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quinta-feira, 24 de julho de 2014

Discussões filosófico-teológicas a respeito do Pecado Original


O objetivo deste texto é relatar de forma objetiva, a visão de vários pensadores sobre o aspecto histórico da expressão “Pecado Original” e suas consequências para a teologia cristã.

O Pecado.
Para melhor conhecimento ou interação do tema, precisamos perceber a forma como o ‘pecado’ era visto pelo mundo cristão e suas implicações. Santo Agostinho definiu pecado como: “O que é dito, feito ou desejado contra a lei eterna, entendendo como lei eterna a vontade divina cujo fim é conservar a ordem no mundo e fazer o homem desejar cada vez mais o bem maior e cada vez menos o bem menor”. Tomaz de Aquino e Kant concordam com Santo Agostinho e acrescentam: “que pecado é a transgressão da Lei Moral vista como um mandamento divino.” Santo Agostinho conclui: “que o pecado deliberado do primeiro homem foi a causa principal da originalidade do pecado no mundo, isto caracterizou a mancha com a qual todos nós nascemos com ela

Pecado “... é a transgressão da lei” (1Jo 3:4), transgressão consciente ou não dos princípios divinos. No caso de Adão e Eva, a única proibição conhecida era de que “... da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás”. (Gn 2:17) Essa proibição, era a prova de lealdade entre criatura e Criador. Nossos primeiros pais pecaram, pois, “O SENHOR Deus, por isso, o lançou fora do jardim do Éden, a fim de lavrar a terra de que fora tomado”.(Gn 3:23) E o apóstolo Paulo afirma: “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram”. (Rm 5:12).

Embora o pecado já estivesse presente no universo antes da queda de Adão e Eva, evidenciado pela presença do tentador no Jardim do Éden, o que nos prende a atenção é o pecado dos nossos primeiros pais e como este pecado foi transmitido aos seus descendentes. O pecado de Adão afetou muito mais do que ele próprio. Como diz Santo Agostinho “o pecado deliberado pelo primeiro homem foi a causa do Pecado Original e que a mancha hereditária foi transmitida como conseqüência desse pecado”.

A Doutrina do Pecado Original
Stanley Horton afirma que “esta questão é chamada Pecado Original e postula três perguntas: Até que ponto, por quais meios e em que base o pecado de Adão é transmitido ao restante da humanidade?” E de acordo com Ellen White,“O pecado provocou terrível separação entre Deus e o homem”. Emanuel Kant, por sua vez, define o pecado como uma fraqueza inerente à natureza humana, sem se envolver em interpretações históricas.

Conceito judaico: A definição de Pecado Original no conceito judaico está mais ligada à idade em que a manifestação da natureza má se percebe em uma pessoa.

As discussões filosófico-teológicas a respeito do Pecado Original geralmente tiveram como objeto a maneira como esse Pecado se transmitiu de Adão aos outros homens, e não o pecado em si ou sua natureza. E este tema tem sido exposto na história do cristianismo como: “estado de culpa”. Há uma corrupção física da raça humana, corrupção derivada de Adão, mas esta não constitui pecado e não envolve culpa.

Tomaz de Aquino enumerava duas hipóteses principais, aduzidas para a solução deste problema: “a hipótese do Traducianismo, segundo a qual a alma racional transmite-se com a semente, de tal maneira que de uma alma infecta derivam almas infectas”; e a hipótese da hereditariedade, segundo a qual “a culpa da alma do primeiro genitor transmite-se à prole, embora a alma não se transmita do mesmo modo com os defeitos do corpo se transmitem de pai para filho”.

Ao referir-se ao agnosticismo, Stanley diz que “qualquer assertiva quanto à pecaminosidade que vai além de uma conexão entre Adão e a raça humana é considerada especulação filosófica”; Pelágio ensinava “que a justiça de Deus não permitiria a transferência do pecado de Adão a outras pessoas e que, portanto, todas as pessoas nascem sem pecado e livre arbítrio. Para ele os indivíduos nascem com a mesma natureza de Adão antes da queda. O pecado é disseminado pelo mau exemplo”. Para ele, “a morte de Cristo é reduzida a um bom exemplo”.

