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sábado, 12 de abril de 2014

PARADOXOS DA CONDIÇÃO HUMA

Apresentação e defesa da Monografia intitulado "Paradoxos da Condição Humana" em Pascal na Universidade Pública de Cabo verde em 2011. 

Momentos finais...

sexta-feira, 11 de abril de 2014

O HOMEM COMO SER DO MEIO


No fragmento (B.72; L.199) dos Pensamentos, Pascal mostra que o conhecimento humano só pode ser um conhecimento mediano das coisas: “[...] que fará o homem senão perceber alguma aparência do meio das coisas, num desespero eterno de conhecer quer seu princípio, quer seu fim?”. A Interpretação pascaliana da situação do homem como ser do meio se apresenta de três maneiras distintas (CANGUILHEM, 1971, p.151).
Meio entre o nada e o todo. Para mostrar a situação mediana do homem, Pascal sugere uma mudança referencial:
[...] contemple pois o homem a natureza inteira em sua alta e plena majestade, afaste o seu olhar dos objetos baixos que o cercam. Olhe essa ofuscante luz posta como um fanal eterno para iluminar o universo, parece-lhe a Terra como um ponto em razão da vasta órbita que esse astro descreve, e fique tomado de admiração de que essa mesma vasta órbita não passa de uma ponta muito delicada com relação à que aqueles astros, que giram no
firmamento, abrangem. (B.72; L.199).

Diante da infinita grandeza da Natureza, o homem não passa de um ínfimo ponto, um nada. Que o homem, agora, volte à vista para as coisas mais delicadas da Natureza,
[...] que um ácaro lhe ofereça na pequenez de seu corpo partes incomparavelmente menores, pernas com juntas, veias nas pernas, sangue nas veias, humores nesse sangue, gotas nesses humores, vapores nessas gotas, que dividindo ainda essas últimas coisas ele esgota as suas forças nessas concepções e que o último objeto a que ele pode chegar seja agora o de nosso discurso. Ele pensará talvez que está aí a extrema pequenez da natureza (B.72; L.199).

Utilizando-se da infinita grandeza como referencial para ver o homem, este se torna um nada e, utilizando-se do homem como referencial para ver o infinito em pequenez, ele se torna um todo. Com efeito, o homem na Natureza “[...] é um nada com relação ao infinito, um todo com relação ao nada, um meio entre o nada e o todo.” (B.72; L.199).
A situação do homem na Natureza que Pascal descreve nos Pensamentos está de pleno acordo com o que ele afirma no De l’esprit géométrique:
[...] aqueles que verão claramente essas verdades poderão admirar a grandeza e a potência da natureza, nessa dupla infinidade que nos circunda de todas as partes, e aprendem por essa consideração maravilhosa a se conhecer a si mesmos, observando-se situados entre um infinito e um nada de extensão, entre um infinito e um nada de número, entre um infinito e um nada de movimento, entre um infinito e um nada de tempo. Sobre o que pode-se aprender a se estimar o seu justo preço, e formar as reflexões que valem mais que todo o resto da geometria (PASCAL, 1963, p.354 a e 355b).

As lições de geometria ensinam a nossa condição: somos situados pela dupla infinitude das coisas, a qual nos coloca sempre no meio (milieu) das coisas. Nesta situação, não há meios de o homem se isolar e, nesta solidão, estabelecer um conhecimento objetivo sobre a Natureza. Qualquer referência que o homem toma se desloca constantemente sem jamais se deter. O próprio homem é um referencial móvel: “[...] nada em relação ao todo, tudo com relação ao nada” (B.72; L.199).
Na Natureza, o homem não se encontra somente nessa situação de meio (milieu) entre o todo e o nada. Pascal acrescenta uma outra situação de meio: meio entre meios.
Nossos sentidos não percebem os extremos: um ruído demasiado forte ensurdece-nos, demasiada luz nos ofusca, demasiada distância ou demasiada proximidade impedem-nos de ver, demasiada longitude ou demasiada concisão do discurso obscurece-nos, demasiada verdade nos assombra (...), demasiado prazer nos incomoda, demasiada consonância aborrece na música, benefícios demais irritam, (...). Não sentimos nem o extremo calor, nem o frio extremo; as qualidades excessivas são nossas inimigas, não são sensíveis; não as sentimos, sofremo-las. Demasiada juventude ou demasiada velhice tolhem o espírito, bem como demasiada ou insuficiente instrução.
(B.72; L.199).

