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quinta-feira, 9 de junho de 2016

DISCURSO DA REFORMA DO HOMEM INTERIOR

“Tomando como ponto de partida uma passagem da epístola de São João, Cornelius Jansenius redige seu "Discurso da Reforma do Homem Interior" mais como obra devocional que como tratado teológico. O autor demonstra seu pessimismo em relação à natureza humana e discorre sobre a dependência absoluta da graça divina como único meio de vencer o pecado”.

De acordo com Andrei Venturini, tradutor da obra para o português, "a obra Discurso da Reforma do Homem Interior, de Cornelius Jansenius, descreve minunciosamente o itinerário do orgulho da alma humana depois da queda adâmica. A edição bilíngue que se apresenta permite ao leitor o contato com a imagem da tradução francesa, realizada por Roberto Arnauld d' Andilly e publicada em 1644. O texto original foi redigido em latim, em 1628, a fim de executar a reforma de um monastério beneditino".

Ainda segundo ele, "a edição francesa assume uma grande importância por ter influenciado aquele que é considerado um dos herdeiros do pensamento de jansenius, a saber, Blaise Pascal. Esta obra que aguçaria consideravelmente o jovem de 23 anos que, mais tarde seria reconhecido como o grande representante do moralismo francês, esta arte que desenvolve detalhadamente as reviravoltas da concupiscência presente na irracionalidade do ser humano" [...]  


Palestra de apresentação do livro "Discurso da Reforma do Homem Interior" com os professores: Luiz Felipe Pondé e Andrei Venturini Martins que traduziu e comentou a obra.  
   

Cornelius Jansenius 

Cornelius Otto Jansenius ou Cornelius Otto Jansen, também conhecido como Jansênio (1585-1638), foi um filósofo e teólogo nederlandês. Fundou o jansenismo, doutrina que prega o rigor moral. Iniciou seus estudos em 1602, na Universidade de Louvain, da qual se tornou professor a partir de 1617, liderando a teologia agostiniana, contra os jesuítas. 

Em 1635, indicado pelo rei da Espanha, tornou-se bispo de Ypres, na região flamenga da Bélgica. Morreu 3 anos depois. Jansenius, reforçando Baius, reagiu contra o antigo otimismo pelagiano a respeito da vontade humana, tal como Agostinho e a Igreja oficial já o haviam feito no Medievo. 

Tais idéias agora reacendiam dentro do espírito da Renascença e com os jesuítas, notadamente Molina. A radicalização da posição agostiniana vinha ocorrendo desde Lutero e Calvino. Por isso a escola teológica jansenista tomou o aspecto de protestantismo dentro da Igreja Católica. Teve desdobramentos com base nos escritos de Jansênio, sobretudo após sua vida, com Arnauld e Nicole, ao mesmo tempo cartesianos. Jansenismo Apesar de ser um movimento teológico fundado na doutrina de Santo Agostinho sobre a predestinação humana, o jansenismo prestigiou o cartesianismo, principalmente a partir do Convento de Port-Royal, em Magny-les-Hameaux, a sudoeste de Paris. 

O rigorismo moral dos jansenistas não conflitava com o cartesianismo porque o Descartes simplesmente se omitira sobre a ética e a política. Além disto importa advertir-se que Agostinho é uma fonte comum a Descartes e ao jansenismo. 

O jansenismo

 Segundo Luiz Felipe Pondé, "a abadia francesa de Port-Royal ficou conhecida por ter abrigado intelectuais como Antoine Arnauld, Jean Racine e Blaise Pascal. Estabelecida em Paris entre 1625 e 1626, a abadia, que passou mais de quatro séculos no Vale de Chevreuse, ao sul de Versailles, tornou-se um centro jansenista. Isso devido à influência de Jean Duvergier de Hauranne, o abade de Saint-Cyran, que estudara em Louvain, onde fez amizade com o teólogo holandês Cornelius Otto Jansen. Juntos fundaram a corrente conhecida como jansenismo".

