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sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Blaise Pascal - prodígio científico e espiritual



"O coração tem suas razões que a própria razão desconhece."


"Quem precisa de Deus? O homem pode fazer isso sozinho." Assim reivindicava a filosofia racionalista que capturou a imaginação da França do século XVII. Seus campeões, Voltaire e Descartes, entre outros, tentaram criar uma visão de mundo governada completamente pela razão.

O matemático e físico francês Blaise Pascal, embora criado no auge do pensamento iluminista, achou a razão inadequada: "O último passo da razão é o reconhecimento de que há um número infinito de coisas que estão além dela". Ele concluiu: "O coração tem suas razões, que a própria razão desconhece" - uma afirmação que logo se tornou a principal crítica do racionalismo e o ponto de partida para uma defesa da fé cristã que ainda hoje influencia as pessoas.

Prodígio científico

A mãe de Pascal morreu quando ele tinha três anos e seu pai mudou com a família de Clermont-Ferrand, na França, para Paris, onde passou a ensinar Pascal e sua irmã. Aos 10 anos, Pascal iniciou alguns experimentos originais em matemática e ciências físicas. Para ajudar seu pai, que era cobrador de impostos, ele inventou o primeiro dispositivo de cálculo (alguns chamam de o primeiro "computador").

Com esta última invenção, ele fez um nome para si mesmo (aos 19 anos) E começou sua carreira científica ricamente diversa. Ele testou as teorias de Galileu e Torricelli (que descobriram os princípios do barômetro), culminando em sua famosa lei da hidráulica, que afirma que a pressão na superfície de um fluido é transmitida igualmente para todos os pontos do fluido. Ele acrescentou documentos importantes sobre o vácuo, o peso e a densidade do ar e o triângulo aritmético. Ele desenvolveu a teoria da probabilidade, que ainda é usada hoje. Ele inventou a seringa, o elevador hidráulico, e é creditado por ter inventado o relógio de pulso e mapeado a primeira rota de ônibus em Paris. 

"Noite de fogo"

Durante todo o tempo, Pascal estava explorando o mundo espiritual, que estava passando por uma revolução em toda a Europa. Enquanto o pietismo floresceu na Alemanha e a santidade wesleyana se espalhou pela Inglaterra, a França católica estava sentindo os efeitos do jansenismo - uma forma de agostinismo que ensinava a predestinação e graça divina, ao invés de boas obras, como vital para a salvação.

Em 1646, Pascal entrou em contato com o jansenismo e apresentou-o a sua irmã Jacqueline, que finalmente entrou no convento de Port-Royal, um centro do jansenismo. Pascal, no entanto, continuou a lutar espiritualmente: ele lutou com a dicotomia entre o mundo e Deus.

Então, em 23 de novembro de 1654, Pascal experimentou uma "conversão definitiva" durante uma visão da crucificação:

"Das dez e meia da noite às doze e meia... FOGO... Deus de Abraão, Deus de Isaac, Deus de Jacó, e não dos filósofos e sábios. Certeza. Certeza. Certeza. Sentimento. Alegria. Paz."

Ele gravou a experiência (chamada "Memorial") em um pedaço de pergaminho, que levou com ele o resto da vida, costurado dentro do casaco. Ele iniciou uma associação ao longo da vida com Port-Royal - embora, ao contrário de sua irmã, nunca tenha se tornado um "solitário".

Paixão por Cristo

Suas maiores obras não são apenas obras-primas da prosa francesa, mas também excelentes defesas da fé cristã.
Les Provinciales, 18 ensaios considerados brilhantes ironia e sátira, atacou os jesuítas e defendeu a demanda dos jansenistas por um retorno à moralidade e à crença de Agostinho na graça divina. A igreja católica colocou Les Provinciales no índice, condenando-o, mas sem reprimir a controvérsia que provocou.

Pensées, uma coleção dos "pensamentos" de Pascal que ele pretendia apresentar como uma apologia, foi publicada após sua morte. Nele, Pascal retratou a humanidade como suspensa entre miséria e grandeza, e desamparada sem Deus. As pessoas tentam evitar o abismo envolvendo-se em distrações. Pascal denunciou a ideia de que somente a razão e a ciência podem levar uma pessoa a Deus. Somente experimentando Cristo as pessoas podem conhecer a Deus.

A crença vem do "coração", que, para Pascal não era apenas sentimentos e sentimentos, mas a intuição que entende sem ter que usar a razão. E a graça de Deus faz com que isso aconteça: "Não se surpreenda ao ver pessoas simples que acreditam sem argumentar. Deus as faz amá-lo e odiar a si mesmas. Ele inclina seus corações a acreditar. Nunca acreditaremos com uma fé vigorosa e inquestionável, a menos que Deus toca nossos corações; e creremos assim que ele o fizer."

Nas Pensées, Pascal também apresenta seu famoso argumento pela fé: a aposta. Como a razão não pode dar uma certeza absoluta, argumentou ele, toda pessoa deve arriscar acreditar em alguma coisa. Quando se trata da fé cristã, ele disse, uma pessoa sábia aposta nela porque: "Se você vence, ganha tudo; se perde, não perde nada."