Se o corpo é o foco da situação do homem entre o todo e o nada; e isso para mostrar a nossa desproporção com relação ao duplo infinito, nesta, o foco são os sentidos: eles não atingem os extremos. É nos interditado sentirmos tudo o que é em demasia. Há muito e muito pouco de ser em nós para nos situarmos nos extremos. Pascal mostra assim a desproporção dos nossos sentidos em relação às coisas extremas. Estas passam como se não existissem para nós e nós não existimos com relação a elas: “[...] elas nos escapam e nós a elas” (B.72; L.199). Disso decorre que o único conhecimento que se pode ter das coisas é um conhecimento mediano.

O conhecimento das coisas é somente um conhecimento do meio (milieu), isto é, um conhecimento das aparências das coisas. Sem assinalar nenhuma referência para o conhecimento, Pascal o lança nas flutuações incessantes das aparências.

A ausência de uma referência para o conhecimento resulta da própria situação do homem como um ser do meio. Não somente como um meio entre o nada e o todo, meio entre meios, mas também como um meio que, na expressão de Catherine Chevalley, pode ser chamado de “interação generalizada” (CHEVALLEY, 1995, p.40).
O homem está em relação com tudo o que conhece. Tem necessidade de espaço que o contenha, de tempo para durar, de movimento para viver, de elementos e calor que o nutram, de ar para respirar; vê a luz, percebe os corpos, enfim tudo se alia a ele próprio. Para conhecer o homem, portanto, mister se faz saber de onde vem o fato de precisar de ar para subsistir; e para conhecer o ar é necessário compreender donde provém essa sua relação com a vida do homem, etc. A chama não subsiste sem o ar; o conhecimento de uma coisa liga-se, pois, ao conhecimento de outra. E como todas as coisas são causadoras e causadas, auxiliadoras e auxiliadas, mediatas e imediatas, e todas se acham presas por um laço natural e insensível que une as mais afastadas e diferentes, estimo impossível conhecer as partes sem conhecer o todo, bem como conhecer o todo sem entender particularmente as partes(B.72; L.199).

O verdadeiro conhecimento da Natureza deveria ser o conhecimento do todo, uma vez que as coisas “[...] mais afastadas e diferentes estão presas por um vínculo natural” (B.72; L.199). Mas esse conhecimento perfeito é impossível ao homem. Como um ser do meio; e devido a não fixidez desse meio, o homem não pode ter um conhecimento certo das coisas, nem mesmo um conhecimento certo de si como uma totalidade biológica, posto estar em relação a tudo o que o circunda e que ele desconhece.

No fragmento B.115; L.65 dos Pensamentos Pascal desenvolve uma reflexão sobre o homem como uma totalidade biológica: “[...] o homem é uma substância (suppôt); mas, se o anatomizarmos [...]”. Louis Marin aponta dois sentidos em que Pascal toma o termo substância (MARIN, 1975, p.126-127). 

Em primeiro lugar o termo substância significa: sujeito, fundamento, mas também como membro de um corpo que preenche certas funções para o serviço desse corpo. Assim, o termo substância (suppôt) é empregado como totalidade (sujeito) e como parte da substância que a representa em suas funções. “O homem é uma substância” (B.115; L.65). Pascal formula assim a totalidade. “Mas se o anatomizarmos, será ele a cabeça, o coração, as veias, o estômago, cada veia, cada porção da veia, o sangue, cada humor do sangue?” (B.115; L.65) A anatomização da substância (totalidade), o trabalho de desmembramento do corpo faz com que se encontre o todo em cada uma de suas partes. O que é o homem então? A cabeça, o coração, uma gota de sangue? Cada parte contém o todo, pois sem cabeça, sem coração, sem veias, sem mesmo um humor de sangue, o homem não é mais uma substância. Com efeito, o homem como substância, totalidade biológica esconde a própria diversidade que o compõe. Pois, se o todo se encontra, de algum modo, na cabeça, no coração, no sangue, para conhecer essa totalidade é preciso uma análise infinita, uma anatomização em suas mais diversas partes, uma “[...] anatomização interminável” (MARIN,1975, p.128). Esta anatomização interminável torna impossível compor a máquina humana como propõe Descartes.

