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sexta-feira, 3 de setembro de 2021

JAQUELINE DE MÃOS CRUZADAS DE PABLO PICASSO

 

Saiba da história por trás da capa do meu livro “Blaise Pascal: o caniço pensante” 


A tela "Jacqueline de mãos cruzadas" (1954), do pintor espanhol Pablo Ruiz Picasso, mais conhecido como Pablo Picasso (1881-1973) é uma pintura a óleo sobre  tela (116x88), e encontra-se atualmente no Museu de Paris.  

A jovem Jacqueline Roque foi a segunda e última esposa de Picasso. Eles se conheceram em 1953 e casaram-se em em 1961, após o falecimento de Olga Koklova (1955), a primeira esposa do pintor.

No entanto, as primeiras imagens de Jacqueline  apareceram nas pinturas do Picasso em 1954, um ano depois de terem conhecido e antes da morte da esposa Olga.    

Quando conheceram, Jacqueline tinha 27 anos e Picasso 72. Essa diferença de idade, certamente, fez com que Picasso a retratasse centenas de vezes, na tentativa de entendê-la/descrevê-la através de sua percepção. Por isso, ela foi a mais retratada, ficando atrás apenas da modelo francesa, Marie-hérèse Walter. 

A pintura retrata a imagem enigmática de Jacqueline sentada no chão, em posição de esfinge, supostamente, em um ambiente doméstico com os dedos entrelaçados e os braços cruzados enlaçando os joelhos. 

Seu pescoço longo em forma de coluna (sinônimo de segurança  e solidez), sustenta sua cabeça onde é possível identificar traços bem característicos: nariz longo e reto, olhar fixo e vigilante, rosto compenetrado, absolutamente alheia ao que acontece ao redor. 

O casamente de Picasso com Jacqueline durou apenas 11 anos. Por ter aproximadamente metade da idade de marido, ela, certamente, foi seu pilar nos últimos anos, pois, zelava por sua saúde e intimidade criativa, protegendo-o do assédio midiático da época tendo em conta sua fama como pintor e escultor. 

O que Jacqueline de mãos cruzadas de Picasso, tem que ver com o Caniço pensante de Pascal? Pensamento. 

O olhar fixo e compenetrado é característico de pessoas que fazem do pensamento e da reflexão um exercício constante, o que é sinônimo de grandeza, pois, segundo Pascal, o pensamento faz a grandeza do homem. 

No entanto, é através desse ato que o homem também é capaz de contemplar seus limites e reconhecer que, apesar da sua grandeza, está prenhe de misérias e fraquezas inerentes a própria condição humana. 

Isso nos coloca em um cenário onde todos deveriam se reconhecem como “caniços pensantes” – grandes pelo pensamento, porém, fracos pela vulnerabilidade existencial, pois, somos os seres mais fracos da natureza.

Tão facos que podemos, segundo Pascal, ser esmagados por uma um vapor, uma gota de água. Mas, mesmo que sejamos esmagados, seremos mais nobres, exatamente por sabermos algo que o que nos esmaga, ignora.


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terça-feira, 24 de agosto de 2021

Blaise Pascal: O Caniço Pensante – Novo livro de Arlindo Rocha publicado no Brasil

 



Mais do que um livro, é a história de superação de um cabo-verdiano das ilhas que sonhou alto, mas tão alto, que muitos duvidavam que no final da sua jornada conseguiria algo tão precioso, tão desejado, mas, tão difícil que muitos desistem logo que enfrentam a primeira dificuldade…

EU CONSEGUI!