Voltaire e outros estudiosos denunciaram Pascal como um fanático desanimador. Incontrolável ou não, ele viveu a maior parte de sua vida com um corpo frágil, e suas muitas doenças finalmente cobraram seu preço aos 39 anos.

Fonte: https://www.christianitytoday.com/history/people/evangelistsandapologists/blaise-pascal.html. Acesso em 11/10/2019. 

quarta-feira, 3 de julho de 2019

CADERNOS ESPINOSANOS [USP-SP]: n. 40 (2019): ESPECIAL BLAISE PASCAL




APRESENTAÇÃO


O novo número dos Cadernos Espinosanos dedica-se à filosofia de Blaise Pascal, notória e multifacetada figura do pensamento seiscentista que se dedicou aos mais diversos campos do saber: da geometria à apologia, da física à ética. Os artigos apresentados tiveram por base algumas das conferências e comunicações do Colóquio Pascal, realizado no Departamento de Filosofia da USP em junho de 2017, com organização dos pesquisadores Luís César Oliva, João Cortese e Ricardo Mantovani, também organizadores deste número. O leitor encontrará nas  páginas  seguintes  reflexões sobre o famoso argumento da aposta, sobre as relações entre o  finito e o infinito, sobre os limites de conhecimento, sobre a argumentação  cética e até mesmo sobre a presença de Pascal na obra de Fernando Pessoa. A diversidade dos artigos reflete bem a diversidade da obra deste instigante filósofo. Completam o número uma tradução do opúsculo pascaliano Prefácio sobre o Tratado do Vácuo e uma resenha.

Artigos disponíveis em
http://www.revistas.usp.br/espinosanos/


Boa leitura!
Os Editores


segunda-feira, 1 de julho de 2019

PARADOXOS DA CONDIÇÃO HUMANA: GRANDEZA E MISÉRIA COMO PARADOXO FUNDAMENTAL EM BLAISE PASCAL


DEPOIMENTOS...

ANDREI VENTURINI MARTINS, pesquisador, escritor e professor de filosofia do Instituto Federal de São Paulo, estudioso de Pascal no Brasil que fez parte da minha BANCA DE DEFESA DO MESTRADO (2016) e BANCA DE QUALIFICAÇÃO DE DOUTORADO (2019) gravou essa mensagem sobre meu livro.


FLÁVIO HAMILTON, um cara que tenho a honra de chamar de AMIGO. Um HOMEM que, desde os tempos que iniciamos juntos no teatro (há mais de 20 anos), nutro uma admiração especial. Atualmente, ATOR profissional, um dos poucos da nossa geração do (GTCCP) que tem representado o nosso país além das fronteiras nacionais com zelo e competência ímpares. Gentilmente gravou esse vídeo falando do meu livro... 


CRISTINE REIS OITTICA, professora, Mestre pela PUC-SP, estudiosa de Pascal gravou esse vídeo sobre o meu livro...


JOÃO BRANCO, um amigo que o destino colocou no meu caminho há mais de 20 anos, professor, ator, diretor de teatro com quem aprendi lições que fizeram e fazem a diferença na minha vida. Um empreendedor cultural que não mede esforços para dar a Cabo Verde e ao mundo o melhor de si. Ele gravou esta mensagem sobre meu último livro 


THAIS ROSA, Mestre em Engenharia de Produção e Gerente de Projetos gravou esse vídeo sobre meu livro.


RICARDO MANTOVANI, professor, escritor, estudioso do Pascal [Doutorando na USP], já publicou duas obras sobre seus estudos pascalianos, gravou esse vídeo sobre meu livro...


JOÃO PAULO BRITO, "Jota" para os mais íntimos, um amigo de longa data, ator, diretor, mas, sobretudo, um excelente comunicador e um profissional de excelência que muito faz para a cultura de Cabo Verde.Ele gravou esse vídeo falando sobre o meu livro "Paradoxos da Condição Humana".


Uma indicação de peso feita pela Cecília Milagros, minha filha que me ajuda a crescer como 'HOMEM' e entender cada vez mais "OS PARADOXOS DA CONDIÇÃO HUMANA"...


PRISCILLA LUNDSTEDT ROCHA, (minha Linda), companheira e parceira que me incentiva e apoia em todos os momentos. Ela mais do que ninguém, sabe o quão foi difícil a "gestação" e o "nascimento" dessa obra... Ela gravou esse vídeo falando um pouco sobre os 👉PARADOXOS DA CONDIÇÃO HUMANA👈



PARA ADQUIRIR UM OU MAIS EXEMPLARES, CLIQUE NO LINK: <https://www.eviseu.com/pt/livros/825/paradoxos-da-condicao-humana/ >. 

sexta-feira, 7 de junho de 2019

Paradoxos da condição humana: grandeza e miséria como paradoxo fundamental em Blaise Pascal - Apresentação

