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domingo, 21 de outubro de 2012

Blaise Pascal e Friedrich Nietzsche



A figura de Blaise Pascal (1623-1662), matemático, filósofo moralista e teólogo francês, importante representante moderno do cristianismo, sempre provocou em Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844-1900), influente filósofo alemão do século XIX, uma dupla reação. Abundam na obra de Nietzsche referências respeitosas ao “gênio” de Pascal enquanto filósofo, porém, Nietzsche não hesita em criticar Pascal, quando o assunto gira em torno da moral e da religião cristã.

Pascal viveu numa época em que a fé cristã tinha como pano de fundo o racionalismo e o ceticismo, o que representava para Nietzsche o expoente religioso da negação metafísica do mundo.  Na obra Aurora (1881), Nietzsche critica explicitamente a moral cristã, e Pascal aparece como um exemplo mórbido de como um intelecto brilhante se deixou seduzir pela visão cristã do mundo. Tal lamento nietzschiano encontra a sua expressão mais clara na passagem de Além do Bem e do Mal (1886), em que descreve a “fé de Pascal” como um “contínuo suicídio da razão” e um “sacrifício do intelecto”.

Paradoxalmente, em Ecce Homo (1888), Nietzsche reúne na mesma afirmação admiração e crítica, ao declarar “amar” Pascal como “a mais instrutiva vítima do cristianismo, lentamente assassinado”. Como se vê, Pascal é encarado por Nietzsche de uma forma ambivalente.

Tanto Pascal quanto Nietzsche são mestres da expressão concentrada e fragmentária. Pascal o declara na célebre passagem dos Pensées, 373 intitulada Pirronismo: “Escreverei aqui meus pensamentos sem ordem, não em uma confusão sem objetivo: esta é a verdadeira ordem...” Nietzsche, é o grande mestre alemão do aforismo. Ambos  possuem em comum várias posições filosóficas, como:
1) o combate ao otimismo superficial e ao racionalismo de sua época.
2) uma certa concepção – diferente mas às vezes coincidente – do ceticismo.
3) a eleição do “perspectivismo” como forma necessária do conhecimento humano
e da formação de valores.

Pascal e Nietzsche compartilham uma insatisfação essencial com relação à condição humana atual. Porém, ambos buscam um ideal de perfeição superior à existência meramente biológica. Então o cristianismo trágico de Pascal e a filosofia trágica e anticristã de Nietzsche mantêm algo mais do que uma mera relação de exclusão recíproca.

É interessante observar que, tanto um com outro ganham importância, para a filosofia moderna e contemporânea, quando confrontados com a questão da moderna da crise religiosa: o “pessimismo” do “eu odioso” pascaliano e a “crítica” do “niilismo” em Nietzsche se encontram na visão de um homem “estranho a si mesmo” presente nas interrogações contemporâneas sobre a essência do homem.

Estudar Pascal e Nietzsche é muito mais do que apresentar um conflito entre ateísmo e cristianismo, é talvez, tentar mostrar que o ateísmo de Nietzsche pode incluir uma relação ambivalente com aquele que foi criticado por Voltaire.

A partir do artigo de  José Thomaz Brum  professor do Curso de Especialização em História da Arte da  (PUC-RIO).  http://www.fflch.usp.br/df/gen/pdf/cn_08_02.pdf


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