Dois filósofos bastante
curiosos são Pascal e Kierkegaard, o primeiro viveu no século
XVII e o segundo viveu no século XIX. Ambos eram religiosos e mesclaram em suas obras razão e fé.
Embora tenham vivido em
épocas diferentes há traços bem semelhantes entre os dois. Pascal, inicialmente
como físico e matemático estava acostumado a olhar o mundo sob as lentes da
razão, no entanto, em algum momento viu que a razão não dava conta da
complexidade da vida e
do mundo. Assim, a razão em Pascal perde seu posto de supremacia e este passa a
estudar teologia, vendo na fé o elemento para o homem “sentir” o mundo e a
vida. Nesse sentido, Pascal sacrifica a Matemática e a Física em nome de Deus.
Já Kierkegaard,
considerado o “pai do Existencialismo”, admite a razão, no entanto, para o
filósofo o mundo só é conhecido ao sujeito, isto é, o mundo é subjetivo – daí
sua frase “Sinto, logo sou”, que carrega ainda uma certa ironia ao
cartesianismo. Assim, dois sujeitos vêem a vida e o mundo de diferentes pontos
de vista e nenhum dos dois têm “razão” para dizer que o mundo do outro é
“errado”, pois este só se revela à subjetividade. Kierkegaard, assim como
Pascal, também vê a razão como incapaz de dar conta de explicar o mundo e a
vida, para ele o homem existente era um ser de angústia, e
que esta era um “sinal” de que sua identidade só se completaria se
obtivesse uma ligação com o transcendente: Deus.
Vale citar que tanto
Pascal como Kierkegaard não negam a razão, reconhecem sua importância para o
homem, no entanto , vão ao contra aquele sentido socrático – e depois ganha
força com o Iluminismo – que a racionalidade
assume como elemento supremo e infalível para o homem desvendar o mundo
e sua existência. Essa razão coloca os instintos e o “sentir” do homem como
falhos e incapazes de revelar a “verdade”, de tal forma que o homem, assim
mutilado, vive em função de sua própria criação – o mundo racional -,
tornando-se prisioneiro de si mesmo.
Tanto Pascal como Kierkegaard
reconheciam a existência de Deus e Jesus Cristo, no entanto, nenhum dos dois
era adepto de uma religião sistematizada em uma instituição. Pelo contrário,
ambos faziam fortes críticas à religião enquanto instituição, na medida em que
o viam como sistemas onde a razão e a hipocrisia dominavam deturpando os
verdadeiros valores de Cristo. Nesse sentido, para ambos, a religião era antes
uma questão de relação de fé pessoal com Deus.