A grandeza do homem é grande por ele conhecer-se miserável; uma árvore não se conhece miserável. É então ser miserável conhecer (-se) miserável, mas é ser grande conhecer que se é miserável [PASCAL, 2005, p. 40]

Arlindo Nascimento Rocha[1]

Influenciado pela cultura pós-moderna, a maioria dos homens tende a cumprir a maldição do homem atualizado para definir a ilusão de que, quanto mais perto estamos da informação global, mais perto estaremos da sabedoria, e, consequentemente, mais felizes seremos. Esta miopia é parcela da nossa atual cultura, ou seja, do último homem interpretado como uma ‘paródia’ da tirania do bem-estar físico, típico da nossa época. O comum dos homens está convencido da sua dignidade, o semissábio denuncia sua fragilidade, mas, o sábio descobre que a sua verdadeira dignidade reside no pensamento, que não deveria referir unicamente à dimensão epistemológica, uma vez que, é imprescindível a dimensão ética em que a dignidade humana deveria manifestar-se através do reconhecimento da sua grandeza miserável. Entretanto, o grande problema, é que a maior parte dos homens comporta-se contrariamente a essa advertência e buscam o conhecimento e a felicidade onde não podem encontrá-los, uma vez que, a maioria das pistas a serem percorridas, são como circuitos fechados, redondos ou elípticos, não levam a lugar nenhum, e servem apenas para correr em círculos, assevera Morin.

Contemporâneo de Descartes, Blaise Pascal vive uma época que procura enaltecer as potencialidades humanas e principalmente a existência racional do homem. Sendo a razão aquilo que nos distingue, somente o seu uso autônomo e integral, pode ser o caminho para a realização humana. Embora Pascal tenha vivido no contexto histórico do século XVII, cuja característica mais forte, foi o racionalismo cartesiano, distingue-se profundamente, nos princípios e nas consequências do estilo de pensamento que marcou de maneira decisiva os rumos da Filosofia Moderna.

No horizonte da sua Apologia está o conhecimento de Deus e do homem, mais precisamente, a tentativa de compreender a natureza humana através de sua procedência divina e a tentativa de compreender algo de Deus por via de sua imagem impressa no coração do homem. Daí, a existência contraditória representada pela nobreza da criatura divina e na abjeção, por ter renegado a Deus. Por isso, a salvação do homem depende de uma graça misteriosa absolutamente gratuita. Portanto, existe em nós, uma grandeza que deriva da nossa origem divina e do destino que a criatura deve cumprir, retornando ao seu criador, e, uma miséria, proveniente do pecado original, pelo qual a criatura preferiu a afirmação da sua sabedoria, à harmonia que deveria caracterizar a relação do homem e Deus.

Esta obra é uma versão modificada da minha dissertação de mestrado: Paradoxos da condição humana: grandeza e miséria como paradoxo fundamental em Blaise Pascal, apresentada ao Programa de Ciência da Religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), em 2016, sob a orientação do professor Doutor Luiz Felipe de Cerqueira e Silva Pondé. Nossa pesquisa encontra-se intimamente ligada à Filosofia da Religião, e retomamos o estudo do pensamento pascaliano com a pretensão de ampliar a discussão e a reflexão sobre a natureza humana, que é certamente, um dos aspetos que mais inquietou nosso filósofo. Por isso, nosso objetivo principal foi o de analisar a concepção paradoxal da natureza humana, presente na filosofia de Blaise Pascal, em sua dimensão existencial, como ser essencialmente contraditório, onde enfatizamos a relação entre ‘grandeza e miséria’, como paradoxo fundamental, cujo centro da reflexão é o homem decaído e investigar a ideia de uma individualidade do homem que reconhece sua própria identidade. Nossa análise foi temática, com o enfoque histórico, antropológico, epistemológico e psicológico.

A obra está dividida em cinco capítulos, onde analisamos inicialmente o contexto histórico da França do século XVI; os precursores do conceito de natureza humana; a visão antropológica do homem pascaliano antes e depois do pecado original; os limites do conhecimento racional, que são colocados pela condição da própria finitude humana e das múltiplas insuficiências; e, por último, lançamos o olhar sobre a epistemologia e a psicologia pascalianas, que guardam uma relação estreita com sua antropologia, e, enfatizamos conceitos como: imaginação, tédio e divertimento como marcas da insuficiência humana.

Espero que esta obra seja do proveito de todos os pascalianos, amantes, estudiosos ou não de sua obra, pois, esta será mais uma contribuição que nos ajudará na árdua tarefa de levar a todos um pouco mais sobre Pascal e o seu legado. Que o mesmo possa servir de instrumento de conhecimento, pesquisa e reflexão, pelos que se interessam por questões relativamente à condição humana e levam a sério tudo o que diz respeito ao homem – criatura em busca de si mesmo e em evolução continua através da ciência, da filosofia, da teologia e de todas as outras ciências cujo objeto principal é o homem.


