Diz o Eclesiastes que
"o coração dos homens está cheio de maldade e de loucura durante toda a
vida" (Ec 9.3). Pascal sabia muito bem disso! Quem não se conhece cheio de
soberba, de ambição, de concupiscência, de fraqueza e de injustiça é bastante
cego. Precisamos baixar os olhos para a terra para nos vermos como míseros
vermes, e olhar para as feras das quais somos companheiros.
Hoje o homem se tornou
semelhante aos animais, num tal afastamento de Deus que apenas lhe resta uma
luz confusa de seu Criador. A encarnação de Jesus mostra ao homem a grandeza de
sua miséria pela grandeza do remédio que ele precisa.
Existe uma guerra interior
no homem, entre a razão e as paixões. Sem a razão haveria só paixão. Mas
existem uma e outra e elas não podem existir sem guerra. O homem está dividido
dentro de si mesmo.
Os inimigos dos homens
não são as drogas, o álcool, mas as suas paixões. Poucos falam humildemente
sobre humildade. Somos mentirosos, temos duas caras e vivemos sob disfarces na
tentativa de ocultar dos outros o que realmente somos.
Como o coração do homem
é oco e cheio de baixeza! Se o homem se eleva, eu o rebaixo; se ele se abaixa,
eu o levanto e o contradigo sempre até que ele se compenetre de que é um
monstro incompreensível. Sem a graça de Deus o homem não é senão um sujeito
cheio de erros inapagáveis.
Nós não somos senão
mentiras, duplicidades, contrariedades. Nós nos escondemos e nos destruímos a
nós mesmos. Somos tão presunçosos que gostaríamos de ser conhecidos em toda a
Terra e também daqueles que virão quando não estivermos mais aqui. Somos tão
vaidosos que a estima que nos rodeia nos ilude e nos deixa contentes.
Nascemos injustos e
depravados. Estamos cheios de concupiscências; portanto, cheios de mal. Assim,
deveríamos odiar a nós mesmos e a tudo o que nos excita a outro vínculo que não
seja somente Deus.
Perdemo-nos nos vícios
e não vemos mais a virtude.
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