Essa mesma aparência de totalidade que o corpo humano oferece à visão e, com isso, encobre a diversidade que o compõe, encontra-se nos termos cidade e campo: “[...] uma cidade, um campo, de longe, são uma cidade e um campo” (B.115; L.65). O termo “cidade” e
“campo” são tomados como uma totalidade. “Mas à medida que nos aproximamos, são casas, árvores, telhas, folhas, mato, formigas, pernas de formigas, ao infinito. Tudo isso é abrangido sob o nome de campo” (B.115; L.65). É preciso notar aqui a mudança de referencial que opera Pascal. Com a expressão: de longe, ele está no domínio da geometria projetiva que toma um ponto como se fosse um espaço. O olho situado fora leva a tomar “uma cidade, “um campo” e o “homem” (“totalidade biológica”) na horizontalidade. Com a expressão à medida que nos aproximamos, Pascal está no domínio da geometria euclidiana em que o espaço abarca o ponto, a análise desse ponto é então infinita.

Como na palavra campo encontra-se incluída tudo o que o compõe, para conhecê-lo verdadeiramente é necessário conhecer tudo o que o constitui. Este conhecimento é impossível, pois a análise da diversidade que constitui um campo, assim como a anatomização do corpo humano, é interminável. Cidade, campo, de longe, nos apresentam, assim como o corpo humano, a aparência de uma totalidade escondendo as infinitas partes que a compõe, mas à medida que nos aproximamos, isto é, adentramos as pequenas partes que compõem “um campo”, “uma cidade” aquela totalidade é dissolvida. O termo “cidade”, “campo”, oferecendo-nos a aparência de uma totalidade, esconde a nossa própria ignorância: não conseguimos penetrar as infinitas partes que compõem essa totalidade. A razão geométrica mostra-se incapaz de conhecer o todo, isto é, de encontrar o laço natural que une todas as coisas diversas e distantes da Natureza.

A crítica ao discurso filosófico-científico presente naquele fragmento alia-se ao limite do conhecimento presente no fragmento (B.72; L.199), pois sendo a Natureza duplamente infinita e o homem um ser do meio, todo o discurso sobre a Natureza e sobre o homem só pode ser um discurso parcial. Parcial porque, como meio entre o nada e o tudo, ao homem é interditado o conhecimento dos primeiros princípios, primeiras causas: “[...] como uma mesma causa pode produzir vários efeitos diferentes, um mesmo efeito pode ser produzido por várias causas diferentes” (PASCAL, 1963, p.202b). Como meio entre meios, ao homem somente é possível um conhecimento aparente das coisas. Como uma interação generalizada, o conhecimento verdadeiro da Natureza e de si próprio deve ser o do todo e de suas partes. Mas é possível um conhecimento verdadeiro das coisas?

A introdução do infinito na Natureza resulta na descoberta da “[...] incomunicabilidade entre o espírito e as coisas” (MARIN, 1975, p.17-18). Como meio entre os dois extremos, sem poder conhecer as primeiras causas, a razão é incapaz de desvelar as coisas, pois estas, as mais afastadas e diferentes, estão ligadas por um vínculo natural. “Limitado em tudo, esse termo médio (o homem) entre dois extremos encontra-se em todas as nossas forças” (B.72; L.199). Assim, embora Pascal assinale que o verdadeiro conhecimento da Natureza deva ser o do todo e de suas partes, o único conhecimento possível ao homem é aquele das coisas tais como elas nos aparecem, ou seja, perceber alguma aparência do meio das coisas.

A incomunicabilidade entre o espírito e as coisas: o que impede o verdadeiro conhecimento da Natureza, não decorre somente da situação humana em uma Natureza duplamente infinita, decorre também do fato de o homem ser um ser composto.