“O erro hereditário de todos os filósofos é basear-se no homem de uma época particular e depois transformar isso numa verdade eterna”.
Friedrich Nietzsche


PARA ADQUIRIR UM EXEMPLAR É SÓ CLICAR NO  LINK: 

Referência
ROCHA, Arlindo Nascimento. Paradoxos da condição humana: grandeza e miséria como paradoxo fundamental em Blaise Pascal. 1ª ed. – Maringá: Viseu, 2019, p. 15 a 17.  




[1] Autor da obra PARADOXOS DA CONDIÇÃO HUMANA, uma adaptação da dissertação de Mestrado apresentado na PUC-SP sob a orientação do Dr. Luiz Felipe Pondé em 2016.

segunda-feira, 25 de março de 2019

A existência de Deus: um dos problemas fundamentais da Filosofia da Religião



Arlindo Nascimento Rocha[1]

Resumo: 

Compreender Deus em sua totalidade é preciso primeiramente compreendê-Lo no espírito humano como Ser Absoluto e Supremo, Ser existente e não negado na esfera racional. Portanto, se Deus é o ser que existe na razão, deve-se analisa-Lo filosoficamente e, por meio da reflexão racional e, posteriormente,  afirmá-Lo no espírito. Ao afirmá-Lo no espírito o que constitui a essência da nossa espiritualidade, podemos aferir que Deus não pode ser negado e passa a existir de forma 'Absoluta' contra qualquer dúvida. Por isso, nos próximos parágrafos refletiremos sobre um dos problemas fundamentais da Filosofia da Religião, ou seja, a existência de Deus. 

A existência de Deus: um dos problemas fundamentais da Filosofia da Religião

Em nosso entender, qualquer texto sobre Filosofia da Religião impõe-se como tarefa inicial clarificar suas formas de expressão e a de indicar seus principais temas. Nesse aspecto tanto uma como outra, ou seja, ‘Filosofia’ e ‘Religião’ são conceitos considerados polissêmicos, mas, segundo Paine (2013, p. 101) “longe de ser um sintoma de indefinibilidade, é antes marca de hiperdefinibilidade tal abundância de definições”. Isso é de certa forma corroborado por Kolakowski (1927-2009) em sua obra Philosophie de la religion publicada em 1985. Nessa obra, segundo Pena (1999,p.23), “nem a filosofia nem a religião dispõem de conceitos claros e bem definidos, no sentido de terem sua aceitabilidade consagrada por todos os especialistas”, mas, em nosso entender, essa ‘indefinibilidade’ ou ‘hiperdefinibilidade’ é muito mais discutida quando se trata da religião, “afinal, seja em termos histórico-etimológico seja em termo de teorização contemporânea, não há unanimidade ou equívoca universalidade acerca daquilo que se quer dizer com religião” (AHN apud PICH, 2013, p. 143). Entretanto, ao relacionarmos historicamente os dois conceitos é possível segundo Paine (2013) elencar três tentativas, a saber: (1) filosofia é religião (identidade), ou seja, uma aproximação íntima que se assemelha a uma fusão; (2) filosofia e religião (paralelismo), saberes distintos e inconfundíveis, tanto no método quanto no conteúdo; (3) filosofia na religião (teologias e metafísicas religiosas) uma vez que a cooperação entre ambas gerou grandes teologias, tanto no entendimento da primeira como serva da segunda, no caso do cristianismo, como também em correntes comparáveis como o Judaísmo e o Islã. 

Para clarificar as formas de expressão e indicar os principais temas em torno da Filosofia da Religião, foram trabalhados inicialmente autores como Grondin, Schaefler, Bilimoria, Taliaferro, Plantinga, Philips, e, posteriormente outros como, Paine, Pich, Graham Oppy, Nancy K. Frankenberry, Schilbrack, Yujin Nagasawa, só para citar alguns exemplos que foram abordados no sentido de entender como a Filosofia da Religião vem se posicionando face às outras disciplinas já consolidadas e qual tem sido seu papel na fundamentação epistemológica da Ciência da Religião, pois, como se sabe, ela pode ser entendida como análise e justificação dos fundamentos filosóficos da religião em geral tendo em conta seu interesse por todas as religiões e formas de religiosidade inclusive as contemporâneas. Isso fica explícito a partir do que é afirmando por Taliaferro, pois, segundo ele,
A filosofia da religião explora questões filosóficas que nascem da reflexão sobre a natureza e a verdade da crença religiosa e sobre os significados da experiência religiosa. [...] relaciona-se integralmente com a metafísica, a epistemologia, a ética, a filosofia da mente e outras áreas, das quais a história da filosofia não é uma das menos importantes [...] (TALIAFERRO, 2009, p. 445).
Ainda segundo o mesmo autor, a diversidade religiosa levou muitos a repensar suas crenças particulares e atualmente o estudo da Filosofia da Religião tem crescido bastante com o estabelecimento de novos periódicos dedicados a essa disciplina (Ibid.). Entretanto, como disciplina autônoma de fato, ela afirmou-se somente a partir do séc. XVIII, distanciando paulatinamente da Metafísica e da Ética, muito embora, acredita-se que o diálogo entre ambas é tão antigo como a própria filosofia. Então, pode-se considerar que ela é uma reflexão sobre o ‘fenômeno’ religioso, tendo em conta que está presente em todas as culturas. Nesse sentido segundo Grondin (2012) a primeira tarefa da Filosofia da Religião é redescobrir as indagações para as quais a religião é uma resposta, pois, acredita-se que ela oferece respostas sólidas sobre a existência. Por isso, ela reflete e questiona se a forma prática de vida que se designa como ‘religião’ é racionalmente plausível e o que se pressupõe como realidade é verdadeiro. Croatto (2010, p. 22) destaca Hegel (1778-1831) como sendo o precursor moderno da Filosofia da Religião e reconhece seus antecedentes em Kant (1724-1804), o impulso dado por Schleiermacher (1768-1834) e Schelling no séc. XIX, assim como a contribuição de Ricoeur (1913) e Henry Duméry (1920-2012). Ambos legaram obras importantes para a Filosofia da Religião.

