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domingo, 27 de novembro de 2011

A NATUREZA DO AMOR-PRÓPRIO


A natureza do amor-próprio e deste Ego humano é só amar e, só considerar a si mesmo. A que pode levar? Não poderá impedir que esse objeto que ama esteja cheio de defeitos e misérias. O homem, quer ser grande, e acha-se pequeno. Ele quer estar feliz, e acha-se miserável. Ele quer estar perfeito, e acha-se cheio de imperfeições. Ele quer ser o objeto do amor e da estima dos homens, e vê que as misérias, só merecem  ódio e desprezo. Este embaraço no qual ele se acha produz nele a paixão mais injusta e criminal que pode ser imaginada; porque ele concebe uma inimizade mortal contra aquela verdade que o reprova e que o convence das misérias dele. Ele aniquilaria isto, mas, incapaz para destruir-lo em sua essência, ele destrói até onde possível no próprio conhecimento dele e dos outros; quer dizer, ele dedica toda sua atenção a esconder as suas misérias e a dos outros, isto é, por tudo o seu cuidado em encobrir os próprios defeitos a si mesmo e aos outros, e não suportar que o façam vê-los, nem que os vejam.
Verdadeiramente é um mal para estar cheio de faltas; mas é um mal ainda  maior  estar cheio deles e estar pouco disposto a reconhece-los, pois a ajuntar-lhes ainda o de uma ilusão voluntária. Nós não gostamos que os outros nos enganem; não achamos justo que queiram ser estimados por nós mais do que merecem; não é, portanto, justo também que os enganemos e queiramos que nos estimem mais do que merecemos.  
Assim, quando eles descobrirem as imperfeições e vícios que nós realmente temos, está claro eles não nos fazem nada de errado, porque não foram eles os causadores; eles nos fazem um benefício, desde que nos ajudam a se livrar de um mal, isto é, a ignorância destas imperfeições. Nós não devemos estar bravo com eles, sabendo que conhecem nossas faltas e nos menosprezam.  
Tal é o sentimento que surgiriam num coração cheio de equidade e justiça. O que devemos dizer do nosso próprio coração, quando nós vemos que tem uma disposição diferente? Pois não é  que odiamos a verdade e os que no-la dizem? Que desejamos que se enganem, com vantagem para nós, diferente do que somos na realidade?
Eis uma prova que me causa horror. A religião católica não nos obriga a revelar nossos pecados indiferentemente a todo mundo: permite que os ocultemos de todos os outros homens; mas excetua o único, ao qual ordena que abrams o fundo do coração, e que nos mostremos tal como somos.
Somente a esses único homem, no mundo, nos ordena, ele nos ordena a confessar, mas obriga-o a um segredo inviolével, o que faz que o seu conhecimento de nossos pecados permaneça nele como se não existisse.
Será possível imaginar algo mais caritativo e mais suave? E, contudo, é tal a corrupção do homem que acha ainda a dureza nessa lei; e foi uma das principais razões que levaram grande parte da Europa a revoltar-se contra a Igrejja. Tão injusto e desarrazoado, é o coração do homem que lhe parece um mal ser obrigado a fazer, em relação a um só homem, o que seria justo, de certa maneira, que se fizesse em relação a todos os homens! Pois será justo que os enganemos?
Há diferentes graus nesses averção a verdade; mas pode-se dizer que até cero ponto, ela existe em todos, porque é inseparavel do amor-próprio. Assim, essas falsa delicadeza é que obriga os que tem necessidade a responder os outros a escolher tantos rodeios e manejos para não feri-los. Precisam diminuir os nossos defeitos, fingir desculpa-los, misturar louvores e testemunhos de afeição e estima. E, mesmo assim, este remédio não deixa de ser amargo ao amor-próprio. Tomamos dele o menos que podemos, e sempre com repugnância e muitas vezes com um secreto despeito contra o que no-lo apresentam. Por isso, acontece que, quando alguém tem interesse em ser amado por nós, foge de prestar-nos um serviço que sabe ser-nos esagradável, trata-nos como desejamos ser tratados, odiamos a verdade, a verdade é nos ocultada; esejamos ser adulados, adula-nos; gostamos de ser enganados, engana-nos; por isso, cada grau na escada da fortuna, que nos eleva no mundo, afasta-ns mais da verdade, pois teme-se ferir aqueles cuja afeição é mais útil, cuja a averção mais perigosa.
Um príncipe pode tornar-se o divertimento de toda a Europa, e ser o único a ignorá-lo. Não me admira: a verdade é útil àquele a quem é dita, mas desvantajosa para quem a dizem, porque se tornam odiosos. Ora, s que vivem com os príncipes preferem oos seus interesses ais do príncipe que servem; por isso, não se preocupam em proporciona-lhe uma vantagem, prejudicando-se a si mesmos. Esta infelicidade é, sem dúvida, maior e mais comum nas fortunas mais avantajadas;mas as menores não lhe escapam, porque há sempre algum interesse em se tornar amável.
Assim, a vida humana nada mais é do que uma perpétua ilusão, não fazemos outra coisa se não nos enganarmos e adularmos mutuamente. Ninguém fala de nós em nossas presença como fala em nosssa ausência. A união existente entre os homens assenta apenas nesses mútuo engano; e poucas amizades subsistiriam se todos soubessem o que deles dizem os amigos quando não estão presentes, mesmo quando falam com sinceridade e sem paixões.
O homem não passa, portanto, de disfarce, mentira, e hipocrisia, tanto em face de si próprio como em relação aos outros. Não quer que lhe digam as verdades e evita dize-las aos outros; e todos esses propósitos, tão alheios à justiça e a razão, tem no seu coração raízes naturais.   
PASCAL "Os Pensadores" Frag 100. 

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