TRECHO
DO LIVRO:
“[...] A
insuficiência se revela, portanto, como um conceito que, ao mesmo tempo que
indica a raíz teológica do homem como ser concebido para o Sobrenatural –
princípio que recusa a natureza como conceito que dê conta do homem porque não
aceita a posição ‘naturalista’ que exclui a ‘sobrenatureza’ enquanto premissa
estrutural e dinâmica –, e assim nega a suficiência natural como realidade
válida para o homem, é também vivido como miséria a partir do instante em que o
homem abandona essa condição de insuficiência diante do mistério (insuficiência
mística) pelo projeto de suficiência ‘humanista-naturalista’: trajeto
conceitual da queda.
Na
origem da antropologia pascaliana, a insuficiência representa essencialmente a
idéia de que o conceito de natureza suficiente é inconsistente para iluminar a
realidade humana. É por isso que, quando tomado como natureza, o omem se
revela desordenado.
Quando
condenado a viver como se fora um ser de natureza, após a queda, revela-se
insuficiente empiricamente: o homem como um agrupamento de componentes e
funções não faz sistema, pois tais componentes e funções não se integram
fundando uma ordem — natureza disjuntiva. Essa ausência de sistema é a raiz da
insuficiência como miséria.
A
manifestação empírica dessa insuficiência como ausência de sistema é a
diversidade da miséria no homem exterior. Resumindo: o homem é um ser que,
quando exilado do Sobrenatural, seu caráter místico-teológico insuficiente —
ele não é um ser de natureza –, se degenera na multiplicidade da miséria. O que
o homem interior viveria como mistério divino no exterior degenera em miséria
humana.