De acordo como Frankenberry (2016), atualmente é possível identificar três trajetórias distintas em Filosofia da Religião, a saber: 1) o estudo comparado das tradições religiosas através do emprego de uma pluralidade de metodologias e perspectivas filosóficas; 2) uma abordagem centrada nos argumentos sobre a existência de Deus; o problema da linguagem religiosa; os desafios do positivismo lógico; e, o problema do mal; 3) e, finalmente, uma terceira abordagem em que a Filosofia da Religião formou alianças com áreas como método e teoria no estudo da religião, ética e o estudo científico-social da religião. Nessa pesquisa termos como foco, a segunda abordagem, mais especificamente, como referimos no título acima refletiremos sobre o tema A existência de Deus como sedo um dos problemas fundamentais na história da Filosofia da Religião, embora Schilbrack (2014) em seu artigo What is philosophy of religion afirme que este assunto não deve ser limitado apenas a afirmações sobre Deus, mas também deve incluir as reivindicações filosóficas de religiões politeístas e não-teístas, tendo em conta que, “o raio de ação da Filosofia da Religião é muito mais amplo, pois, terá de tomar posição em face de todas as filosofias que ocasionaram violência e foram redutivas em relação à religião” (TERRIN, 2003, p. 32). O conceito de Deus, segundo (ZILLES, 2004, p. 11) é um dos mais antigos, mais universais e mais fecundos do patrimônio cultural da humanidade. Por isso, esse tema sempre preocupou os filósofos desde a filosofia pré-socrática até nossa era, esse assunto tem sido amplamente discutido principalmente por teólogos e filósofos da religião. Nesse aspecto, os que atacam os argumentos a favor da existência de Deus criticavam sua forma argumentativa; e, os que defendiam, aceitavam sem sentido implícito. Entretanto, essa questão continua em aberto, pois, ela não foi solucionada, e, apesar dos argumentos de ambos os lados pode-se concluir que se não há provas da existência de Deus, também é verdade que não existem provas da sua não existência. No entanto, é plausível afirmar que, “poucos argumentos na história da filosofia produziram tanto debate quanto essas famosas tentativas de defender a Deus sem fazer referência à experiência sensível” (WILKINSON, 2014, p. 136).

Se consideramos que a filosofia teve início com os assim chamados pré-socráticos, cujo principal objeto de estudo era a natureza, em Sócrates (469 a.C.-399 a.C.) assistimos uma mudança de objeto de estudo que passa a ser o homem, em seguida Platão (427/347 a.C.) criou o mundo das ideias e finalmente Aristóteles (384 a.C./322 a.C.) trouxe ao mundo real as concepções ideais do mundo das ideias do seu mestre. Mas, neles todos é possível verificar que a reflexão sobre Deus não passou despercebido a começar por Talles de Mileto (624 a. C.- 546 a.C.) a quem se atribui a célebre passagem segundo a qual “tudo está cheio de deuses” ou ainda a célebre frase de Heráclito de Éfeso (535 a.C. - 475 a.C.) convidando os visitante a entrar em sua cozinha: einai gar kai enthautha theus, “pois, aqui também existem deuses” (LANGLOIS, et al 2009, p. 14). Superando o período clássico veio a Idade Média onde surgem vários filósofos tentando provar a existência de Deus, muitas vezes com argumentos difíceis de serem entendidos. Entre eles podemos citar o argumento ontológico de Santo Anselmo[2] (1033-1109) e as cinco vias da prova da existência de DeusSão Tomás de Aquino (1225/1274). Lentamente chegamos a Descartes (1596-1650), Pascal (1623-1662), Hume (1711-1776), Kant (1724-1804), e, finalmente, Nietzsche (1844-1900) e seu pensamento cético, tendo ele, segundo Pena (1999), proclamado no final do século XIX a morte de Deus, e, essa conclusão Nietzschiana “foi acompanhado de um processo de distanciamento da filosofia ocidental da religião e da Filosofia da Religião e, finalmente, surgiu o pensamento analítico que parecia destruir tudo” (ZILLES, 2004, p. 45), pois, ele argumentara que, não haveria lugar para Deus num século totalmente dominado pela relevância alcançada pela ciência [...] o mundo já dominado pelo pensamento mecanicista, não oferecia mais espaço para reflexões do estilo teológico ou metafísico (PENNA, 1999, p.17). Entretanto, ele seria superado pelo pensamento existencialista de Sartre (1905-1980), e, contrariamente à Kierkegaard (1813-1855) que colocara o homem diante de Deus e da sua eternidade, Sartre afirmava que o homem é uma paixão inútil que está entregue a sua própria sorte e é o único responsável pelo seu próprio destino.

