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terça-feira, 23 de outubro de 2012

PASCAL E KIERKEGAARD


Dois filósofos bastante curiosos são Pascal e Kierkegaard, o primeiro viveu no século XVII e o segundo viveu no século XIX. Ambos eram religiosos e mesclaram em suas obras razão e fé.

Embora tenham vivido em épocas diferentes há traços bem semelhantes entre os dois. Pascal, inicialmente como físico e matemático estava acostumado a olhar o mundo sob as lentes da razão, no entanto, em algum momento viu que a razão não dava conta da complexidade da vida e do mundo. Assim, a razão em Pascal perde seu posto de supremacia e este passa a estudar teologia, vendo na fé o elemento para o homem “sentir” o mundo e a vida. Nesse sentido, Pascal sacrifica a Matemática e a Física em nome de Deus.

Já Kierkegaard, considerado o “pai do Existencialismo”, admite a razão, no entanto, para o filósofo o mundo só é conhecido ao sujeito, isto é, o mundo é subjetivo – daí sua frase “Sinto, logo sou”, que carrega ainda uma certa ironia ao cartesianismo. Assim, dois sujeitos vêem a vida e o mundo de diferentes pontos de vista e nenhum dos dois têm “razão” para dizer que o mundo do outro é “errado”, pois este só se revela à subjetividade. Kierkegaard, assim como Pascal, também vê a razão como incapaz de dar conta de explicar o mundo e a vida, para ele o homem existente era um ser de angústia, e que esta era um “sinal” de que sua identidade só se completaria se obtivesse uma ligação com o transcendente: Deus.

Vale citar que tanto Pascal como Kierkegaard não negam a razão, reconhecem sua importância para o homem, no entanto , vão ao contra aquele sentido socrático – e depois ganha força com o Iluminismo – que a racionalidade  assume como elemento supremo e infalível para o homem desvendar o mundo e sua existência. Essa razão coloca os instintos e o “sentir” do homem como falhos e incapazes de revelar a “verdade”, de tal forma que o homem, assim mutilado, vive em função de sua própria criação – o mundo racional -, tornando-se prisioneiro de si mesmo.

Tanto Pascal como Kierkegaard reconheciam a existência de Deus e Jesus Cristo, no entanto, nenhum dos dois era adepto de uma religião sistematizada em uma instituição. Pelo contrário, ambos faziam fortes críticas à religião enquanto instituição, na medida em que o viam como sistemas onde a razão e a hipocrisia dominavam deturpando os verdadeiros valores de Cristo. Nesse sentido, para ambos, a religião era antes uma questão de relação de fé pessoal com Deus.

domingo, 21 de outubro de 2012

Blaise Pascal e Friedrich Nietzsche



A figura de Blaise Pascal (1623-1662), matemático, filósofo moralista e teólogo francês, importante representante moderno do cristianismo, sempre provocou em Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844-1900), influente filósofo alemão do século XIX, uma dupla reação. Abundam na obra de Nietzsche referências respeitosas ao “gênio” de Pascal enquanto filósofo, porém, Nietzsche não hesita em criticar Pascal, quando o assunto gira em torno da moral e da religião cristã.

Pascal viveu numa época em que a fé cristã tinha como pano de fundo o racionalismo e o ceticismo, o que representava para Nietzsche o expoente religioso da negação metafísica do mundo.  Na obra Aurora (1881), Nietzsche critica explicitamente a moral cristã, e Pascal aparece como um exemplo mórbido de como um intelecto brilhante se deixou seduzir pela visão cristã do mundo. Tal lamento nietzschiano encontra a sua expressão mais clara na passagem de Além do Bem e do Mal (1886), em que descreve a “fé de Pascal” como um “contínuo suicídio da razão” e um “sacrifício do intelecto”.

Paradoxalmente, em Ecce Homo (1888), Nietzsche reúne na mesma afirmação admiração e crítica, ao declarar “amar” Pascal como “a mais instrutiva vítima do cristianismo, lentamente assassinado”. Como se vê, Pascal é encarado por Nietzsche de uma forma ambivalente.

Tanto Pascal quanto Nietzsche são mestres da expressão concentrada e fragmentária. Pascal o declara na célebre passagem dos Pensées, 373 intitulada Pirronismo: “Escreverei aqui meus pensamentos sem ordem, não em uma confusão sem objetivo: esta é a verdadeira ordem...” Nietzsche, é o grande mestre alemão do aforismo. Ambos  possuem em comum várias posições filosóficas, como:
1) o combate ao otimismo superficial e ao racionalismo de sua época.
2) uma certa concepção – diferente mas às vezes coincidente – do ceticismo.
3) a eleição do “perspectivismo” como forma necessária do conhecimento humano
e da formação de valores.

Pascal e Nietzsche compartilham uma insatisfação essencial com relação à condição humana atual. Porém, ambos buscam um ideal de perfeição superior à existência meramente biológica. Então o cristianismo trágico de Pascal e a filosofia trágica e anticristã de Nietzsche mantêm algo mais do que uma mera relação de exclusão recíproca.

É interessante observar que, tanto um com outro ganham importância, para a filosofia moderna e contemporânea, quando confrontados com a questão da moderna da crise religiosa: o “pessimismo” do “eu odioso” pascaliano e a “crítica” do “niilismo” em Nietzsche se encontram na visão de um homem “estranho a si mesmo” presente nas interrogações contemporâneas sobre a essência do homem.

Estudar Pascal e Nietzsche é muito mais do que apresentar um conflito entre ateísmo e cristianismo, é talvez, tentar mostrar que o ateísmo de Nietzsche pode incluir uma relação ambivalente com aquele que foi criticado por Voltaire.

A partir do artigo de  José Thomaz Brum  professor do Curso de Especialização em História da Arte da  (PUC-RIO).  http://www.fflch.usp.br/df/gen/pdf/cn_08_02.pdf


sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Fé e Razão (fragmentos)


“A fé e a razão são como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade (…)” (João Paulo II).

A última tentativa da razão [é descobrir] que há uma infinidade de coisas que a ultrapassam. Revelar-se-á fraca se não reconhecer isto. É preciso saber duvidar aonde é preciso, afirmar aonde é preciso. Quem não faz assim não entende a força da razão (PASCAL, 1999, p. 55).

(…) Humilha-vos, razão impotente, calai-vos, natureza imbecil; aprendei que o homem ultrapassa infinitamente o homem, e ouvi do senhor a vossa condição verdadeira, que ignorais. Escutai a Deus (PASCAL, 1999, p.60).

O último passo da razão é reconhecer a existência de uma infinidade de coisas que a ultrapassam. (Blaise Pascal)


O poder dos reis funda-se na razão e na loucura do povo; muito mais, porém, na loucura. (Blaise Pascal)

"O temor saudável provem da fé - o temor errôneo provem da dúvida."

(Blaise Pascal)