COGNITIO-ESTUDOS: Revista Eletrônica de Filosofia
São Paulo, Volume 5, Número 2, julho - dezembro, 2008, p. 178-189
Centro de Estudos do Pragmatismo – Programa de Estudos Pós-Graduados em Filosofia - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo


Disponível em <http://www.pucsp.br/pos/filosofia/Pragmatismo>

quinta-feira, 10 de abril de 2014

O homem no universo: possibilidades e limites

Numa visão global do pensamento pascaliano, nota-se que o homem ocupa um  lugar central. Desse problema, primeiro emanam todas as considerações restantes a serem feitas. Carregando em seu ser a tragicidade do paradoxo, sua ação e estado na natureza sofrem, por essa sua característica, algumas influências, por isso, ao elaborar sua teoria do conhecimento, Pascal atribui grande importância à pergunta “quem é o homem?”:

Que o homem, tendo voltado a si, considere o que é em relação ao que existe; que se considere perdido nesse cantão desviado da natureza; e que, desse pequeno cárcere em que se acha instalado, e entendo o universo, aprenda a estimar a terra, os remos, as cidades e a si mesmo segundo o seu justo valor (PASCAL, 1995, p. 142).

Referindo-se aos conhecimentos naturais, o autor reconhece que em extensão, o universo muito supera o homem. Esse “homem não passa de um caniço, o mais fraco da natureza” (PASCAL, 1995, p. 154). Além disso, Pascal têm consciência de que a natureza é muito mais do que apresenta a sua aparência física: “quando se é instruído, compreende-se que a natureza, tendo gravado a sua imagem e a do seu autor em todas as coisas, estas têm quase a sua dupla infinidade” (PASCAL, 1995, p. 143).

Por dupla infinidade, o autor entende os dois extremos da natureza: o infinitamente grande e o infinitamente pequeno. Diante desses infinitos, Pascal procura compreender qual a relação de proporcionalidade existente entre o homem e a natureza. Nessa pesquisa, o filósofo conclui que, na natureza, o homem é

[...] um nada em relação ao infinito, tudo em relação ao nada: um meio entre nada e tudo. Infinitamente afastado de compreender os extremos, o fim das coisas e o seu princípio estão para ele invencivelmente ocultos num segredo impenetrável; igualmente incapaz de ver o nada de onde foi tirado e o infinito que o absorve (PASCAL, 1995, p. 143).

Essa conclusão apresentada pelo autor parece contraditória, mas, segundo Parraz, torna-se compreensível, já que partindo do universo “como referencial para ver o homem, este se torna um nada e, utilizando-se do homem como referencial para ver o infinito em pequenez, ele se torna um todo” (2008, p. 186).
Em suma, a reflexão pascaliana nos apresenta uma “ausência de proporção, isto é, a não igualdade de relações entre o sujeito e a "realidade das coisas” (PARRAZ, 2008, p. 179). Há uma desproporcionalidade do homem com o objeto de seu conhecimento, a natureza, expressa nessa situação mediana em que ele se encontra.

Quando considero a pequena duração de minha vida absorvida na eternidade precedente e seguinte, memoria hospitis unius diei proetereuntis [Na memória do hóspede do dia precedente], o pequeno espaço que encho, e mesmo que vejo abismado na infinita imensidade dos espaços que ignoro, e que tu ignoras, espanto-me e assombro-me ao ver aqui antes que lá, pois não havia razão por que aqui antes que lá, por que agora antes que então! Quem me pôs aqui? Por ordem e conduta de quem este lugar e este tempo me foram destinados? (PASCAL, 1995, p. 149).

Toda essa colocação sobre a situação do homem no universo propõe uma pergunta intrigante: a este homem, que é possível conhecer? A tal questionamento, Pascal responde que “conhecemos, pois, o nosso alcance; somos alguma coisa e não somos tudo” (1995, p. 144).

Sendo a Natureza duplamente infinita e o homem um ser do meio, todo o discurso sobre a Natureza e sobre o homem só pode ser um discurso parcial. Parcial porque, como meio entre o nada e o tudo, ao homem é interditado o conhecimento dos primeiros princípios, primeiras causas: ‘*...+ como uma mesma causa pode produzir vários efeitos diferentes, um mesmo efeito pode ser produzido por várias causas diferentes’ (PASCAL, Oeuvres Completes). Como meio entre meios, ao homem somente é possível um conhecimento aparente das coisas. Como uma interação generalizada, o conhecimento verdadeiro da Natureza e de si próprio deve ser o do todo e de suas partes (PARRAZ, 2008, p. 185).