Diferente de Anselmo, Aquino e Descartes, Blaise Pascal não acredita nas provas sobre a existência de Deus, e questionava: afinal, Deus existe ou não existe. Para que lado pendemos? Ele não pretendeu chegar a Deus através de provas racionais, mas, a partir do funcionamento do homem, recorrendo ao paradoxo, ou seja, a dualidade entre a sua miséria e a sua grandeza. Em sua Apologia destaca-se a tentativa de compreender a natureza humana através de sua procedência divina e a tentativa de compreender algo de Deus através de Sua imagem impressa no coração do homem. Daí, a existência contraditória representada pela nobreza da criatura divina e na abjeção, por ter renegado a Deus. Desde Pascal, costuma-se opor o Deus dos Filósofos ao de Abraão, Isaac e Jacó. Para ele, o primeiro seria o de Descarte ou o de Espinoza, ou seja, um Deus racional que funda o cálculo metódico que criou o mundo e o homem, enquanto que o segundo seria o Deus que toca o sujeito no seu íntimo. Pascal nega categoricamente a possibilidade de provar a existência de Deus através dos argumentos ditos racionais, pois, para ele, por mais que sejam belos e bem elaborados, eles serão sempre insuficientes, e sustenta que,
Se há um Deus, ele é infinitamente incompreensível, uma vez que, não tendo as partes nem limites, não tem qualquer comparação conosco. Somos, pois, incapazes de conhecer, quer aquilo que ele é, quer se ele é. Assim sendo, quem ousará compreender a tarefa de resolver essa questão? Não somos nós, que não temos nenhum ponto em relação a ele (PASCAL, 2005, p. 159). 
Para os que acreditam que seja possível provar Sua existência racionalmente, Pascal, insiste em sustentar as limitações da razão, pois, segundo ele, “a razão nada pode determinar a esse respeito” (ibid.), uma vez que, ela é fraca, insuficiente e limitada, e, só nos proporciona o conhecimento do milieu (meio). Segundo ele,
Conhecemos, pois, a existência e a natureza do finito porque somos finitos e extensos como ele. Conhecemos a existência do infinito e ignoramos a sua natureza porque ele tem extensão como nós, mas não tem limites como nós. Mas, não conhecemos nem a existência nem a natureza de Deus porque ele não tem nem extensão e nem limites (PASCAL, 2005, p. 159). 
Entretanto, ele defende que, pela fé conhecemos Sua existência e pela glória sua natureza, mas, isso só será possível através da Aposta, pois, ao invés das demonstrações racionais ele defende as provas históricas do cristianismo e o raciocínio que ressaltam a razoabilidade da doutrina da Queda, por isso, sua Aposta não visa provar a existência de Deus, mas levar o incrédulo a aceitar que é melhor apostar na Sua existência do que na Sua não existência, pois, quando se aposta contra o infinito (Deus) perdemos sempre, então, para Pascal, “é preciso apostar” (ibid.). A Aposta, segundo ele, é a atitude mais racional, pois, aquele que aposta na existência de Deus não tem nada a perder e tudo a ganhar, a salvação e a vida eterna, por isso, é preciso olhar para aquilo que traz maior benefício. Ele afirma que não temos escolha entre o acreditar ou não, pois, se “você vence, você ganha tudo, mas se você perde, você não perde nada. Assim, sem hesitar, aposte que Ele existe”(Ibid.).

Entretanto, para alguns críticos, a Aposta de Pascal é uma falácia argumentativa denominada falso dilema, em que se tenta restringir o número de possibilidades quando, na realidade há muitos outros. Entre eles pode-se citar o britânico Richard Dawkins (1941), ateu confesso que, em seu entendimento, a Aposta de Pascal, só poderia ser, quando muito, um argumento para se fingir a crença em Deus, pois, segundo ele, o acreditar não é algo que esteja sujeito à decisão, um rumo por que se opta (DAWKINS, 2018). Matt Dillahunty (1969) ex-presidente da Atheist Community of Austin é outro ateu que afirma que a Aposta é uma falsa dicotomia, pois, ela ignora todas as outras possíveis religiões, ignora outros paraísos e outros infernos, faz a afirmação de que adorar e acreditar não custa nada, presume que a crença esteja sujeito ao arbítrio e que, determinando que se tenha uma aposta segura, e que se pode ir adiante e escolher acreditar, e, por isso, é uma das coisas mais ridículas. Entretanto, muitos cristãos acreditam que Aposta de Pascal, reforça e incute nos crentes a coragem para decidir em prol da existência de Deus. 

