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quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

ANIQUILAMENTO


A ideia do nada.

A ideia do nada é um dos três termos de um esquema importante no pensamento de Blaise Pascal. Ele difere o nada pelas suas dimensões, sua irresistência e sua imobilidade o distinguem da matéria.

Segundo Pascal “a conversão verdadeira consiste em se aniquilar-se...”, ou seja, tornar-se um “nada”. O que é então, esse nada? A palavra “nada” tem muitos significados. É empregado para traduzir ex nihilo quando se fala da criação: “O homem foi criado do nada”. A palavra designa um termo da alternativa: ser ou não ser, existir ou não existir, o “nada” antes do nascimento, o “nada” que consiste na morte no pensamento dos ímpios: “só sei que ao sair deste mundo, caio para sempre no nada, ou nas mãos de um deus irritado”.

A ideia do “nada” também tem uma função de negação, “um nada de número”, “um nada de movimento”, “um nada de tempo”, “um nada de extensão”. O geômetra pensa o “nada” como uma espécie de passagem ao limite considerando os infinitamente pequenos, “... algum movimento, algum número, algum espaço, algum tempo que seja, disso há sempre um maior e um menor. Eles se sustêm entre o nada e o infinito, estando infinitamente distantes desses extremos.  

Em Do Espirito Geométrico, a ideia do nada pode ser representada pelo numero zero “... zero não é do mesmo gênero dos números, porque sendo multiplicado não pode ultrapassa-los...”; logo é um verdadeiro indivisível de número, como o indivisível é um verdadeiro zero de extensão. A palavra “nada” é convocada pelo problema da divisibilidade ao infinito e “o conhecimento do nada”, obtido pela passagem ao limite. “Por pequeno que seja o número... pode-se ainda conceber-lhe um menos, e sempre ao infinito, sem chegar ao zero”.

Em Física, a palavras “nada” foi ligada ao problema do vácuo. Pascal escreve que, não há nada tão contrário ao ser quanto o nada. É preciso chega ao conhecimento do nada, conhecer uma inteira privação de todos os tipos de qualidades e de efeitos.

Quando se trata da vida espiritual, a palavras “nada” em um contexto que significa valores que vão impor um dever de aniquilamento. Para saber o que as palavras “nada” e “aniquilamento” significam na linguagem da espiritualidade, o melhor é tomar como guia Bérulle, que explica que o homem é três vezes nada.

Primeiro, é nada como criatura tirada do nada e que lhe conserve a marca na dependência do Criador. O ser verdadeiro é aquele que existe por si, segundo, o ser é nada como pecador, o pecado que o separa do criador rejeitou-o ao nada; terceiro, o ser é nada como reparação, poie o que a graça dá se não o poder de aniquilar-se diante de deus, de tornar-se um nada nas mãos de Deus. Os dois primeiros casos designam condições: a de criatura e a de pecador. O terceiro faz intervir uma operação: há nada lá onde há aniquilamento, nesse caso, tudo está no verbo “aniquilar-se”.

Os dois primeiros nadas definidos por Bérulle, aparecem nos textos de Pascal. O primeiro nada é a finitude própria à natureza de ser criado. Ele sugere com o esquema entre-dois na sua versão antropológica no fim do opúsculo Do Espirito geométrico e desdobrado minunciosamente no fragmento sob o título “Desproporção do homem”. Para se conhecer, o homem deve começar por situar num mundo que é “uma esfera infinita cujo centro está em toda a parte, a circunferência em parte alguma”. Entre dois abismos do infinito e do nada estremecerá à vista dessas maravilhas...

Segundo a definição do homem entre-dois, Pascal define o homem como sendo: um nada em relação ao finito, e um tudo e relação ao nada, um meio entre o nada e o tudo... Nesse contexto a palavras “nada” tem dois sentidos. O sentido ex nihilo que afirma um “nada absoluto” e um “tudo em relação ao nada”, não havendo contradição nesse e noutro trecho quando Pascal afirma que “nós somos algo e não somos tudo”...

No vocabulário da espiritualidade, o homem é nada relativo,mas no interior de uma relação com o ser incriado. Se usássemos a definição de Descartes, diríamos: no primeiro caso, o homem é nada em relação ao universo indefinido e, no segundo, o é em relação a Deus infinito.

GOUHIER, Henri – Blaise Pascal – “Conversão e apologética”.

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