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Blaise Pascal: o caniço pensante

'Orelha do livro' 

Arlindo Nascimento Rocha 

Blaise Pascal veio ao mundo no dia 19 de junho de 1623 na cidade francesa de Clermont-Ferrand. De corpo frágil, saúde débil e mente prodigiosa, viveu apenas 39 anos, tendo falecido em Paris em 19 de agosto de 1662. Filho de Étienne Pascal e Antoinette Begon, irmão de Gilbert e Jacqueline, Pascal é considerado um gênio de seu tempo, mesmo sem ter saído de nenhum colégio, pois, foi alfabetizado pelo pai. Mesmo assim, muito influenciou sua geração e continua causando impacto no homem dos nossos dias, sobretudo, com suas reflexões sobre a condição humana. Também é considerado um ‘fenômeno’ da literatura científica, uma vez que tinha uma atração especial pelas ciências naturais e aplicadas. Seu interesse científico visava objetivos imediatos e práticos, antecipando assim, alguns modelos e métodos de investigação que atualmente dominam a vida científica. Foi matemático, físico, filósofo, apologeta e teólogo. Interessou-se pela matemática desde criança, tendo descoberto a 32ª proposição de Euclides, escreveu sua primeira obra aos doze anos (obra acústica), aos dezessete publicou o Essai sur lês coniques e aos dezenove inventou a máquina de calcular (La pascalinne). Posteriormente, inventou a prensa hidráulica e provou a existência do vácuo. Como matemático e físico respeitava o rigor moderno e não dava importância às especulações filosóficas dos aristotélicos e desprezava a religião em questões da razão ou de fatos. Como filósofo e apologeta escreveu os Pensamentos, uma clássica defesa do cristianismo e uma referência universal para o estudo do seu pensamento. Seus principais biógrafos o consideram um pensador notável e um dos maiores escritores da prosa francesa que, após um acidente envolvendo seu pai, converteu-se ao jansenismo e entrou em conflito com os jesuítas tendo escrito as célebres Cartas Provinciais (coleção de 18 cartas) em defesa de Arnauld e dos habitantes de Port-Royal. Muitos vêm nele um dos maiores enigmas e paradoxos da história espiritual da humanidade. Mas, como pensador da complexidade da natureza humana, seus escritos são fundamentais para entender muitos aspetos da nossa atual sociedade, pois, ele é de uma atualidade extraordinária.

ROCHA, Arlindo Nascimento. Blaise Pascal: o caniço pensante. - Rio de Janeiro, RJ: Autografia, 2021. 218p. 

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sexta-feira, 20 de agosto de 2021

Blaise Pascal: o caniço pensante

 

[Autografia Editora - Rio de Janeiro]  

Descrição: Esta obra é uma coletânea de seis artigos publicados em várias revistas acadêmicas com reflexões e meditações filosóficas, teológicas e políticas. 

No primeiro artigo, reflete-se sobre a relevância do pensamento político de Pascal, filósofo francês, que teve até recentemente seus escritos ignorados; 

no segundo, analisa-se a concepção existencial do homem presente na obra Pensamentos; 

no terceiro, analisa-se as críticas de Pascal ao pensamento racional que pretendia legitimar a verdade baseando-se apenas na razão; 

no quarto, investiga-se os conceitos de desejo e divertimento como categorias antropológicas que ajudam a entender melhor a necessidade (desejo) e a busca pela agitação (divertimento) como marcas do desvio da nossa condição insustentável; 

no quinto, apresenta-se a visão pascaliana sobre o mal que determinou a entrada do pecado no mundo e, consequentemente, a ocultação de Deus; e,

finalmente, no sexto, investiga-se as duas vias filosóficas pelas quais Pascal constrói o paradoxo entre grandeza e miséria, como fundamental para o estudo e a compreensão do homem.

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Sobre o autor: 

Arlindo Nascimento Rocha (1974) é natural do arquipélago de Cabo Verde - África - e reside no Brasil desde 2012. É Doutor e Mestre em Ciência da Religião pela PUC-SP; Pós-Graduado - Lato Sensu – “Especialização” em Administração, Supervisão, Orientação Educacional e Pedagógica pela UCP/IPETEC; foi aluno ‘especial’ do Curso de Pós-Graduação em Filosofia da PUC-RIO; Licenciado em Filosofia para a docência pela Uni-CV; é formado em Pedagogia (Formação Inicial de Professores do Ensino Básico Integrado) pelo Instituto Pedagógico do Mindelo; foi Professor do Ensino Básico, Gestor Educacional e Supervisor do Curso de Formação de Professores (EAD) do Instituto Pedagógico do Mindelo. É autor das obras: Entretextos: coletânea de textos acadêmicos. - 1ª ed. – Rio de Janeiro: Editora PoD, 2017; Paradoxos da condição humana: grandeza e miséria como paradoxo fundamental em Blaise Pascal. - 1ª ed. – Maringá: Viseu, 2019; Religar-se: coletânea de breves ensaios. - 1ª ed. – Maringá: Viseu, 2020 e de vários artigos publicados em revistas acadêmicas.
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sábado, 13 de março de 2021

