O homem é um ser insatisfeito no
que tange a posse do conhecimento. Desconhece que é parte, de um todo que não
consegue conhecer. O que ele pode conhecer são as partes, as quais cabem dentro
de suas proporções, tendo em conta que existe uma desproporção entre o homem e
a natureza. Deseja conhecer a totalidade das coisas, com intuito de ser útil a
si mesmo e aos outros, sente paixão, ama e deseja ser amado, mas tudo isso não
passa de vaidade e amor próprio.
Usando a razão os homens
acreditam que é possível conhecer a totalidade das, pois acreditam que ela é
superior a todas as coisas, mas o mundo possui dimensões tao ínfimas, as coisas
se dividem em partes que a vista, a razão do ser humano não consegue compreender
e apreender, pois elas estão para além de onde se pensa ser o limite.
O homem é um problema para si
mesmo, visto que não consegue conhecer a si mesmo, sua realidade e a totalidade
das coisas. “incapaz de compreender os extremos, tanto o fim das coisas como o
seu princípio permanecem ocultos num segredo impenetrável, e é impossível ver o
nada de onde saiu e o infinito que o envolve. O homem não poderá conhecer
o início e nem o fim das coisas, visto que está instalado neste universo. Em
relação ao nada é tudo, já em ralação ao tudo é um nada, ou seja, é uma espécie
de meio termo entre o nada e o tudo.
Nossa inteligência ocupa, entre
as coisas inteligíveis, o mesmo lugar que nosso corpo na magnitude da natureza.
Sem a possibilidade de conhecer todas as coisas, o ser humano se depara
com a sua própria miséria, seu limite e sua impotência. Mas ao reconhecer sua
miséria, sua limitação e sua impossibilidade diante do universo do saber
torna-se o ser mais grandioso, pois sua grandeza está, justamente, no
reconhecimento de sua miséria, de sua limitação, de sua pequenez em relação ao
universo. “O homem é grande porque se reconhece miserável”
Ele é comparado a não mais que um
“caniço”, que é frágil, é agitado pelo vento, quebra-se com facilidade, mas que
possui um pensamento, pensamento este que possibilita o reconhecimento de sua
miséria. E ao reconhecer a sua miséria, limitações e impotências, torna-se relativamente
superior a todas as outras criaturas, pois estas não podem reconhecer que são
miseráveis, vista que não possuem o pensamento para tal reconhecimento. “O
homem não é mais que um caniço, o mais débil da natureza; mas é um caniço que
pensa”. A presente miséria produz nele um tormento de nostalgia pela sua
passada grandeza, e este tormento o incita o instinto de uma verdade superior,
a aspiração de um bem que somente pode satisfazê-lo.
Para que o tédio não se torne uma
profunda solidão, é necessário que o homem procure algo para não se angustiar
cada vez mais, e é aí que entra o divertimento para livrá-lo do tormento,
levá-lo à felicidade, mas que acaba conduzindo-lhe a outro caminho. A única
coisa que nos consola das nossas misérias é o divertimento e, no entanto, essa
é a maior das nossas misérias. O divertimento afasta o homem de si mesmo, da
morte e o impede de ver suas limitações e suas misérias.
Por outro lado, o divertimento
livrar o ser humano de um tédio, de uma depressão, de uma angústia, de uma
náusea, pois logo que começa a pensar na sua condição humana limitada e também
miserável causa um profundo desgosto. Por isso, o ser humano está
constantemente buscando o divertimento para fugir da sua miséria, pois deixa de
pensar em suas questões latentes, tentando tornar-se demasiadamente feliz e
buscar uma forma de esperar e suportar a morte.
O divertimento tem força
suficiente de conduzir um homem de um estado de tristeza, abatimento e miséria
a um estado de felicidade. Dentro da visão pascaliana, a condição humana está
marcada por uma miséria ontológica. E essa é a verdadeira condição do ser
humano; condição que lhe torna capaz de saber com certeza e o faz ignorar o
absoluto. Embora este tenha perdido um ente querido e se encontre num estado deprimente,
enquanto ele estiver no divertimento será feliz. Mas ele estará vivendo uma
pseudo-felicidade e não uma felicidade plena, que não carece de nada mais, pois
para Pascal a felicidade plena não se dá nesta vida, mas somente em Deus, só
será plenamente feliz com a morte do corpo, onde se estará definitivamente com
Deus.
Com base no que foi apresentado,
surgem alguns questionamentos: o que é o homem na natureza? E Pascal responde
que o ser humano é um “(…) nada com relação ao infinito e um tudo em relação ao
nada (…)” . Se o homem não se deparasse primeiro com a vaidade, e sim com
o divertimento, o que aconteceria? Ele não conheceria sua miséria, não se
tornaria grandioso e não saberia onde encontrar felicidade absoluta. É possível
ao homem conhecer? Sim, mas o que conhece não lhe é satisfatório, sempre falta
algo amais.
Testifica-se, assim, que tanto a
vaidade como o divertimento tem grande importância na vida do ser humano: a
vaidade por envaidecer o seu coração com a possibilidade de conhecer e conduzi-lo
à miséria, que consequentemente o reconduzirá à grandeza, que é o reconhecer a
sua própria miséria; o divertimento resgata-o do tédio, da angústia, da
tristeza, da depressão, do sofrimento, dos tormentos e o fortalece para
suportar sua morte e esperar o seu encontro definitivo com Deus, quando então
será feliz.
Referências ADORNO, Francesco
Paolo. Pascal. 1ª Ed. São Paulo: Estação Liberdade, 2008 (col. Figuras do
Saber).
PASCAL, Bleise. Pensamentos. Tradução
de Sérgio Milliet. São Paulo: Abril Cultural, 1973. (Os Pensadores).
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