Esse movimento, baseado nas obras de Santo Agostinho, buscava de forma extremamente austera o resgate da disciplina e da moral religiosa. A polêmica de seus fundamentos estava no fato de os jansenistas criticarem a ênfase na responsabilidade humana em detrimento da iniciativa divina defendida por luteranos e calvinistas. Para eles, o homem já nascia predestinado à condenação ou à salvação, independentemente de suas ações. Desse modo, acusavam os jesuítas de buscarem brechas nos dogmas católicos.


A participação de intelectuais importantes no jansenismo deu ao movimento um forte caráter político. Por isso, acabou desarticulado na França em 1705 por Luís XIV com aprovação do Papa Clemente XI. Posteriormente, os jansenistas acabaram se concentrando principalmente na Holanda e na Itália.

Pascal e o Jansenismo 
Aos 58 anos de idade, o pai de Pascal quebrou o quadril quando escorregou e caiu em uma rua gelada de Rouen. Pascal escolheu dois dos melhores médicos da França, que estavam trabalhando localmente, para o tratamento de seu pai, o que fizeram com sucesso ao longo de três meses. Durante esse tempo, eles se tornaram amigos próximos da família.

Ambos os médicos eram jansenistas e tornaram-se muito influentes, o que levou a uma espécie de "primeira conversão" de Pascal, que começou a escrever sobre temas teológicos no decorrer do ano seguinte. Seu pai morreria cinco anos mais tarde, e logo depois sua irmã Jacqueline anunciou que iria se tornar postulante no convento jansenista de Port-Royal. 

Pascal ficou desapontado, mas, no fim, com o coração pesado, permitiu que ela fosse. Isso envolveria o fato de assinar mais da metade da herança e fez com que ele visse o convento com desconfiança, a princípio, alegando que ele agia como uma seita com o controle sobre sua irmã.

Entretanto, tudo isso mudou quando, em 23 de novembro 1654, entre as 22h30min e as 0h30min, Pascal pareceu ter tido uma intensa visão religiosa. Isso teve um impacto tão grande sobre ele que imediatamente ele registrou a experiência - abrindo suas notas com as seguintes palavras: "Fogo. Deus de Abraão, Deus de Isaac, Deus de Jacó, não dos filósofos e estudiosos... ". E concluiu citando o Salmo 119,16: "Eu não me esquecerei da tua palavra. Amém".

Essa experiência foi tão importante que ele costurou com cuidado o documento em seu casaco e sempre o transferia quando trocava de roupa; mas, foi descoberto apenas por acaso depois de sua morte. Ele renovou sua crença e seu compromisso religioso e em seguida foi fazer um retiro de duas semanas em Port-Royal. Ele se tornou um visitante regular e começou a escrever suas Cartas Provinciais, que foram efetivamente um ataque sistemático contra os jesuítas, a partir de uma perspectiva jansenista. Elas provaram ser imensamente populares, amplamente divulgadas e muito prejudiciais para a Companhia.


Referências 
JANSENIUS, Cornelius. Discurso da Reforma do Homem Interior. Comentário e tradução Andrei Venturini Martins; prefácio de Ricardo Riali Taurisano. - Sã Paulo: Filocalia, 2016 
PONDÉ, Luiz Felipe. Na tragetória e obra do francês Blaise Pascal é impossível pensar sem a presença de Deus. In: Revista Cult. http://revistacult.uol.com.br/home/2010/03/meditacoes/2010
Instituto Humanitas Unisino (2014). O Jansenismo de Pascal. Disponível em :<http://www.ihu.unisinos.br/noticias/529733-o-jansenismo-de-pascal> Acesso em 09/06/2016.
JANSENIUS Otto Cornelius. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=OqR8qLtKeKM> Acesso em 09/06/2016 
http://www.faifer.com.br/corneliusjansenius.pdf 

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