O olhar paradoxal do belo além da aparência em Plotino e Blaise Pascal: uma reflexão além do cognoscível

 


Por: Arlindo Nascimento Rocha*

Comparar dois filósofos, nunca foi tarefa fácil, principalmente quando se trata de dois pensadores tão distantes e pertencentes a épocas e culturas tão diferentes. Mas, a reflexão filosófica nos permite encontrar nexos importantes, pois, a história do pensamento, a despeito das suas variações, continua sendo uma, embora com nuances e particularidades inerentes à própria cultura de cada época.

O que nos permite fazer isso, é que nenhum filósofo é uma ‘ilha’. Por de trás do seu pensamento está um vasto manancial de influências e experiências acumuladas de centenas, para não dizer, de milhares de anos de evolução do pensamento. Isso, naturalmente, nos permite afirmar que, todo filósofo concebe ideias dentro de uma determinada visão de mundo, embora possa não estar necessariamente imerso nesse quadro circunstancial, pois, suas ideias acabarão transcendendo espacial, temporal e historicamente épocas delimitadas, pois, filósofo algum, jamais produziu apenas para sua época. Aliás, muitos nem sequer foram (re)conhecidos, pois, estavam à frente do seu tempo e, por isso, não foram compreendidos, ou foram mal interpretados. Logo, é legítimo assegurar que os grandes filósofos não são filhos desta ou daquela época, mas, amantes da sabedoria.

Então, para que possamos estabelecer com firmeza essa comparação, precisamos entender e respeitar a incompletude de cada um, acompanhar suas hesitações e lacunas, aceitar seus lapsos, reproduzir a ordem e a desordem das visões filosóficas em construção, embora longe da formulação definitiva.

Por isso, assumir o desafio de estabelecer uma comparação entre Plotino, um dos principais filósofos gregos do séc. III e representante do neoplatonismo que reúne em parte, a herança da filosofia greco-judaica e Blaise Pascal, a principal referência da tradição platônico-agostiniana na frança do séc. XVII, que melhor enxergou no homem suas contingências e possibilidades, situando-o entre extremos incomensuráveis (tudo e o nada, finito e o infinito, grandeza e pequenez), incapaz de dar conta da sua própria situação como ser do mileu (meio), é uma missão quase que impossível. Mas, fazer isso é tentar ao mesmo tempo, entender através de um recorte temático comum, não a construção de um sistema filósofo, mas, uma reflexão e um contributo para a história e evolução do pensamento.

A reflexão filosófica sobre o homem e sua relação com o mundo (cultura, arte, política, religião), acompanha a evolução da história da filosofia, pois, é um tema que é objeto de reflexão dos principais filósofos que o colocaram no centro das discussões. Naturalmente, Plotino e Pascal não fugiram a esse desafio. Pascal, um dos expoentes da filosofia francesa, provavelmente, foi um dos que mais refletiu sobre o homem em sua época. Mas, grande parte do que expôs, está ligado a uma construção ulterior, iniciado com Platão, Agostinho, Tomás de Aquino, Cornélio Jansênio, Lutero, Calvino até chegar, finalmente a ele, um fiel discípulo de Agostinho que, certamente leu Plotino, mais especificamente O tratado sobre o belo das Enéadas, pois, não logrou os ensinamentos de Platão diretamente, mas, através dos neoplatônicos.    