Santo Agostinho, em oposição a Pelágio, defendeu a ideia de que o pecado de Adão transmite a sua responsabilidade a todos os homens e os faz culpáveis. Seus argumentos eram dois: Adão é o pai físico de toda a raça humana, os homens são pecadores por haverem herdado o pecado como descendentes deste primeiro pai pecador; e Adão era o representante de toda raça humana. Em consequência todos os homens são pecadores em Adão.

Tomás de Aquino sustentava que o Pecado Original, considerado em seu elemento material é concupiscência, mas em seu elemento formal é a privação da justiça original. “O Pecado Original é descrito como um amolecimento da natureza”. Já Calvino diferia de Santo Agostinho em dois pontos: acentuava o fato de que o pecado não é uma coisa puramente negativa e que não se limita à natureza sensorial e emocional do homem, mas, está difuso em todas as partes da ‘alma’. O que nos torna sujeitos a ira divina.

Semi-pelagianismo: contrários ao pensamento agostiniano de que a natureza do homem, tanto física como moral, é totalmente corrompida pelo pecado de Adão de modo que ele não pode deixar de pecar, admitia que a raça humana toda está envolvida na queda de Adão, mas negava a depravação total do homem, a culpa do Pecado Original e a perda da liberdade da vontade. Sobrou o livre arbítrio suficiente para a iniciativa de ter fé em Deus, e então Ele corresponderá.
Tertuliano introduziu na igreja latina a tendência de que a propagação da alma envolve a propagação do pecado. E Ambrósio foi além de Tertuliano ao considerar o Pecado Original como um estado, distinguindo entre a corrupção inata e a resultante culpa do homem.

Transmissão natural ou genética: Sustenta que a transmissão da natureza corrupta baseia-se na herança. “Por certo que as características espirituais são transmitidas da mesma forma que as naturais”. Recebem a natureza corrompida, mas não a culpa.

Imputação Mediada: Entende que Deus imputou culpa aos homens por meios indiretos ou mediados. Citando Placeu (1596 – 1655) Stanley Horton afirma que o pecado de Adão o fez culpado, e, como castigo, Deus corrompeu-lhe a natureza. Embora os descendentes não sejam culpados pelo pecado de Adão, mesmo assim receberam as consequências de seu pecado.

Realismo: O tecido da alma de todas as pessoas estavam realmente e pessoalmente em Adão, participando de fato no seu pecado. Cada uma pecou.
Os evolucionistas acreditam que o pecado é um resquício natural da anterior natureza animalesca do homem. Para Santo Agostinho a corrupção era transmitida pelo ato sexual. Assim conseguia manter Cristo livre do Pecado Original, porque Ele nasceu de uma virgem.

Wayne Grudem, em seu livro, Teologia Sistemática, 1999, p 405 define da seguinte maneira a questão do Pecado Original:
Primeiro: o seu pecado atingiu a base do conhecimento, porquanto Eva deu uma resposta diferente à pergunta: ‘o que é verdadeiro?’ mas Eva decidiu duvidar da veracidade da Palavra de Deus, então fez uma experiência para ver se Deus falava a verdade.
Segundo: seu pecado atingiu a base dos parâmetros morais, pois ela também deu uma resposta diferente à pergunta: ‘o que é certo?’ Deus dissera que era moralmente certo que Adão não comesse o fruto daquela única árvore. Mas a serpente sugeriu que seria certo comer porquanto eles se tornariam ‘como Deus’ (Gn. 3:5).
Terceiro: Seu pecado deu uma resposta diferente à pergunta: ‘quem sou eu?’. E na sua insensata desobediência Adão e Eva sucumbiram à tentação de ser ‘como Deus’.

http://www.trabalhosfeitos.com/ensaios/Pecado-Original/157785.html