De acordo com Edgar Morin, o pensamento dos Pensamentos de Pascal inscreve-se no entrecruzamento de uma cultura europeia que, desde a Renascença, opõe fé e dúvida, razão e religião. No seio da cultura europeia, a cultura francesa foi aquela em que o debate/combate entre essas diversas instancias se conduziu de maneira mais radical, e Pascal foi aquele que incluiu em seu próprio espírito esse combate que se opões os espíritos na França. Em lugar de enxergar a fé, a dúvida, a razão, a religião como instâncias inimigas e naturalmente exclusivas, identificou nela elementos conflituosas, mas também complementares de sua própria tragédia interior.
Em Pascal, a oposição entre a ordem absurda da fé e a ordem empírico-racional da ciência acompanha-se de uma complementaridade dialógica de uma e de outra. Fé, dúvida, razão, religião se reencontram, se entrecombatem e se alimentam uma da outra. A grandiosidade de Pascal é ter tornado seu enfrentamento complementar e fecundo. Essas características deveriam ter permitido reconhecer melhor a unidade complexa da obra pascaliana. Em lugar disso, o que se tem sobre essa obra são visões parciais e separadas uma da outra.
MORIN, Edgar. Meus filósofos. 2a edição. Traduzido por Edgard de Assis Carvalho e marisa Perassi Bosco. - Porto Alegre: Sulina, 2014.
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