Naturalmente, é frutífero ver a reflexão filosófica sobre esse tema a partir dos dois paradigmas que fundaram a tradição filosofia clássica ocidental: o platônico e o aristotélico. O primeiro é dualista, cujas raízes estão solidificadas na doutrina religiosa, no temor humano da morte, no anseio pela imortalidade e nas experiências mal compreendidas, enquanto que o segundo é inspirado, primeiramente, na tradição biológica e funda-se no prazer positivo que excita na alma o sentimento que chamamos de amor, invertendo assim, a solução teórica do platonismo, afirmando que é preciso encontrar o universal, mas, é preciso investigar também, o particular sensível.

Mesmo assim, o legado e o impacto do platonismo na cultura ocidental teve uma importância capital. Por um lado, foi transmutado e transformado por Plotino (fundador do neoplatonismo que desenvolveu a ideia de uma divindade única, superior e transcendente que governaria o mundo) e, por outro, combinado com a doutrina cristã agostiniana, a principal influência filosófica de Pascal na modernidade.

Plotino viveu numa época em que esses dois paradigmas (platônica e aristotélica), eram dominantes, mas, o debate entre estes, nomeadamente, o estético em especial, ganhou novos contornos em seus tratados estéticos. Ele foi notável, não pela sua obscuridade, mas, pela sua doutrina acerca da beleza inteligível. Diferente do dualismo platônico, imaginava uma natureza animal, diferente da alma e do corpo, a quem pertence a sensação. Ele entendia por sensação, a percepção de coisas externas que produzem ilusões, mas, permitiam com a ajuda da inteligência, o juízo. Sendo assim, as imagens que usava, lembram muito a ‘Caverna de Platão’, mas, diferente deste, seu pensamento foi permeado pela experiência de unidade. Tudo é um; mesmo as imagens refletidas na ‘Caverna’. O que está subjacente a essa ideia é a ideia de ‘Uno’, que é imanente e transcendente.

Para ele, a sensação é contemplação pura, pois, é pelo seu exercício que se contrai, contemplando-se a si mesmo à medida que se contempla a beleza de uma obra. Sendo assim, as belezas exteriores nos encantam pelo fato de serem a manifestação dos tesouros do interior. Por isso, devemos organizá-las de acordo com o mundo inteligível que constitui o caminho de volta para o reino espiritual. Nesse aspecto, a beleza sensível é uma beleza secundária que se deriva da beleza suprassensível do ‘Uno’, logo, a beleza que conhecemos é o reflexo de outra beleza mais perfeita. Então, tudo será mais belo quanto mais participar da beleza suprassensível. Sendo assim, o belo, isto é, a beleza verdadeira apenas existe no intelecto, ou seja, no nosso interior, onde o contemplamos como se fosse o próprio Deus.

Plotino, exaltara em sua obra que o belo situa-se em um lugar secreto, pois, o caminho é mais longo, ou seja, para além da obra, para o inauditável. O belo tem nele, o condão de fazer o homem conectar-se consigo mesmo e fazê-lo (re)lembrar sua origem divina, pois, é o esplendor do verdadeiro, é radiante e torna-se sensível na arte. Paradoxalmente, a beleza sensível, apenas é a força motriz que conduz o homem a contemplar o belo incorpóreo, pois, revela algo que o transcende, ou seja, algo inteligível. Ele expôs suas ideias no Tratado sobre o belo (início das Enéadas), que é, certamente, o escrito mais conhecido e comentado. Nele encontram-se críticas dirigidas às teorias estéticas de Aristóteles e dos aristotélicos que fundam a beleza na simetria e na ordem.

Exerceu forte influência no pensamento estético da Idade Média e no Renascimento, refletindo em toda a concepção artística. Influenciou Agostinho e deu importante contribuição ao neo-platonismo renascentista. Na narrativa autobiográfica de Agostinho observa-se como o neoplatonismo o fascinara. Logo, é verossímil afirmar que, certamente, Plotino também terá influenciado Pascal através do seu mestre, principalmente no que tange a sua visão mística, pois, ele mostrava-se um verdadeiro guia espiritual, indicando o caminho pelo qual se deve ir até chegar ao término desejado.

