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quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

PASCAL E DESCARTES



Um maravilhoso encontro entre dois vultos da filosofia moderna “René Descartes e o Jovem Blaise pascal”. Diálogo esse que gira em torno da “busca de certeza do conhecimento”. Por um lado, Descartes procurava afirmar a possibilidade de um conhecimento certo e seguro ao propor um método que partindo da dúvida seguisse por noções claras até alcançar a verdade; em contrapartida, Pascal quis reavaliar a ideia de possibilidade de conhecimento e refutar a doutrina cartesiana com o argumento da limitação e distinção natural de cada modo de apreender que dispõem o homem.

Partindo da concepção de que não podemos julgar certamente, pois ainda não dispomos de uma doutrina que nos forneça ideias claras, como poderíamos tomar qualquer coisa por certo? Na verdade não poderíamos, qualquer caminho escolhido em meio a tanta confusão se provará correto ao fim do percurso quando se avaliar o trajeto.

A escolha se manifesta em contornos relativos. Parece ser melhor seguir com resolução no mesmo caminho para não vagar a esmo na busca pelo saber verossímil. Com a impossibilidade de julgar com segurança como queria Pascal e de que Descartes concorda até certo ponto, faz-se necessário uma moral provisória para ser resoluto no caminho escolhido e para cultivar a razão com o propósito de no fim conhecer certamente todas as coisas gerais (DESCARTES, 1994, p. 59).


O método cartesiano, criado por René Descartes, consiste no ceticismo metodológico - duvida-se de cada ideia que pode ser duvidada. Ao contrário dos gregos antigos e dos escolásticos, que acreditavam que as coisas existem simplesmente porque precisam existir, ou porque assim deve ser, Descartes institui a dúvida: só se pode dizer que existe aquilo que possa ser provado. O próprio Descarte consegue provar a existência do próprio eu (que duvida, portanto, é sujeito de algo - cogito ergo sum, penso logo existo). O ato de duvidar como indubitável.

Também consiste o método na realização de quatro tarefas básicas: 
a)  Verificar se existem evidências reais e indubitáveis acerca do fenômeno ou coisa estudada; consiste em nunca aceitar algo como verdadeiro sem conhecê-lo evidentemente como tal, isto é, evitar cuidadosamente a precipitação e a prevenção; não incluir nos meus juízos nada que não se apresentasse tão clara e distintamente à minha inteligência a ponto de excluir qualquer possibilidade de dúvida.

b) Analisar, ou seja, dividir ao máximo as coisas, em suas unidades de composição, fundamentais, e estudar essas coisas mais simples que aparecem. Trata de dividir o problema em tantas partes quantas fossem necessárias para melhor poder resolvê-lo.

c)  Sintetizar, ou seja, agrupar novamente as unidades estudadas em um todo verdadeiro; e conduzir por ordem os meus pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para subir pouco a pouco, gradualmente, até o conhecimento dos mais compostos; e admitindo uma ordem mesmo entre aqueles que não apresentam nenhuma ligação natural entre si.

d) Enumerar todas as conclusões e princípios utilizados, a fim de manter a ordem do pensamento, ou seja, fazer enumerações tão completas, e revisões tão gerais, que tivesse certeza de nada ter omitido.

Pascal defende que, conhecemos a verdade, não só pela razão, mas também pelo coração; é desta última maneira que conhecemos os princípios, e é em vão que o raciocínio, que deles não participa, tenta combatê-los (Blaise Pascal).

A fundamentação do conhecimento em Pascal, ao invés de apontar para a capacidade ilimitada da razão “suficiência humana” como defende Descartes, indica antes a existência de limites “insuficiência epistemológica” que impede o homem de conhecer com tudo certeza. Por mais que conheça, o homem está encurralado num provincianismo cognitivo, por isso, jamais, poderá alcançar os limites da suficiência. Mesmo sendo feito visivelmente para pensar, ele se esbarra com os limites epistemológicos, aos quais ele não pode escapar.

Por isso, propõe o pluralismo metodológico para chegar à verdade, ou seja, não há um método por excelência para chegar a verdade, mas sim, um conjunto de métodos, o que quer dizer que para cada situação existirá um método específico, uma vez que não podemos, por exemplo, definir ou demonstrar a certeza relativa aos fundamentos que sustentam a razão, mas podemos ao menos definir e demonstrar tudo que vier após os fundamentos.

Para pascal existem duas formas para chegar ao conhecimento, o coração e a razão. O coração é responsável por captar os primeiros princípios (conhecimento intuitivo) e a razão cabe fazer a demonstração desses princípios “conhecimento demonstrativo”. Por isso, é impossível pedir ao coração que demonstre qualquer coisa que ou então pedir a razão que sinta alguma coisa, cada um atua no seu âmbito. Quando Pascal afirma “O coração tem razões que a razão desconhece” quer com isso, reafirmar a importância dessas duas faculdades para o conhecimento e ao mesmo tempo reconhece que ambos têm seus limites. Onde um opera com legitimidade, o outro não interfere...

Concluído, verifica-se que Descartes defende a suficiência humana, ou seja, a capacidade do homem conhecer através da razão, e, por outro lado Pascal defende a insuficiência humana, apontando o limite racional e empírico para se chegar ao conhecimento, ou seja, está vedado ao homem, a possibilidade de chegar ao conhecimento pela razão e o mesmo acontece no que tange a experiência empírica.

Arlindo Rocha
Graduado em Filosofia

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