Mais recentemente, e ainda versando sobre essa questão na tentativa de superar as diversas visões que os crentes, filósofos e cientistas têm em relação a Deus, na introdução da obra Abordagens Científicas da Filosofia da Religião,Nagasawa (2012) reflete sobre a questão da existência de Deus e usa os seguintes termos O Deus de Abrão, o Deus dos filósofos e o Deus dos cientistas. Segundo ele, na primeira é chamada de abordagem sobrenatural, pois, os crentes tentam compreender a existência e natureza de Deus através de meios sobrenaturais, na segunda os filósofos tentam compreender a existência e natureza de Deus através do pensamento racional e analítico, e, na terceira, ou seja, na abordagem científica, os cientistas tentam compreender a existência e natureza de Deus, apelando para a pesquisa empírica e estudos científicos. Esta é uma interessante combinação das duas abordagens tradicionais acima. Nesse aspecto, segundo Hock (2010, p. 15), “uma perspectiva de cooperação entre a Ciência da Religião e a Filosofia da Religião está se abrindo no esforço partilhado em prol de uma linguagem científica comum, com base em padrões e modos de procedimento metodologicamente claros”. 

Considerações finais:

Depois de tudo o que foi investigado e escrito, não restam dúvida, sobre a importância da Filosofia da Religião como área de conhecimento que reflete sobre questões cruciais entre Filosofia e Religião, mas, seu objetivo não é tornar as pessoas religiosas, pois, o trabalho dos filósofos não visa doutrinar o público, ensinar ou incentivar as pessoas a serem crentes, principalmente no que tange a existência ou não de Deus, pois, o desejo de conhece-Lo é como a busca de um cego a caminho do desconhecido, e, partindo de uma frese de Lessing, um suspiro sem palavras dirigido a Deus é a melhor maneira de adorá-Lo. Mas, torna-se inevitável não concordar com a sentença Nietsche sobre a morte de Deus, pois, ele sustenta que com isso a história do Ocidente atinge o ápice do niilismo, embora vozes contrárias dizem que Ele esteve, está e estará sempre presente nas pequenas ações e coisas simples, e, os mais otimistas não duvidam que estudos hoje clássicos mostram a influência da ideia de Deus e as concepções teológicas exercem sobre a ciência importantes influências, por isso, muitos defende que Deus é a maior ideia inventada pelo homem, mas, dele pouco ou nada sabemos, pois, Ele escapa à verificação científica, a ordem do ser e nossa linguagem será sempre insuficiente na sua tentativa de expressar o inefável. 

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Referências

CROATTO, José Severino. As linguagens da experiência religiosa: uma introdução à fenomenologia da Religião. – 3ª ed. – São Paulo: Paulinas, 2010.
DAWKINS, Richard. A desilusão de Deus. – Rio de Janeiro: Leya, 2018.
FRANKENBERRY, Nancy. Enduring questions in philosophy of religion: a response to Neville and Godlove. American Journal of Theology & Philosophy 37, no. 1 (2016): 36-52.
GRONDIN, Jean. Que saber sobre filosofia da religião. – Aparecida, SP: Editora Ideias & Letras, 2012.
HOCK, Klauss. Introdução à ciência da religião. Tra. Monika Otterman. - São Paulo: Edições Loyola, 2010. 
KOŁAKOWSKI, Leszek. Philosophie de la religion. – Paris: Fayard, 1985.
LANGLOIS, Luc; ZARKA, Yves Charles (Org.). Os filósofos e a questão de Deus. – São Paulo; Edições Loyola, 2009.
MARCONDES, Danilo. Textos básicos de filosofia: Dos pré-socráticos a Wittgeinstein. - 7ª ed. – Rio de Janeiro: Zahar, 2011. 
NAGASAWA, Yujin. The God of Abraham, the God of the philosophers and the God of the ccientists. In: scientific approaches to the philosophy of religion. University of Birmingham, UK: Springer, 2012.
PAINE, Scott, Randall. Filosofia da religião. In: compendio de ciência da religião. João Décio Passos, Frank Usarski (Org). – São Paulo: paulinas, 2013.
PASCAL, Blaise. Pensamentos. - 2ª ed.- São Paulo: Martins Fontes, 2005. (Paidéia).
PENNA, Antônio Gomes. Em busca de Deus: introdução à filosofia da religião. – Rio de Janeiro: Imago, Ed., 1999.
PICH, Roberto Hofmeister. Religião como forma de conhecimento. In: compendio de ciência da Religião/ João Décio Passos; Frank Usarski (Org.). - São Paulo: Editora Paulinas: Paulus, 2013.
SCHILBRACK, Kevin. What is Philosophy of Religion? Publicado em 2014. Disponível em: <http://philosophyofreligion.org/?p=51868>. Acesso em 04/12/2014.
TALIAFERRO, Charles. Filosofia da religião. In: Compendio de Filosofia da Religião. Nicholas Bunnin; E. P. Tsui-James (Org.). – 1ª ed. – São Paulo: Editora Loyola, 2009.
TERRIM, Aldo Natale. Introdução ao estudo comparado das religiões. – São Paulo: Editora Paulinas, 2003. - (Coleção Religião e Cultura).
WILKINSON, Michael B. Filosofia da Religião. Michel B. Wilkinson; Hugh N. Campbell. – São Paulo: Paulinas, 2014. 
ZILLES, urbano. Crer para compreender. – Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004.
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[1] Doutorando em Ciências da Religião – (PUC-SP) Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; bolsista da CAPES. E-mail.arlindonascimentorocha@gmail.com.