Essa parcialidade indica limites, não impossibilidade de verdade à capacidade cognitiva humana. Segundo Atali, Pascal

Acha que o mundo é um caos por decifrar, um código a desvendar. Entendeu [que] existem leis dessa desordem, leis do acaso, e que estas nem sempre são lógicas, mas que é possível abordá-las estudando um grande número de casos. Pois compreendeu que há uma ordem no caos do acaso. [...] Compreendeu que o cálculo das probabilidades é o cálculo das ocorrências de um acontecimento particular sobre um número infinito de casos. Daí conclui que existe um elo entre o acaso e o infinito (ATALI Apud SANTOS, 2011, p. 3).

Por isso, Pascal pode assegurar que “toda dignidade do homem está no pensamento” (1995, p. 154) e que por essa capacidade ele se destaca no universo pois acredita que o conhecimento objetivo e demonstrativo da ciência proporciona alcançar muitas verdades objetivas, o próprio Pascal descobriu muitas dessas em seus estudos de física, matemática e geometria, no entanto, na filosofia pascaliana, presencia-se uma dialética que aponta para “+ a insuficiência da razão [o Espírito de geometria] no empenho de buscar um horizonte último que dê sentido a todas as coisas” (SPENGLER, 2004, p. 37) abrindo espaço para uma segunda dimensão do espírito, que autor denomina espírito de finesse, que orientado pelos sentimentos, pelo coração, busca responder os problemas existenciais humanos
.
A dialética pascaliana mostra que alguns princípios, dentre eles Deus, não podem ser tocados pela razão demonstrativa – o espírito de Geometria – mas podem ser sentidos pelo coração. A própria condição do homem só pode ser conhecida pelo espírito de finesse: “não se é miserável sem sentimento. Uma casa em ruínas não o é. Só o homem é miserável” (PASCAL, 1995, p. 153).

Desse modo, [...] a razão adquire assim uma posição particular: de um lado, se empenha na reflexão para a formulação das definições, distinções e organização dos dados recolhidos a partir da experiência externa e científica; do outro lado, pode também ser constantemente despertada para acolher, a partir desta compreensão da finesse, a possibilidade de vislumbrar dimensões novas, de onde a experiência existencial lhe concede sempre de novo a possibilidade de investigar (SPENGLER, 2010, p. 69).

Relembrando o grau de importância que a existência humana possui em Pascal, compreende-se que a pesquisa racional, por si só, torna-se estranha ao homem não lhe alcançando significado. O avanço das verdades científicas não basta, pois “isto não é suficiente para proporcionar ao homem o consolo e a edificação que seu estado o conduz a procurar” (SPENGLER, 2004, p. 35).

Em síntese, afirma Pascal nos Pensamentos,  
[...] vagamos num meio vasto, sempre incertos e flutuantes, impelidos de uma extremidade a outra. Algum termo em que pensássemos ligar-nos e firmar-nos, abala e nos abandona; e, se o seguimos, ele escapa à nossa captura, escorrega-nos e foge com uma fuga eterna. Nada se detém para nós. É o estado que nos é natural e  todavia, o mais contrário à nossa inclinação: queimamos de desejo de  achar assento firme e uma última base constante para nela edificar  uma torre que se eleve ao infinito; mas, todo o nosso fundamento estala e a terra se abre até aos abismos. (1995, p. 145)

No fim, o homem se encontra novamente num paradoxo. Temos a razão, mas não podemos tudo conhecer nem encontrar segurança na natureza. Portanto, a verdadeira reflexão conduz-nos a nossa miséria, nossa insuficiência diante de Deus e do infinito. Não podemos dispor de segurança e firmeza, nem em nossa razão – já que ela “*...+ está sempre caída pela inconstância das aparências; nada pode fixar o finito entre os infinitos que a encerram e a evitam” (PASCAL, 1995, p. 145) – nem na natureza, haja vista a situação de pequenez da condição humana no seu frágil vagar mediano entre os infinitos, sempre incerto e flutuante. Considerando sua situação na natureza, pode-se inferir o estado de angústia em que se encontra o homem.

FONTE: http://revistapandorabrasil.com/revista_pandora/filosofia_34/jandir.pdf
http://www.youtube.com/watch?v=6IgtwxesIwQ