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domingo, 11 de dezembro de 2011

QUEM É O HOMEM!?

O homem é um ser insatisfeito no que tange a posse do conhecimento. Desconhece que é parte, de um todo que não consegue conhecer. O que ele pode conhecer são as partes, as quais cabem dentro de suas proporções, tendo em conta que existe uma desproporção entre o homem e a natureza. Deseja conhecer a totalidade das coisas, com intuito de ser útil a si mesmo e aos outros, sente paixão, ama e deseja ser amado, mas tudo isso não passa de vaidade e amor próprio.
Usando a razão os homens acreditam que é possível conhecer a totalidade das, pois acreditam que ela é superior a todas as coisas, mas o mundo possui dimensões tao ínfimas, as coisas se dividem em partes que a vista, a razão do ser humano não consegue compreender e apreender, pois elas estão para além de onde se pensa ser o limite.
O homem é um problema para si mesmo, visto que não consegue conhecer a si mesmo, sua realidade e a totalidade das coisas. “incapaz de compreender os extremos, tanto o fim das coisas como o seu princípio permanecem ocultos num segredo impenetrável, e é impossível ver o nada de onde saiu e o infinito que o envolve. O homem não poderá conhecer o início e nem o fim das coisas, visto que está instalado neste universo. Em relação ao nada é tudo, já em ralação ao tudo é um nada, ou seja, é uma espécie de meio termo entre o nada e o tudo. 
Nossa inteligência ocupa, entre as coisas inteligíveis, o mesmo lugar que nosso corpo na magnitude da natureza.  Sem a possibilidade de conhecer todas as coisas, o ser humano se depara com a sua própria miséria, seu limite e sua impotência. Mas ao reconhecer sua miséria, sua limitação e sua impossibilidade diante do universo do saber torna-se o ser mais grandioso, pois sua grandeza está, justamente, no reconhecimento de sua miséria, de sua limitação, de sua pequenez em relação ao universo. “O homem é grande porque se reconhece miserável”
Ele é comparado a não mais que um “caniço”, que é frágil, é agitado pelo vento, quebra-se com facilidade, mas que possui um pensamento, pensamento este que possibilita o reconhecimento de sua miséria. E ao reconhecer a sua miséria, limitações e impotências, torna-se relativamente superior a todas as outras criaturas, pois estas não podem reconhecer que são miseráveis, vista que não possuem o pensamento para tal reconhecimento. “O homem não é mais que um caniço, o mais débil da natureza; mas é um caniço que pensa”. A presente miséria produz nele um tormento de nostalgia pela sua passada grandeza, e este tormento o incita o instinto de uma verdade superior, a aspiração de um bem que somente pode satisfazê-lo.
Para que o tédio não se torne uma profunda solidão, é necessário que o homem procure algo para não se angustiar cada vez mais, e é aí que entra o divertimento para livrá-lo do tormento, levá-lo à felicidade, mas que acaba conduzindo-lhe a outro caminho. A única coisa que nos consola das nossas misérias é o divertimento e, no entanto, essa é a maior das nossas misérias. O divertimento afasta o homem de si mesmo, da morte e o impede de ver suas limitações e suas misérias.
Por outro lado, o divertimento livrar o ser humano de um tédio, de uma depressão, de uma angústia, de uma náusea, pois logo que começa a pensar na sua condição humana limitada e também miserável causa um profundo desgosto. Por isso, o ser humano está constantemente buscando o divertimento para fugir da sua miséria, pois deixa de pensar em suas questões latentes, tentando tornar-se demasiadamente feliz e buscar uma forma de esperar e suportar a morte.
O divertimento tem força suficiente de conduzir um homem de um estado de tristeza, abatimento e miséria a um estado de felicidade. Dentro da visão pascaliana, a condição humana está marcada por uma miséria ontológica. E essa é a verdadeira condição do ser humano; condição que lhe torna capaz de saber com certeza e o faz ignorar o absoluto. Embora este tenha perdido um ente querido e se encontre num estado deprimente, enquanto ele estiver no divertimento será feliz. Mas ele estará vivendo uma pseudo-felicidade e não uma felicidade plena, que não carece de nada mais, pois para Pascal a felicidade plena não se dá nesta vida, mas somente em Deus, só será plenamente feliz com a morte do corpo, onde se estará definitivamente com Deus.
Com base no que foi apresentado, surgem alguns questionamentos: o que é o homem na natureza? E Pascal responde que o ser humano é um “(…) nada com relação ao infinito e um tudo em relação ao nada (…)” . Se o homem não se deparasse primeiro com a vaidade, e sim com o divertimento, o que aconteceria? Ele não conheceria sua miséria, não se tornaria grandioso e não saberia onde encontrar felicidade absoluta. É possível ao homem conhecer? Sim, mas o que conhece não lhe é satisfatório, sempre falta algo amais.
Testifica-se, assim, que tanto a vaidade como o divertimento tem grande importância na vida do ser humano: a vaidade por envaidecer o seu coração com a possibilidade de conhecer e conduzi-lo à miséria, que consequentemente o reconduzirá à grandeza, que é o reconhecer a sua própria miséria; o divertimento resgata-o do tédio, da angústia, da tristeza, da depressão, do sofrimento, dos tormentos e o fortalece para suportar sua morte e esperar o seu encontro definitivo com Deus, quando então será feliz.
Referências ADORNO, Francesco Paolo. Pascal. 1ª Ed. São Paulo: Estação Liberdade, 2008 (col. Figuras do Saber).
PASCAL, Bleise. Pensamentos. Tradução de Sérgio Milliet. São Paulo: Abril Cultural, 1973. (Os Pensadores).

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