No caso de Pascal, como se sebe, ele foi o grande místico e apologeta e, através da sua principal obra Pensamentos queria persuadir os incrédulos e indiferentes, sobre a importância de acreditar que, além da(s) beleza(s) contingentes do mundo físico e de tudo que habita nele, existe um ente supremo que transborda e carrega toda beleza e a verdade. Plotino o define como o ‘Uno’, e Pascal como o ‘Deus absconditus’, isso porque ele se encontra distante e escondido dos homens desde os primórdios. Por isso, muitos vivem procurando por ele, na beleza das coisas sensíveis presentes na natureza (uma paisagem, o por do sol, uma obra de arte, um jardim florido), todos refletindo a cópia imperfeita de uma realidade além da nossa visão física, incapaz de contemplar a verdade, o bem e o belo em si.   

Ao longo da sua obra, certamente, Pascal não se preocupara, efetivamente, com uma estética propriamente dita, no entanto, é crível afirmar que, a semelhança de Plotino, ele não valorizava a beleza sensível das coisas, pois, ambos, partem do pressuposto que a verdadeira beleza reside em outra dimensão, ou seja, no transcendente e não no imanente, e que o imanente é apenas a manifestação imperfeita da beleza suprema do transcendente, como já havia afirmado Platão em sua teoria das ideias ou das formas.

Desta forma, é inegável que existe um nexo, ainda que tênue que os une, pois, é possível enxergar a influência da visão platônica nos dois pensadores. Plotino por ter transformado o platonismo, certamente, foi o mais influenciado, pois, Pascal só chega a Platão indiretamente através de Agostinho. No entanto, em ambos, a valorização do transcendente e, nesse caso específico, o da verdadeira beleza além da mera aparência, configura-se como um nexo onde é possível identificar nos dois, semelhanças que os torna herdeiros de uma mesma tradição no qual muitos pensadores forjaram suas identidades filosóficas.  

Atualmente, com a supervalorização dos corpos e da beleza física, ou seja, do predomínio ditatorial da beleza, em certos casos, é um indicador da decadência da humanidade. A ‘cultura da beleza’ tornou-se a expressão incontestável da super exposição dos corpos contrariando, o “Cogito, ergo sum”, ou seja, o “Penso, logo existo” (cartesiano) que ganhou um novo significado “Posto, logo existo”, pois, no mundo virtual das mídias sociais, a beleza passou a ser editada e reeditada com filtros dando a todos a possibilidade de se apresentarem de forma a agradar aos outros. Chegamos ao ponto em que a beleza espelhada nas mídias sociais, não existir na realidade.

Nesse sentido, o predomínio e o cultivo exacerbado da falsa beleza externa coloca um problema de fundo cultural, político civilizatório, educativo e de doação de sentido. Precisamos olhar mais para as civilizações orientais, onde existe uma cultura que valoriza cada vez mais a interioridade, a verdade, a espiritualidade, o ser [...], pois, nós, no ocidente, caminhamos para o desconhecido. Ou seja, para uma cultura trivial que hipervaloriza a exterioridade em detrimento da interioridade, cuja pretensão falaciosa da aparência e do físico perfeito ser revelador do belo em si, apresentado em belas imagens nas mídias sociais.

Dante disso, precisamos nos tornar o que nós somos, conhecer a nós mesmos, através do exercício da transpessoalidade, ou seja, trabalhar nosso sentimento de beleza e verdade interior, redescobrir o que nos habita no mais profundo sentido da palavra: ‘torna-te quem tu és’ nietzschiano ou “conhece-te a ti mesmo” socrático. Isso será possível através do autoconhecimento que implica, exatamente, a dimensão espiritual do ser humano cuja finalidade é afastar o homem de uma ‘secular ignorância’ a começar pela ‘ignorância de si mesmo’ que é o princípio da sabedoria, como apontava sabiamente Sócrates. 

*Doutor em Ciência da Religião pela

 Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – Brasil. 

Niterói, aos 08/03/2021

ARTIGO ORIGINALMENTE PUBLICADO NO "MINDEL INSITE" CABO VERDE