[2] Segundo Pena (1999, p. 70), um dos argumentos mais discutidos, mais criticados é, todavia, mais presentes em toda a história da filosofia, é o argumento ontológico proposto por Santo Anselmo de Canterbury. Parte-se de uma afirmação de que Deus é um ser perfeito, daí decorrendo a necessidade mesma de sua existência [...] a rejeição do argumento foi enfaticamente efetuada por Kant, quando denunciou não ser a existência um predicado [...].

segunda-feira, 11 de março de 2019

O Memoria de Pascal - publicado em 1740



Depois de participar em grupos dados à "libertinagem" e aos jogos de azar, Pascal experimentou uma revolução na sua vida. Em 1654, escapou da morte num acidente de carruagem numa das pontes de Paris. Logo depois, num êxtase espiritual, decidiu dedicar-se com fervor à militância religiosa e depois à contemplação e à oração. após a conversão, documentada de forma comovente em Memorial:


Ano da graça de 1654.
Segunda-feira, 23 de Novembro, dia de são Clemente, papa mártir, e de outros no Martirológio. 
Véspera de São Crisógono, mártir, e  outros. 
Desde cerca de dez horas e meia da noite, até por volta de meia-noite e meia.

Fogo.

Deus de Abraão, Deus de Isaac, Deus de Jacob e não dos filósofos e dos sábios.
Deum meum et Deum vestrum (1) 
Certeza, certeza, sentimento, alegria, paz.
(Deus de Jesus Cristo)
Deus de Jesus Cristo.  
Teu Deus será meu Deus
 Esquecimento do mundo e de tudo, menos de Deus.
Ele só se encontra fora das vias ensinadas no Evangelho.
Grandeza da alma humana.
 Pai justo, o mundo não te conheceu, mas eu te conheci. 
Alegria, alegria, alegria, lágrimas de alegria.
Apartei-me d'Ele
Derliquerunt Me fontem aquae vivae (2) 
Meu Deus, me abandonareis vós.  
Não fique eu separado d'Ele eternamente.  
Esta é a vida eterna, que te conhecem como só e verdadeiro Deus e aquele que enviaste, Jesus Cristo. 
Jesus Cristo. 
Jesus Cristo. 
Separei-me d'Ele, fugi dele, renunciei, crucifiquei. 
Nunca seja eu separado dele.
Ele só se conserva pelas vias ensinadas no evangelho.
Renuncia total e suave.
etc.
Submissão total a Jesus Cristo e a meu diretor.
Eternamente em alegria para um dia de exercício na terra.
Non obliviscar sermones Tuos. (3) Amén.

Fonte: 
PASCAL, Blaise. Pensamentos. - 2ª ed. - São Paulo: Martins Fontes, 2005, p. 270. Laf. 913.

(1) "... vosso povo será meu povo e vosso Deus é meu Deus."
(2) "... Eles me abandonaram, a mim, fonte de água viva."
(3) "Meditarei sobre as tuas justificações, não esquecerei as tuas palavras."

terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Pascal: Não é caridade o outro nome da verdade?



DE BERNARD GRASSET

Qual é a verdade? Existe uma verdade universal? Se sim, a filosofia pode alcançá-lo e como? Se questionarmos a verdade a partir da perspectiva do pensamento pascaliano, onde ela ocupa um lugar central, devemos primeiro apontar uma abordagem cética e dialética da história da filosofia destacada na Entrevista com o Sr. de Sacy e a recuperação. nos Pensamentos. Os filósofos se contradizem interminavelmente e a verdade continua girando em suas mãos. Não existe verdade universal na filosofia. De fato, Pascal traz a filosofia de volta a duas grandes tendências: o dogmatismo (estoicismo epictético) e o pirronismo (o ceticismo de Montaigne). Essas duas correntes têm alguma verdade (a grandeza do homem para o primeiro, a miséria do homem para o segundo), mas apenas uma parte. Para acessar uma verdade que não é parcial, fragmentária, mas plena, completa, uma universalidade da verdade, devemos deixar o terreno da razão filosófica, o campo cartesiano do claro e distinto, para acolher um mistério inexplicável, além de da razão, que por si só explica a nossa existência e responde às questões da razão. Apegar-se à única razão, à ordem de Arquimedes, é privar-se da plenitude da verdade que irrompe na terceira ordem, a ordem da caridade.