Um maravilhoso encontro entre
dois vultos da filosofia moderna “René Descartes e o Jovem Blaise pascal”.
Diálogo esse que gira em torno da “busca de certeza do conhecimento”. Por um
lado, Descartes procurava afirmar a possibilidade de um conhecimento certo e
seguro ao propor um método que partindo da dúvida seguisse por noções claras
até alcançar a verdade; em contrapartida, Pascal quis reavaliar a ideia de
possibilidade de conhecimento e refutar a doutrina cartesiana com o argumento
da limitação e distinção natural de cada modo de apreender que dispõem o homem.
Partindo da concepção de que
não podemos julgar certamente, pois ainda não dispomos de uma doutrina que nos
forneça ideias claras, como poderíamos tomar qualquer coisa por certo? Na
verdade não poderíamos, qualquer caminho escolhido em meio a tanta confusão se
provará correto ao fim do percurso quando se avaliar o trajeto.
A escolha se manifesta em
contornos relativos. Parece ser melhor seguir com resolução no mesmo caminho
para não vagar a esmo na busca pelo saber verossímil. Com a impossibilidade de
julgar com segurança como queria Pascal e de que Descartes concorda até certo
ponto, faz-se necessário uma moral provisória para ser resoluto no caminho
escolhido e para cultivar a razão com o propósito de no fim conhecer certamente
todas as coisas gerais (DESCARTES, 1994, p. 59).
O método cartesiano,
criado por René Descartes, consiste no ceticismo metodológico - duvida-se de
cada ideia que pode ser duvidada. Ao contrário dos gregos antigos e dos
escolásticos, que acreditavam que as coisas existem simplesmente porque precisam existir,
ou porque assim deve ser, Descartes institui a dúvida: só se pode dizer que
existe aquilo que possa ser provado. O próprio Descarte consegue provar a
existência do próprio eu (que duvida, portanto, é sujeito de algo - cogito ergo
sum, penso logo existo). O ato de duvidar como indubitável.
Também consiste o método na
realização de quatro tarefas básicas:
a)
Verificar se
existem evidências reais e indubitáveis acerca do fenômeno ou coisa estudada;
consiste em nunca aceitar algo como verdadeiro sem conhecê-lo evidentemente
como tal, isto é, evitar cuidadosamente a precipitação e a prevenção; não
incluir nos meus juízos nada que não se apresentasse tão clara e distintamente
à minha inteligência a ponto de excluir qualquer possibilidade de dúvida.
b) Analisar, ou
seja, dividir ao máximo as coisas, em suas unidades de composição,
fundamentais, e estudar essas coisas mais simples que aparecem. Trata de
dividir o problema em tantas partes quantas fossem necessárias para melhor
poder resolvê-lo.
c) Sintetizar, ou
seja, agrupar novamente as unidades estudadas em um todo verdadeiro; e conduzir
por ordem os meus pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais
fáceis de conhecer, para subir pouco a pouco, gradualmente, até o conhecimento
dos mais compostos; e admitindo uma ordem mesmo entre aqueles que não
apresentam nenhuma ligação natural entre si.
d) Enumerar todas
as conclusões e princípios utilizados, a fim de manter a ordem do pensamento,
ou seja, fazer enumerações tão completas, e revisões tão gerais, que tivesse
certeza de nada ter omitido.
Pascal defende que, conhecemos
a verdade, não só pela razão, mas também pelo coração; é desta última maneira
que conhecemos os princípios, e é em vão que o raciocínio, que deles não participa,
tenta combatê-los (Blaise Pascal).
A fundamentação do
conhecimento em Pascal, ao invés de apontar para a
capacidade ilimitada da razão “suficiência humana” como defende Descartes,
indica antes a existência de limites “insuficiência epistemológica” que impede
o homem de conhecer com tudo certeza. Por mais que conheça, o homem está
encurralado num provincianismo cognitivo, por isso, jamais, poderá alcançar os
limites da suficiência. Mesmo sendo feito visivelmente para pensar, ele se
esbarra com os limites epistemológicos, aos quais ele não pode escapar.
Por isso, propõe
o pluralismo metodológico para chegar à verdade, ou seja, não há um método por
excelência para chegar a verdade, mas sim, um conjunto de métodos, o que quer
dizer que para cada situação existirá um método específico, uma vez que não
podemos, por exemplo, definir ou demonstrar a certeza relativa aos fundamentos
que sustentam a razão, mas podemos ao menos definir e demonstrar tudo que vier
após os fundamentos.
Para pascal
existem duas formas para chegar ao conhecimento, o coração e a razão. O coração
é responsável por captar os primeiros princípios (conhecimento intuitivo) e a
razão cabe fazer a demonstração desses princípios “conhecimento demonstrativo”.
Por isso, é impossível pedir ao coração que demonstre qualquer coisa que ou então
pedir a razão que sinta alguma coisa, cada um atua no seu âmbito. Quando Pascal
afirma “O coração tem razões que a razão desconhece” quer com isso, reafirmar a
importância dessas duas faculdades para o conhecimento e ao mesmo tempo
reconhece que ambos têm seus limites. Onde um opera com legitimidade, o outro
não interfere...
Concluído,
verifica-se que Descartes defende a suficiência humana, ou seja, a capacidade
do homem conhecer através da razão, e, por outro lado Pascal defende a insuficiência
humana, apontando o limite racional e empírico para se chegar ao conhecimento,
ou seja, está vedado ao homem, a possibilidade de chegar ao conhecimento pela
razão e o mesmo acontece no que tange a experiência empírica.
Arlindo Rocha
Graduado em Filosofia
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