemelha aos animais sem lhe
mostrar a sua grandeza. Também é perigoso mostrar-lhe muito a grandeza sem a
baixeza. É ainda mais perigoso deixá-lo ignorar uma e outra. Mas é muito
vantajoso representar-lhe as duas. O homem não é anjo nem besta, e por
desgraça quem quer ser anjo acaba por ser besta. Se se exalta, humilho-o;
se ele se humilha, exalto-o: e contradigo-o sempre, até que ele compreenda que
é um monstro incompreensível.
Condeno
igualmente os que tomam o partido de louvar o homem, e os que tomam de condená-lo,
e os que tomam o de se divertir; e não posso aprovar senão aqueles que buscam
gemendo.
Blaise Pascal, in "Pensamentos"
sábado, 18 de fevereiro de 2012
O que é o homem na natureza?
Um nada em relação ao
infinito, um tudo em relação ao nada, um ponto a meio entre nada e tudo.
A
primeira coisa que se oferece ao homem ao contemplar-se a si próprio, é seu
corpo, isto é, certa parcela de matéria que lhe é peculiar. Mas, para compreender
o que ela representa a fixá-la dentro de seus justos limites, precisa
compará-la a tudo o que se encontra acima ou abaixo dela. Não se atenha, pois,
a olhar para os objetos que o cercam, simplesmente, mas contemple a natureza
inteira na sua alta e plena majestosidade.
sábado, 4 de fevereiro de 2012
SUBMISSÃO E USO DA RAZÃO
1. A última tentativa da razão é
reconhecer que há uma infinidade de coisas que a ultrapassam. Revelar-se-á
fraca se não chegar a conhecer isso. É preciso saber duvidar onde é preciso,
afirmar onde é preciso, e submeter-se onde é preciso. Quem não faz assim não
entende a força da razão. Há os que pecam contra esses três princípios, ou
afirmando tudo como demonstrativo, não precisando ser conhecido por
demonstrações; ou duvidando de tudo, não precisando saber onde é necessário,
submeter-se; ou submetendo-se a tudo, não precisando saber onde é necessário
julgar.
2. Se se submete tudo à razão, a nossa
religião nada terá de misterioso nem de sobrenatural. Se se contrariam os
princípios da razão, a nossa religião será absurda e ridícula. A razão, diz
Santo Agostinho, nunca se submeteria, se não julgasse que há ocasiões em que
deve submeter-se. É, pois, justo que se submeta quando julga que deve
submeter-se.
3. A piedade é diferente da superstição.
Sustentar a piedade até à superstição é destruí-la. Os hereges nos acusam dessa
submissão supersticiosa. É fazer aquilo de que nos acusam (exigir essa
submissão nas coisas que não são matéria de submissão).
4. Não há nada tão conforme à razão como a
retratação da razão (nas coisas que são de fé e nada tão contrário à razão como
a retratação da razão nas coisas, que não são de fé). Dois excessos: excluir a
razão, só admitir a razão.
5. Diz bem a fé o que não dizem os
sentidos, mas não o contrário do que vêem estes. Ela está acima e não em
oposição.
6. Se eu tivesse visto um milagre, dizem
eles, converter-me-ia. Como afirmam que fariam o que ignoram? Supõem que essa
conversão consista numa adoração que se faz de Deus como um comércio e uma
conversão tal como a imaginam. A conversão verdadeira consiste em aniquilar-se
diante desse Ser universal que tantas vezes tem sido irritado e que pode
perder-vos legitimamente a todo momento; em reconhecer que não se pode nada sem
ele, e que nada se mereceu dele senão a perda de sua graça. Consiste em
conhecer que há uma oposição invencível entre Deus e nós, e que, sem um
mediador, não pode haver comércio.
7. Não vos admireis de ver pessoas simples
crer sem raciocínio. Deus lhes dá o amor a ele e o ódio a si mesmo.
Inclina-lhes o coração a crer.
8. Nunca se crerá com uma crença útil e de
fé se Deus não inclina a isso o coração; crer-se-á desde que ele o incline. É o
que bem conhecia Davi quando dizia: inclina cor meum, Deus, in testimonia tua(9) (Salmo CXIX, 36).
9. Os que crêem sem ter lido os
Testamentos é porque têm uma disposição interior tão santa que o que ouvem
dizer da nossa religião lhe é conforme. Sentem que um Deus os fez. Só querem
amar a Deus, só querem odiar a si mesmos. Sentem que não têm por si mesmos a
força para isso, que são incapazes de ir a Deus e que, se Deus não vem a eles,
não podem ter nenhuma comunicação com ele. E ouvem dizer, em nossa religião,
que é preciso amar somente a Deus e odiar somente a si mesmo; mas, sendo todos
corrompidos e incapazes de Deus, Deus se fez homem para unir-se a nós. Não é
preciso mais para persuadir homens que têm essa disposição no coração e que têm
esse conhecimento do seu dever e de sua incapacidade.
10. Os que vemos tornarem-se cristãos sem o
conhecimento das profecias e das provas não deixam de julgá-las tão bem quanto
os que têm esse conhecimento. Julgam-nas pelo coração, como os outros as julgam
pelo espírito. É o próprio Deus que os inclina a crer, e assim estão eles muito
eficazmente persuadidos.
11. Confesso que um desses cristãos que
crêem sem provas não terá, talvez, com que convencer um infiel que lhe alegar
tal coisa. Mas, os que conhecem as provas da religião provarão sem dificuldade
que esse fiel é verdadeiramente inspirado por Deus, embora não possa prová-lo
ele próprio.
FONTE www.ebooksbrasil.com
sexta-feira, 13 de janeiro de 2012
A EXISTÊNCIA HUMANA
A existência
humana nesta terra, para Pascal, é paradoxal, uma vez que muda de condição e de
qualidade se é colocada em dois extremos opostos. Existe um dualismo presente
em todas as coisas.
Nos pensamentos de
Pascal a condição humana é colocada em relação: ele tanto pode ser como não
ser. O tema de dois extremos opostos aparece em várias passagens dos Pensamentos.
Analisando a desproporção do Homem Pascal diz:
" O homem é
nada em relação ao infinito, tudo em relação ao nada."
Para Pascal, o
Homem é um ponto intermediário entre o tudo e o nada -, ponto este não linear,
mas pertencente à estrutura interna, psicológica do Homem. Para Pascal, é
impossível ao Homem conhecer a verdade, pois esta exige o conhecimento dos dois
extremos.
Para Pascal,
somente em Deus os dois extremos se unem, convergem, como num círculo. Porém
para conhecer Deus, o Homem deve primeiro saber-se nada. Sabendo-se nada, tornam-se
tudo. È este o segredo que o fino moralismo de Pascal guarda, o de que, ao
livrar-se da sua máscara que a arrogância, o amor e o ódio ao eu produzem, o
Homem consegue achar a solução para a tensão entre os dois contrários. Mas Deus
não é conhecido pela razão. O espírito geométrico não ocupa a totalidade do
espírito, o sentimento, com efeito, é mais presente do que o raciocínio.
O coração, diz
Pascal, tem razões que a própria razão desconhece, e é ele quem permite
perceber a conciliação enter os dois infinitos.
Pascal aponta a
debilidade da razão: mesmo na geometria, o axioma é uma verdade intuitiva e
indemonstrável, ou seja, tão clara que é o coração que a conhece.
(Pascal, pensamento 383)
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